Page 82 - ARTE!Brasileiros #39
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REPORTAGEM ACHADOS NA RUA

             PORTAS E JANELAS
             AUTOR: AMANDA MEI
             OBRA: PERTENCENTE À SÉRIE R, R E R
             ANO: 2014


             Recolher coisas na rua já era uma prática recor-
             rente no trabalho de Mei, que abre a exposição
             Acordos, Desvios ou Diálogos – no dia 27 de maio,
             no espaço da Funarte. Em uma das obras ela
             utiliza madeiras recolhidas nas ruas do bairro
             dos Campos Elíseos, próximas ao Minhocão. A
             artista conta que, nesse trabalho, a aparência do
             material resultante de sua exposição ao tempo
             é revertida a partir de aplicação de tinta acrí-
             lica. “Agora, estou apagando histórias”, conta a
             artista, embora admita que haverá pistas de um
             passado mal contado, principalmente nas fichas
             técnicas. A foto ao lado é de uma série mais
             antiga, a r, r e r, que contém obra feita com jane-
             las e portas coletadas da rua. “Fui fazendo uma   materiais recolhidos na rua tem refletido um fenômeno urbano
             coleção”, diz Mei. Parte dos objetos foi encon-  em São Paulo, “cidade onde a construção e a desconstrução
             trada no entorno no CCBB, onde a exposição   são parte da nossa vida”. A oferta de materiais na rua é algo
             foi realizada. As sombras na parede também   notável, ela conclui. Todas as portas e janelas que a artista
             simbolizam o passado. Para Mei, trabalhar com   usou em r, r e r voltaram para uma caçamba.



                                                           PEDRAS
                                                           AUTOR: MARCELO MOSCHETA
                                                           OBRA: PARALLEL 45 N
                                                           ANO: 2015

                                                           Neste trabalho, Moscheta juntou pedras recolhidas na fron-
                                                           teira dos EUA com o Canadá. É um velho hábito. Em 2011, em
                                                           obra agora exibida no Museu de Arte Contemporânea de Cam-
                                                           pinas, ele produziu a partir de pedras recolhidas na fronteira
                                                           do Brasil com o Uruguai. Ele conta que fez o percurso com um
                                                           carro, durante 15 dias, e o critério da escolha de uma pedra
                                                           era simples: “Eu pegava aquela que me chamava a atenção”,
                                                           diz. A massa dos minerais também tinha de ser entre 20 e
                                                           40 quilos, quantia que ele conseguia carregar sozinho para
                                                           colocar no veículo. Para Moscheta, a atividade de recolher
                                                           pedras, “caminhando ou dirigindo”, tem a ver com um sen-
                                                           timento “de solitude”, que se reflete na formação da obra,
                                                           sem que haja uma leitura direta sobre a metodologia. Mas
                                                           as histórias estão ali de alguma forma. Uma das pedras, por
                                                           exemplo, escondia uma cascavel. “Quase fui picado”, conta.
                                                           Outra pedra pertencia a um muro que desabou. “Essa pedra
                                                           carrega uma segunda camada da simbologia da delimitação
                                                           de uma fronteira”, conta Moscheta.


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