Page 86 - ARTE!Brasileiros #39
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ARTISTA BÁRBARA WAGNER
















































             registros dos cultos. Bárbara acredita que há uma relação  entender. Eu sempre me perguntei por que essa realidade,
             entre a ascensão da chamada classe C e o aumento do   tão próxima de nós, não está sendo abordada de forma
             número de evangélicos. Segundo a artista, a doutrina   consistente pela arte e os documentaristas.” Em suas
             defendida pelas igrejas pentecostais é muito próxima   fotos, Bárbara compara o culto à performance. “Para mim,
             de um ideal de consumo. “É uma religião que se parece   os ritos evangélicos se associam à indústria do espetáculo,
             com uma corporação. Não à toa, o culto é dividido em   como a da música brega. Isso me interessava num sentido
             questões que o fiel quer resolver: doença, trabalho,   estético mesmo: o altar, as flores de plástico, as cortinas,
             dívidas. É algo pragmático, você entra na igreja, investe   a caixa de som, há toda uma construção de um ritual.”
             e isso volta pra você.”                           Em seus trabalhos, Bárbara foge do estereótipo da
             Bárbara afirma que o assunto despertou seu interesse   artista que dá voz aos marginalizados. “Não se trata de
             pela complexidade. “Não dá para dizer que é algo só ruim,  olhar para os sujeitos a partir de uma perspectiva antro-
             é uma reinvenção da tradição. Tem um lado interessante,   pológica, de fazer uma representação do outro. Essas
             é como se a religião evangélica fosse um portal pelo qual  pessoas já criaram as suas representações autônomas,
             finalmente a redenção vai acontecer: o empregado vai   elas têm voz, produzem suas próprias fotos. No fundo, na
             virar patrão sim, sabe? Isso é impactante. Ao mesmo   nossa produção, tentamos entender como é feita essa
             tempo, quando eu penso na bancada evangélica no   construção da autoimagem. Essa é a nossa contribuição
             Congresso, eu me assusto, é um discurso muito violento   e para isso é preciso estabelecer uma relação de troca
             e opressor”, pontua.                              e colaboração com as personagens”, afirma.
                                                           -
             Um dos objetivos principais da série é desmistificar a ima  Outra obra de Bárbara e Benjamin que trata do tema
             gem exótica, de irracionalidade muitas vezes associada   da representação é a série Como Se Fosse Verdade,
             aos fiéis. “Não estamos falando de uma minoria, mas de   comissionada pela prefeitura de São Paulo em 2015.
             um fenômeno de massa, do qual é preciso se aproximar e  A dupla montou um estúdio móvel em um terminal


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