Page 78 - ARTE!Brasileiros #42
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LIVROS
X-RANGE, UM POEMA
SOBRE O ESPAÇO
REEDIÇÃO DO LIVRO DE REGINA VATER, PUBLICADO EM 1977,
EM NOVA YORK. A ARTISTA MERGULHA NO ESPAÇO PARTICULAR
DE HÉLIO OITICICA, JOHN CAGE, LYGIA CLARK E VITO ACCONCI
POR LEONOR AMARANTE
OS ARTISTAS habitam formas culturais e sociais. Os
ateliês se convertem em fenômenos da memória e pro-
vocam reflexões sobre o espaço. Regina Vater é uma
das pioneiras da vídeo arte e instalações no Brasil, mas
se manifesta por meio da fotografia e da poesia visual
para criar X-Range, reedição do livro publicado em 1977,
em Nova York. A artista irrompe segredos por meio dos
objetos espalhados ou organizados no espaço domés-
tico de quatro artistas: Hélio Oiticica, John Cage, Lygia intervenções como rasgos, dobras ou pedaços de papel
Clark e Vito Acconci, todos seus amigos e, na época, colados com fita adesiva. Dos 30 exemplares editados
morando no exterior. em 1977, resta apenas um, guardado por ela. O poema
A artista toma o espaço “como um instrumento de aná- visual dedicado a Hélio Oiticica se transforma em per-
lise para a alma humana” como diz Gaston Bachelard, formance gráfica ao mostrar uma espécie de “ninho”,
conceito que tangência X-Range. Tudo casual, porque com a impressão do corpo de Regina, rasgado e colado
Vater criou o livro muito antes de ter lido o pensador sobre ele. A nova edição mantém a performance nos
francês. A artista carioca discute a poética do espaço 1.500 exemplares.
sobre as imagens desencadeadas a partir de diferentes Paralelamente à edição do livro, produzido pela Ikrek,
espaços. Busca a origem e chega a uma fenomenologia Regina realiza a retrospectiva Oxalá que dê Bom Tempo
da imaginação, ao visitar dezenas de casas de artistas, no MAC, de Niterói, com 70 obras, entre instalações,
ateliês e escolher entre eles quatro para compor esse desenhos, séries fotográficas e vídeos. O conjunto
livro de formato inusual, feito em papel craft. aborda temas ligados à mulher, corpo, natureza, com
Regina tenta encontrar a presença na ausência, assim curadoria de Pablo León de La Barra e Raphael Fonseca.
como em outros de seus trabalhos. “Ao longo de X-Range, O destaque fica para Tina América, de 1976, um dos
procuro registrar, de maneira poética, como um indivíduo trabalhos com forte referencial frente ao posiciona-
ou grupos de indivíduos lida com o espaço doméstico”. mento da mulher na sociedade. A mostra é um resgate
A artista não se prende a territórios e, onde quer que importante da obra de uma das artistas representativas
esteja, aborda o tempo e a temporalidade dos espaços da arte contemporânea brasileira.
como material poético. “O que me interessa é essa poesia
cotidiana que o ser humano imprime ao seu entorno por Oxalá que dê Bom Tempo
meio de gestos, exposição de seu modo de ser e viver”. Até 1 de abril
Cada artista visitado recebeu um poema criado pela MAC Niterói
Mirante da Boa Viagem, s/nº – Boa Viagem, Niterói, RJ
artista, com a impressão de partes de seu corpo e
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