Erick Jay_Creditos_Rafael Berezinski
Erick Jay_Creditos_Rafael Berezinski

Em 2016, Erick Jay (Erick Garcia) entrou para a história da discotecagem americana como o primeiro latino-americano (e brasileiro) a consagrar-se, no mesmo ano, vitorioso nos dois maiores campeonatos de DJs do mundo, o DMC World e o IDA World Technical Category.

Hoje, com 35 anos, o DJ representa o Brasil nos mais variados campeonatos ao redor do mundo. O mais recente foi o grande campeonato da Oceania, que aconteceu em Auckland, na Nova Zelândia.

Além das competições, Jay atua como DJ oficial do programa Manos e Minas, um show com plateia que tem como principal objetivo televisionar temas ligados a cultura do hip-hop, rap, funk, reggae e samba. Há 25 anos no ar, o show dirigido por Marcelo Costa integra a grade da TV Cultura e é exibido todos os sábados às 20h15.

O DJ também faz parte do projeto Laboratório Fantasma, um coletivo que produz e vende peças de roupa que, entre muitas coisas, promove artistas do hip-hop e do cenário urbano-periférico. “O Kamau faz parte do Laboratório Fantasma, portanto, quando o coletivo fecha algum show ou evento, eu toco junto. Estou junto com o Kamau desde 2008. É uma parceria da hora”, conta.

Como surgiu o DJ Erick Jay? 

Bom, eu comecei bem cedo, em 1991, quando tinha 11 anos. Comecei a ir para os bailes black e house da época. Mas foi em 1996, quando fui para o Projeto Radial. Eu ficava perto da cabine dos DJs, via como eles conduziam a pista e ficava admirado. Foi ali que comecei a me interessar pela arte da discotecagem e anos depois comecei a tocar nas festas dos amigos, em casamentos, etc.

Sempre estive ligado à música. Já veio de casa, quando meu pai ouvia as músicas dele. Na época, ele tinha uma pequena equipe de DJs com uns amigos. Meu pai tinha vários discos e fitas K7. Eu cresci ouvindo as músicas que ele gostava.

O programa Manos e Minas é um ícone da programação da TV Cultura, como chegou até ele? 

Fui convidado pelo Rappin Hood, devido ao falecimento do nosso grande irmão, DJ Primo, no ano de 2008 e estou lá até hoje. Para mim, é uma grande honra fazer parte do único programa dedicado à cultura Hip Hop da América do Sul e talvez do mundo. A produção me dá muita liberdade para eu fazer meu trabalho da melhor forma possível.

Estar no programa foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida, mudou tudo. O programa me deu mais visibilidade, conheci várias pessoas especiais. É um orgulho muito grande faze parte da família Manos e Minas.

Muitas áreas estão em crise. Como DJ, você sente que a crise chegou também para a música? Qual sua avaliação sobre a cena paulistana? 

Quem está em crise são as pessoas que não sabem diferenciar música boa de ruim. O Brasil é muito rico em sua cultura musical, mas a mídia tradicional, na maioria das vezes, não mostra as coisas boas, mas sim o que “eles” escolhem e que nem sempre é algo legal ou que irá somar. A cena paulistana e brasileira estão muitos boas, bastante bandas, músicos independentes talentosíssimos que só precisam de oportunidades.

Falando dos seus títulos, como foi a experiência durante o DMC World e o IDA World? O que sentiu quando soube que havia conseguido os dois títulos? 

Foi demais! Dois momentos sensacionais na minha vida, dois títulos mundiais em instituições diferentes e ainda sendo o primeiro da América do Sul a conseguir este feito [no mesmo ano]. Quando ganhei o DMC (Disco Mix Club), a ficha só caiu 3 dias depois. Foi incrível a repercussão, nunca imaginei ser tão querido assim. Ver pessoas que sou fã compartilhando minha fotos, me ligando, alguns emocionados… Foi demais. No IDA – (Internacional DJ Associação), foi muito bom também. Foi um pouco mais difícil por falta de patrocínio, mas extremamente motivador graças aos meus amigos e parceiros que me ajudaram muito.

Sendo um DJ negro, eu imagino que tenha enfrentado o racismo em muitas ocasiões. Como você busca lidar com o preconceito? Tem algum caso especifico que gostaria de compartilhar? Se sim, fique à vontade! 

Infelizmente, temos que lidar com isso ainda. Como diria Criolo “uns preferem morrer ao ver um negro vencer”. Quando o assunto é preconceito, o Brasil é especialista. Se o preto for um jogador, cantor ou artista, não vai ser igual aos outros. Sofri com preconceito em 2012, na Polônia, quando fui representar pela primeira vez o Brasil no mundial IDA World. As pessoas me olhavam com desprezo no aeroporto, no mercado. Confesso que fiquei um pouco surpreso inclusive, porque a história da Polônia foi marcada com preconceito e discriminação também. Mas não me abalei. Em 2016, voltei e foi diferente. Ainda bem. Como sou um brasileiro negro, já estou calejado com isso e cada preconceito que sofria era mais uma motivação para minhas conquistas.

E por fim, mas sempre importante lembrar, o que diferencia um produtor de um DJ?

Como o próprio nome diz, produtor só produz músicas, não faz nenhum tipo de performance etc. A maioria dos DJs produzem e tocam porque já dominam a arte dos toca-discos.

 


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