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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO













           Mesmo provindo de gerações e regiões diferentes   Mesmo que uma certa elegância decorrente da
           do país, os três apresentam nos anos 1960 um   sensibilidade formal do construtivismo à brasileira
           resgate da figuração, do uso das imagens do coti-  seja mais evidente nas obras de Barros, Bandeira
           diano como forma de expressão e uma apropriação   faz questão de enfatizar como a trama geométrica
           crescente da linguagem gráfica (que todos exploram   e a aplicação de elementos formais organizadores
           em paralelo às poéticas plásticas), deixando de   do espaço da representação plástica estão tam-
           lado a busca pelo rigor geométrico-construtivo,   bém intensamente presentes nos trabalhos de
           hegemônico na década anterior. “Parece ter havido,   Antonio Dias (1944) e Rubens Gerchman (1942).
           sim, um esgotamento das poéticas construtivas afi-  Neste período, a produção de Dias debruça-se
           nadas com o projeto nacional-desenvolvimentista”,   sobre o corpo humano, que é recriado aos peda-
           explica o curador João Bandeira. A concepção da   ços, reconstruído em formas tridimensionais que
           mostra, que propositalmente amplia a reflexão   saltam das telas – em uma mescla de erotismo,
           para além do campo das artes visuais, enfatiza   escatologia e violência – e que em alguns momen-
           os passos dados por eles em direção a um tipo de   tos faz alusões diretas à brutalidade vivenciada
           representação de matriz mais expressionista, em   no período da ditadura, como por exemplo em
           que a deformação da figura humana assume uma   Carrasco, obra de 1966 na qual se vê, no canto,
           importância crescente.                       as pernas de um enforcado.
           É curioso notar ao longo da exposição –      Rubens Gerchman talvez seja, no trio, aquele que
           propositalmente idealizada como uma espécie   mais diretamente é associado à arte pop, pela
           de labirinto em que uma poética conduz à outra   apropriação que faz de elementos da cultura de
           –  o nexo existente entre as pesquisas parti-  massas, como demonstram dois de seus trabalhos
           culares e a inquietação mais geral. Segundo   icônicos, presentes na exposição: Lindonéia, a Gio-
           Bandeira, há no período entre a última expo-  conda dos Subúrbios e O Rei do Mal Gosto, ambas
           sição neoconcreta (1961) e a antológica mostra   de 1996. Mesmo assim, fica clara sua adesão ainda
           Nova Objetividade Brasileira (1967), que conta   à trama, à organização espacial decorrente de uma
           com a participação dos três artistas contempla-  forma racional, construtiva de pensar o espaço
           dos, uma consciência crescente de que o que   da representação.
           havia sido feito nos anos 1950 não se aplica-  Dentre as características que garantem uma certa
           ria mais aos interesses estéticos do momento.   aproximação a criadores com personalidades tão
           Do veterano Geraldo de Barros (1923-1998),   fortes estão a combinação entre uma organização
           a exposição traz um conjunto de obras pra-   estrutural da forma e uma figuração deformada,
           ticamente inéditas, nas quais há uma evi-    expressiva; a busca de uma arte mais conectada
           dente experimentação de novos caminhos. As   com o contexto social e político de sua época,
           formas construtivas dos anos 1950 dão lugar   incorporando elementos materiais e simbólicos do
           a  composições  figurativas,  como  flagrantes   momento e uma tendência a buscar um equilíbrio
           urbanos. O caráter serial, marca forte na obra   – mesmo que tênue – entre experiência formal
           de Barros, é indiscutível. Todas as pinturas têm   e um olhar arguto sobre a realidade. Bandeira
           a mesma dimensão, foram feitas em cima de    acrescenta outro aspecto unificador aos trabalhos
           material gráfico (dando a perceber aqui e ali a   desenvolvidos por eles nessa fértil e um tanto
           retícula publicitária) e utilizando as cores amarelo   abandonada década de transição: “os três têm
           e preto. “Entre uma tendência e outra, ele ficou   essa particularidade; têm algo de sinistro, violento
           com as duas”, brinca o curador.              depressivo e ao mesmo tempo vibrante”.


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