Gustavo Nobrega
Cartão postal com intervenção de Aristides Klafke

Com uma explosão silenciosa a partir dos anos 50, a arte correio tem seu pioneirismo em Ray Johnson e a New York Correspondance School, mas também parte de manifestções como o Fluxus, de Maciunas. Como o nome entrega, é um movimento no qual a arte cabe dentro de um envelope ou pacote que possa ser transportado via correio. As possibilidades são muitas e não se limitam apenas a cartas ou cartões postais. No Brasil, o movimento começou a ganhar corpo a partir dos anos 60.

Também conhecido como arte postal — termo que caiu em desuso por reduzi-lo apenas a uma das coisas utilizadas, o cartão postal —, o movimento consiste em uma troca de informações, criação de redes e, naquela época, uma nova mídia para a arte. Não se pode deixar enganar achando que apenas obras feitas em papel eram enviadas por correio, mas também objetos, fitas K7s e vídeos, alguns trocavam inclusive pedaços de tecido das próprias roupas. Os artistas buscavam formas de explorar todos os cinco sentidos no que era enviado para os colegas.

Esse movimento “não é mais um “ismo”, e sim a saída mais viável que existia para a arte nos últimos anos e as razões eram simples: antiburguesia, anticomercial, anti-sistema, etc”, escreveu o artista Paulo Bruscky em texto publicado em 1976 no Jornal Letreiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para ele, um dos expoentes nacionais da arte correio, o movimento foi essencial no que diz respeito a quebrar barreiras, seja por atravessar fronteiras físicas ao interligar artistas de todos os cantos do planeta ou por não haver “nem julgamentos nem premiações aos trabalhos”.

Com um clima marginal, já que apenas os que recebem e repassam têm contato com os trabalhos, a arte correio ficou fechada a seus agentes, criando uma fluidez intimista. No Brasil, o movimento ganhou uma grande homenagem na Bienal de São Paulo de 1981, onde teve um espaço apenas para expor peças produzidas nesse fluxo, convidando artistas de todo o mundo. A curadoria geral daquela edição foi do crítico Walter Zanini, que há alguns anos já se dedicava a destacar a arte correio em suas falas e em seus escritos. Em texto de 1977 para o jornal O Estado de São Paulo, ele comentou não se podia “negar que essa atividade desencadeia situações comunicacionais e estruturais novas para a linguagem artística”.

Envolvido com pesquisas sobre grupos marginais, como o Poema-Processo e o Nervo Óptico, que tiveram exposição na Galeria Superfície nos últimos anos, o diretor da galeria, Gustavo Nóbrega, dedicou-se também a pesquisar a arte correio, criando um interesse por incentivar sua circulação no mercado: “A ideia é criar um olhar de colecionismo para isso, além de divulgar e mostrar essa produção que foi importantíssima”.

Durante as últimas férias de final de ano, Nóbrega fez uma viagem para o Nordeste para visitar ateliês de artistas que participaram daquelas atividades, ele aponta a região como berço da vanguarda do movimento. Em São Paulo, encontrou muito pouco material, “um, dois ou três envelopinhos”, lá ele encontrou obras aos montes, “arquivos gigantescos”. A arte correio, que teve ainda maior adesão de artistas no Brasil por volta dos anos 70, não foi assimilada como algo comercial: “Era uma coisa até anti-mercado”, ele conta. As obras eram trocadas entre os próprios artistas, instituições e galerias não integraram isso substancialmente a seus acervos. Até porque, segundo Gustavo, os próprios artistas não tinham a intenção de vender esses trabalhos.

A Superfície representa Falves Silva, um dos nomes que mais produziu na arte correio. Foi no ateliê de Falves que Gustavo encontrou grande parte de obras que trouxe consigo para São Paulo. A priori, tinha intenção de fazer uma exposição apenas com trabalhos do movimento, mas achou que seria muita informação. Algumas das obras que passaram pela pesquisa de Nóbrega estão na exposição atual da galeria, intitulada Novos Meios e Conceitualismo nos anos 70. A mostra terá arte postal de Avelino de Araújo, Paulo Bruscky, Edgar Antonio Vigo, Falves Silva e da australiana Pat Larter, dentre outros. Materiais do coletivo Karimbada além de obras da exposição Olho Mágico (1978) também estarão inclusos.


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