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ARTIGO ARTE E PSICANÁLISE
EMPATIA E CONFLITO NA
EXPERIÊNCIA ESTÉTICA
POR CHRISTIAN INGO LENZ DUNKER
NA RECENTE MOSTRA orga-
nizada pelo Museu da Empatia,
em curso no MAM de São Paulo,
pessoas são convidadas a vestir
sapatos aleatoriamente ofere-
cidos enquanto escutam as nar-
rativas de vida dos seus donos.
A ideia é uma espécie de litera-
lização da expressão “walk with
other shoes”, isto é, colocar-se
nos sapatos do outro, no lugar
do outro e assumir seu ponto de
vista. A experiência inclui-se em
uma série de iniciativas que pro-
curam trazer o universo muse-
ológico mais perto das pessoas,
diminuindo a impressão popular CARL SPITZWEG, VERDÄCHTIGER RAUCH (FUMAÇA SUSPEITA)
de que a apreciação de obras de
arte é uma tarefa para pessoas suspeita sobre a legitimidade de inadequação, nos ajuda a enten-
muito cultas. Mas será mesmo nossa própria identidade. der porque, repentinamente não
que a experiência estética é Pierre Bordieu mostrou como precisamos mais de mediações.
capaz de tratar conflitos, gene- o capital cultural tende a se Os críticos de arte se tornaram
ralizando e unindo pessoas ou concentrar, reproduzindo-se e inúteis, os professores são dis-
ela apenas confirma e aprofunda acumulando-se de modo seme- pensáveis, a imprensa reproduz
a exclusão de classe, de raça ou lhante ao capital social e pelo mal o que a massa digital faria
de origem? capital social. Mas o que dizer melhor e mais espontaneamente.
Ressoa ao fundo a tese de que de uma elite que não consegue Isso pode nos ajudar a entender
se conseguimos nos reconhecer mais ler seu próprio tempo, a recente onda de repúdio a cer-
no outro nós poderemos nos nem se intimida diante de sua tos artistas e suas exposições
entender melhor com a nossa própria mediocridade? Que (como a Queermuseum de Porto
própria diversidade. Por outro entende a universidade e a cul- Alegre), de ódio aos intelectuais
lado a mesma obra de arte que tura como uma ameaça ao seu e professores, (como a fogueira
nos transforma, porque sur- próprio valor central: o dinheiro. pública na qual a imagem de
preende e inquieta, pode ser Até recentemente o dinheiro Judith Butler foi queimada como
reduzida a um relato inautêntico, no Brasil não requeria história. “bruxa”), de ataques a univer-
usado apenas como signo de Ele falava por si mesmo, como sidades e centros de pesquisa
pertinência de classe ou como signo de sucesso e poder auto- (com redução de verbas e suca-
espetáculo de consumo. Um sinal justificado. Contudo, um dos teamento programado).
confirmador que confere autenti- benefícios da crise brasileira é Tudo se passa como se não fosse
cidade e legitimidade social para ter posto sob suspeita genera- mais necessário qualificar o con-
a riqueza que se possui pode lizada o regime das aparências. flito, trabalhar para que ele crie
ser, ao mesmo tempo, fonte de O sentimento de impostura e de efeitos de transformação, que
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