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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO






           REGISTROS DE UM PAÍS EM CONFLITO




           MOSTRA NO IMS REÚNE CENTENAS DE IMAGENS DA VIOLÊNCIA QUE CARACTERIZA A SOCIEDADE BRASILEIRA



           POR MARIA HIRSZMAN















           EM CARTAZ NO INSTITUTO MOREIRA SALLES até 29      da imagem fotográfica no país, desde as técnicas mais
           de julho, a mostra Conflitos: Fotografia e Violência Política   antigas, em prática no século XIX, até a utilização mas-
           no Brasil 1889-1964 é uma aula de fotografia, política e   siva das imagens pela imprensa, passando por momentos
           História. Negando de forma peremptória a tese oficialista   distintos como o uso recorrente do cartão postal e as
           de que o Brasil é uma nação pacífica, a exposição reúne um   primeiras experiências com a fotografia em movimento
           amplo conjunto de imagens captadas entre dois momentos-  (precursoras do cinema). Em todos os casos, com maior
           -chave: a proclamação da República, em 1889, e o Golpe   ou menor intensidade, fica evidente o uso político da
           Militar de 1964. A ideia de “mãe gentil” propalada pelo hino   imagem como arma de convencimento e testemunho.
           nacional e pelos livros escolares se desfaz rapidamente   Como lembra Heloisa Espada, curadora da exposição
           diante da sucessão de registros de conflitos, guerras civis,   e autora do catálogo juntamente com Angela Alonso,
           revoltas, insurreições e muita repressão liderada por um   “toda imagem realizada num conflito é interessada”.
           Estado violento nesse intervalo de 75 anos.       Em muitos casos, o que essas imagens registram não é a
           Como sintetiza a cientista política Angela Alonso, em   ação propriamente dita. Temos diante dos olhos o palco
           um dos textos introdutórios do alentado catálogo da   dos conflitos, seus atores e as marcas de destruição
           exposição, “os confrontos armados envolvendo governo   depois que a violência ocorreu, que sempre coloca de
           e Exército bordam nossa história com alta frequência   um lado o poder constituído e de outro os derrotados.
           e virulência”. Alguns dos conflitos representados são   Da primeira imagem, que registra um grupo que posa
           extremamente conhecidos, como a Guerra de Canudos, a   antes da degola de um inimigo na Revolução Federalista
           Revolução de 1930 e o suicídio de Getúlio Vargas. Outros   de 1894, ao registro final, que recorda a brutal repressão
           passam batido nos livros escolares, como a Revolução   e tortura à qual foi submetida o líder comunista Gregório
           de 1924, por exemplo. O mesmo ocorre com as imagens   Bezerra em 1964, surge um número amplíssimo de
           selecionadas. De autorias diversas (assinadas por mes-  questões, muitas delas tratadas detalhadamente por
           tres como Marc Ferrez ou por fotógrafos cuja identidade   um diversidade de ensaios reunidos no livro/catálogo. FOTO COLEÇÃO DIÁRIOS ASSOCIADOS – RIO DE JANEIRO/ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES
           se perdeu no tempo), essas imagens podem ser lidas de   Do ponto de vista do registro da imagem, é possível notar
           diferentes e enriquecedoras formas.               como a melhoria dos recursos técnicos permite uma
           Em conjunto, elas falam sobre a brutalidade de um   captura mais “realista” da cena. A pose dá lugar a uma
           país marcado pela violência, no qual “um povo que se   imagem capturada no calor da hora, como os registros
           insubordina e uma elite que não se civiliza” têm sua   feitos por Evandro Teixeira nas primeiras horas do golpe
           relação mediada sempre pelo conflito. Traçam também   militar (1964). Isso não se traduz necessariamente em
           um interessante painel sobre a diversidade e evolução   uma maior dramaticidade. Difícil superar o caráter trágico


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