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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
À ESQUERDA, WLADEMIR DIAS-
PINO, BRASIL MEIA MEIA, REVISTA
PONTO 1, 1967. NO MEIO, NELSON
LEIRNER, DA SÉRIE ‘LINHA DURA
NÃO ... DURA’, 1978. À DIREITA,
CLAUDIO TOZZI, A PRISÃO, 1968.
relação de força entre campo criativo e forças como forma de resistência. “Com o decreto a opi-
autoritárias da época”, sintetiza Paulo Miyada, nião foi criminalizada”, afirma Miyada, para quem
idealizador e curador da mostra. Abrangendo essa geração ativa em meados dos anos 1960
um período amplo, que vai desde 1964, ano em representa o ponto de ápice e quebra de um projeto
que se deu o golpe, até 1980, quando se inicia estético altamente engajado. Dentre as obras deste
o processo de abertura, a mostra se divide em período estão a obra “Che Guevara Vivo ou Morto”,
diferentes núcleos temporais. de Claudio Tozzi, que foi destruída por militantes
Os quatro anos que antecedem o endurecimento de extrema direita no Salão de Brasília de 1967 (e
provocado pelo AI-5 são vistos por Miyada sob a posteriormente reconstruída pelo artista).
égide do conceito de “opinião”, que permeia uma A partir do fortalecimento da censura, em 1968,
série de iniciativas (exposições, show, teatro...) e algumas estratégias de escamoteamento foram
sintetiza o caminho viável. Num período em que sendo adotadas. Artistas como Cildo Meireles,
a ação político-partidária não era mais possível, Artur Barrio e Antonio Manuel passaram a incor-
restava a expressão das ideias e a noção de con- porar estratégias de guerrilha, como a infiltração
tracultura, de fortalecimento diante dos interditos, em outros sistemas, a clandestinidade, e uso da
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