Page 75 - ARTE!Brasileiros #42
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Conversamos com Katharina O projeto anterior, Episodio Museal,
Von Ruckteschell, diretora do tinha um objetivo claro: reunir direto-
Goethe Institut São Paulo e tam- res de museus e curadores para pensar
bém diretora regional da insti- novas práticas no mesmo eixo geográ-
tuição na América do Sul quem fico. Quais são os principais agentes
persegue, no seu trabalho, o que que vão tomar parte do projeto agora?
entende por vocação do Insti- E com que objetivo. Qual o campo que
tuto, a troca de conhecimento. se pretende emular dessa vez?
A “conferência” como a chama-
ARTE! Existe por parte do Goethe Institut um trabalho mos, tenta estimular e apoiar projetos de pesquisa,
enorme já desde Episódios do Sul, um projeto extre- arte ou literatura que abordam a questão do “Atlân-
mamente complexo que envolve três continentes, tico Sul”. “Atlântico Sul” representa uma relação
América do Sul e África historicamente colonizados entre continentes que no passado foi opressiva e
pela Europa. É fato que partimos de uma desigualdade. violenta, hoje é tensa e problemática e amanhã
Como é possível compensar essa disparidade em um poderia ser pior que no passado ou presente. Mas
evento como este. pode também ser muito melhor. O projeto “Episó-
A ideia do projeto “Ecos do Atlântico Sul” é dios do Sul”, incluindo o “Episódio Museal” tiveram
lançar um olhar para a relação triangular entre base na tese de que olhar as coisas a partir de
Europa, África e América do Sul/Caribe a partir diferentes perspectivas pode torna-las mais claras
de várias perspectivas. É claro que há uma e ajuda a encontrar novos caminhos para o futuro.
relação histórica. Desde o início, foi a Europa A “conferência” irá reunir essas diferentes pers-
que impôs a desigualdade e dependência nas pectivas e disciplinas e formatos a fim de discutir
relações entre os continentes no Norte e no a questão de como e em quais formatos avançare-
Sul, através da colonização. A escravidão e as mos de forma mais concreta. Uma discussão sobre
outras explorações econômicas aprofundaram diferentes narrativas da história da escravidão, por
a desiguladade e as dependências. Mesmo exemplo, pode evoluir para um projeto concreto
as independências políticas alcançadas em sobre reconciliação das vítimas. Eu espero que,
ambos os continentes não puderam até agora após a conferência, surjam diferentes ideias que
muda-las – até agora. O mundo e sua ordem possam vir a se tornar projetos.
mudam significativamente. O “Sul” começa
a se emancipar do “Norte”, fronteiras que se Espera-se alguma atividade prática a partir desse pro-
formaram consistentemente pela escravidão jeto, seja a publicação de um livro ou alguma parceria
agora começam a diminuir devido às raízes entre universidades?
culturais comuns, mas também por visões Estou certa de que somente o encontro de parti -
mútuas do futuro. A desigualdade pode existir cipantes vindos de diferentes contextos, países,
ainda. Mas por quanto tempo será assim e em culturas e disciplinas, trabalhando sobre um
que medida uma Europa ainda ignorante, será mesmo tema irá criar uma rede que irá colaborar
capaz de tomar parte nesta relação triangular? e encontrar apoiadores. Além disso, eu espero
Convidar acadêmicos, intelectuais cientistas que projetos concretos, que já existem ou que
e artistas vindos dos três continentes, que estão sendo desenvolvidos recentemente, pos-
abordam essas questões, para se reunir e sam ser realizados nos próximos anos. “Ecos
trocar perspectivas numa base comum, pode do Atlântico Sul” está planejado para durar três
ser um ponto de partida para enxergar pos - anos e tenho esperança de que vá crescer em
sibilidades futuras. visibilidade e em participantes.
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Book_ARTE42.indb 75 3/22/18 6:10 PM