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INTERNACIONAL PORTUGAL
quadro. Na 32 edição da Bienal Internacional de
a
São Paulo, em 2016, foram apresentadas obras de
cinco artistas portugueses – Lourdes Castro, Carla
Filipe, Gabriel Abrantes, Grada Kilomba e Priscila
Fernandes –, de um total de 81 participantes.
O número salta aos olhos não apenas por ser maior
que o de artistas de qualquer outro país europeu,
mas também quando é feita comparação com as
duas edições anteriores do evento, que receberam
apenas um convidado português cada. “Tenho
percebido recentemente uma forte produção de
jovens portugueses”, explica o alemão radicado
no Brasil Jochen Volz, curador da última Bienal
e anunciado o próximo diretor da Pinacoteca do
Estado. “Durante o processo de concepção da 32
a
edição, decidimos fazer uma viagem para Lisboa
e Porto, onde de fato encontramos uma cena
extremamente interessante.” VISITANTE PASSEIA NA PRIMEIRA EDIÇÃO DA ARCO LISBOA, EM 2016
Também no ano passado, a megaexposição Por-
tugal, Portugueses reuniu no Museu Afro Brasil
obras de 48 artistas lusitanos, na maior mostra portugueses. Reclama-se, por exemplo, do decor-
de arte contemporânea portuguesa realizada no rente estímulo ao setor imobiliário, com aluguéis
País. Entre os convidados, nomes cada vez mais em rápida ascensão, e da gentrificação mudando
presentes em grandes exposições internacionais, o perfil de antigos bairros. Segundo dados do
como Gonçalo Pena, Helena Almeida, Joana Vas- Instituto Nacional de Estatística, o número de
concelos, Julião Sarmento, Paula Rego, Pedro moradores estrangeiros em Portugal subiu 10%
Cabrita Reis, Rui Calçada Bastos e Vasco Araújo. em 2015 e 12,7% em 2016 – aumento seis vezes
Como analisa Romão: “Parece que há na arte por- maior do que a média europeia no ano. “Espero
tuguesa alguma coisa de especial, de particular, que não trilhemos um caminho como o de Bar-
algo a ser exportado”. celona, que chamo de efeito de ‘barcelonização’,
em que a cidade se volta toda para os turistas e
O RISCO DA “BARCELONIZAÇÃO” esquece sua própria comunidade e seus interes-
O contraponto ao cenário em ebulição são as ses. Mas vejo que estão vindo morar em Portugal
tradições muito antigas e de difícil trato. “Há fenô- muitas pessoas com grande interesse cultural.
menos com os quais quem vive aqui se defronta Há também condições para uma nova economia
que têm a ver com burocracia, excesso de regu- criativa na cidade, o que permite um efeito de
lamentação, o peso político das velhas famílias e transformação de maior duração do que apenas
uma economia bastante fechada, às vezes pouco o do turismo”, diz Gadanho.
receptiva aos mais jovens”, explica Gadanho. “Isso O diretor do MAAT ressalta ainda o trabalho de rea-
tem a ver com uma cultura tradicional que se bilitação urbana cuidadoso que tem predominado
encontra também em lugares como Viena ou no país, capitaneado por uma classe arquitetônica
Roma, cidades muito antigas onde há poderes bastante qualificada. “Não podemos esquecer que,
instalados há séculos, difíceis de contrariar. Feliz- antes ainda de a arte contemporânea dar o que
mente, as pessoas conseguem romper com isso falar, a cultura arquitetônica é talvez aquela que
e fazer novos negócios. Ainda mais agora que há começou a ser mais reconhecida mundo afora,
um interesse da cidade em estimular a vinda de por causa de Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura,
empresas mais tecnológicas.” entre outros. É a primeira grande exportação FOTO RODRIGO GATINHO
O contingente de turistas e de novos moradores cultural portuguesa em tempos mais recentes.”
também cria conflito com os antigos cidadãos Agora, pois, chegou a vez da arte contemporânea.
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