Exposições "O Teatro do Terror" e "Instalação", de Ismael Monticelli

sab28set(set 28)09:00dom24nov(nov 24)18:30Exposições "O Teatro do Terror" e "Instalação", de Ismael MonticelliMostra cria uma cena de combate que enfatiza a teatralidade e o caráter midiático da tentativa de golpe contra o Estado Democrático de DireitoMuseu Nacional da República Brasília DF, Setor Cultural Sul, Lote 2 Próximo à Rodoviária do Plano Piloto, Brasília - DF

Detalhes

A partir de 28 de setembro, o Museu Nacional da República recebe a mostra “O Teatro do Terror“, de Ismael Monticelli, que explora os eventos de 8 de janeiro de 2023, em diálogo com o Futurismo, vanguarda artística do início do século XX com conexões ao fascismo. No Mezanino do Museu, Monticelli cria uma cena de combate que enfatiza a teatralidade e o caráter midiático da tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito. Nesta instalação, a violência e a destruição se entrelaçam com a festa e a celebração, propondo uma reflexão sobre a complexidade desses acontecimentos. O projeto foi contemplado no edital Retomada – Artes Visuais 2023 da Funarte.

A instalação de Monticelli ocupa os 30 metros de extensão do Mezanino do Museu Nacional de Brasília e apresenta uma cena de conflito com figuras humanas em escala real, pintadas em tinta acrílica sobre caixas de papelão abertas e recortadas. Para criar essas figuras, o artista se apropriou do imaginário das obras do italiano Fortunato Depero, produzidas na década de 1920. Nesse período, Depero estava alinhado ao programa estético e ideológico do futurismo, criando imagens que exploravam o tema da guerra e do combate. Em uma obra em particular, intitulada Guerra = Festa (1925), Depero retratou em tapeçaria uma cena da Primeira Guerra Mundial. No entanto, ao contrário das expectativas de truculência e sanguinolência, a imagem esconde a violência sob um véu alegre e lúdico, sugerido pela profusão de cores e formas na composição.

É na fronteira entre a violência e o jogo que se situa Guerra = Festa, onde Depero retratou o conflito como um grande espetáculo, uma celebração, num motim de formas e cores, alinhando-se completamente ao programa futurista de ‘glorificar a guerra’ como uma força capaz de ‘curar, purificar’ a sociedade’. As obras de Depero desse período parecem ressoar com os eventos de 8 de janeiro, que transformaram a violência e a destruição em um jogo festivo, um ‘turismo da violência’. Nos grupos de WhatsApp organizados para planejar a ação, os organizadores utilizavam uma mensagem em código para sinalizar a ocupação da Esplanada dos Ministérios, referindo-se ao evento como um “dia de festa.” A senha escolhida foi “Festa da Selma” (em alusão ao grito militar “Selva”).

Ismael Monticelli

Monticelli escolheu o papelão como material principal para sua instalação, não apenas por suas propriedades físicas, mas também por sua história simbólica. Durante as Guerras Mundiais, o papelão desempenhou um papel crucial em diversas aplicações militares, como na fabricação de capacetes, contêineres de armazenamento e até embarcações. Devido à necessidade de redirecionar metais para o esforço de guerra, muitos itens cotidianos, que antes eram feitos de lata, chumbo e ferro fundido, passaram a ser produzidos em papelão. Outra questão crucial da escolha do material é sua precariedade.

“A instalação, que tem frontalidade evidente, utiliza o mezanino do Museu Nacional como um palco teatral desprovido de sua caixa cênica, expondo a fragilidade que sustenta o conflito retratado na parte frontal. Ao observar a obra por trás, revela-se uma paisagem de silhuetas de papelão, com as bordas borradas pela tinta e sustentadas por blocos de concreto. Essa cenografia se desnuda, revelando suas próprias entranhas e ressaltando a vulnerabilidade inerente à materialidade e à narrativa que compõe”, ressalta o artista.

Um dos principais procedimentos artísticos de Ismael Monticelli é repensar imagens, histórias e narrativas estabelecidas, reorganizando-as ao confrontá-las com questões atuais. Em O Teatro do Terror, o artista revisita os eventos de 8 de janeiro à luz de uma das vanguardas do início do século XX – o futurismo. “Uma das primeiras perguntas que me fiz foi: como abordar esse acontecimento com uma estética e um programa ideológico que se alinhem a ele? O futurismo me pareceu uma forma de pensar as invasões em Brasília, especialmente porque tanto essa vanguarda quanto o 8 de janeiro parecem compartilhar uma ânsia pela destruição de tudo”, diz o artista.

O Futurismo e o Fascismo

Inaugurado há mais de 100 anos, o Manifesto Futurista (1909), escrito por Filippo Tommaso Marinetti e publicado no jornal francês Le Figaro, estabeleceu as bases de um programa que seria desenvolvido e refinado pelos artistas italianos ao longo dos anos. O manifesto exaltava a velocidade, a violência e a destruição como fontes de energia e renovação. Os futuristas celebravam a guerra, a masculinidade, o militarismo, o patriotismo como forças purificadoras, capazes de abrir caminho para uma nova ordem. A relação complexa do Futurismo com a guerra é destacada por sua postura paradoxal durante o conflito. Enquanto muitos movimentos vanguardistas, como o Dadaísmo, condenaram a guerra e as instituições responsáveis, os Futuristas, apoiaram-na entusiasticamente. Eles defendiam a destruição de museus, bibliotecas, universidades e qualquer resquício de sentimentalismo, que consideravam sinais de fraqueza. Para os futuristas, recomeçar do zero era essencial, incluindo a rejeição do feminismo e da igualdade social, vistos como valores ultrapassados e covardes.

“Os valores exaltados pelos futuristas parecem ecoar nas motivações das pessoas envolvidas nos eventos de 8 de janeiro. O militarismo faz parte do imaginário reacionário brasileiro. Um exemplo claro é o acampamento ‘300 do Brasil’ (2020) na Esplanada dos Ministérios, próximo ao Ministério da Justiça, em Brasília, que contava com membros armados e uniformizados, formando um batalhão paramilitar supostamente preparado para a guerra, tendo como principal alvo o STF. Uma das inspirações para essa ação veio do filme norte-americano 300 (2006 e 2014) – criticado por sua estética fascista –, que se tornou uma referência mundial para movimentos de extrema-direita”.

Oficina

Como parte do projeto, ao longo do período da exposição, o artista oferecerá gratuitamente uma oficina com uma conversa sobre o trabalho. As informações sobre como se inscrever serão divulgadas pelo Instagram @museunacionaldarepublica.

A mostra conta ainda com texto sobre a obra do artista produzido por Raphael Fonseca, curador de arte moderna e contemporânea latino-americana no Denver Art Museum/EUA e listado pela revista ArtReview como uma das 100 pessoas mais influentes das artes visuais globalmente.

Serviço
Exposições | O Teatro do Terror e Instalação
De 28 de setembro a 24 de novembro
terça a domingo, das 9h às 18h30

Período

28 de setembro de 2024 09:00 - 24 de novembro de 2024 18:30(GMT-03:00)

Local

Museu Nacional da República Brasília DF

Setor Cultural Sul, Lote 2 Próximo à Rodoviária do Plano Piloto, Brasília - DF

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