O projeto final do Centre Pompidou Paraná, assinado pelo arquiteto Solano Benítez, foi apresentado na sexta-feira última, em evento em Foz do Iguaçu, sob tendas improvisadas, no terreno de 24 mil metros quadrados, onde o museu será construído, bem próximo ao aeroporto.

Benítez, premiado com o Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2016, revelou um projeto que vai além da arquitetura: um manifesto de simplicidade, sustentabilidade e pertencimento. O barro valoriza a ligação com a terra e a identidade local, enquanto o tijolo representa as soluções práticas e ambientalmente responsáveis. “Vivemos em um mundo que precisa redefinir a relação entre pessoas e natureza, entre cultura e meio ambiente, colocando o ser humano no centro como agente da construção desse futuro. É transformar e ser transformado.” Benítez entende a arquitetura como um espaço de ideias, não apenas de formas. “O que importa é a mensagem das construções.” As alamedas vazadas, nesse contexto, oferecem ventilação natural e conforto aos visitantes nos dias quentes.

De um lado, o arquiteto paraguaio celebra a conexão com o território; do outro, a sede francesa projeta o espaço cultural para o mundo. O presidente do Centre Pompidou, Laurent Le Bon, voltou a reforçar que a instituição parisiense pretende ceder obras de sua coleção para exposições na unidade paranaense. Atualmente, o Pompidou mantém filiais em Málaga, na Espanha, e em Xangai, na China. E ainda estão previstas mais inaugurações em Jersey City (EUA), Seul (Coreia do Sul) e Bruxelas (Bélgica). O projeto no Paraná será o primeiro na América Latina.

Em todos esses espaços já erguidos, controlar umidade e temperatura é essencial. Le Bon destaca que em Foz do Iguaçu é o desafio crucial para proteger as obras de arte. Benítez explica que “os biomas do projeto refletem a força da Mata Atlântica, resistente aos desafios da natureza”.

Confiante na parceria, ele afirma que a população pode esperar um espaço cultural de grande relevância e reforça: “Esse projeto faz parte da amizade entre Brasil e França; não é uma aventura. Nós nascemos juntos”.

O governador do Paraná, Ratinho Júnior, agradeceu a Le Bon pela confiança e destacou que o Pompidou Paraná vai consolidar uma nova rota de turismo em Foz do Iguaçu. “Além do apelo natural das Cataratas, a cidade passa a oferecer também o turismo cultural.” Segundo ele, o projeto deve atrair ainda mais visitantes de todo o mundo, gerar empregos, movimentar a economia e aproximar crianças e jovens de obras de arte de relevância histórica e contemporânea, antes só vistas pela maioria por meio de livros, televisão e internet.

O investimento previsto, segundo o governador, é de R$ 250 milhões, financiado pela Fundação Cultural do Paraná e pela Secretaria da Cultura. “Após a entrega dos estudos de engenharia, prevista para outubro, será aberta licitação nacional ou internacional, para a execução das obras.”

Nome importante no projeto, Luciana Casagrande Pereira, secretária de Cultura do Paraná, trabalha há cinco anos para ajudar a entregar um museu de referência, capaz de atrair moradores da região e visitantes do mundo todo. Na cerimônia de lançamento foi realizada uma oficina de confecção de tijolos que serão utilizados na construção do museu. O evento envolveu crianças da rede municipal de ensino em um gesto simbólico de construção do satélite do Pompidou nas Américas. “Essas ações mostram que o museu nasce coletivo, aberto e conectado à sua região”, afirma a secretária.

Especialistas da Tríplice Fronteira comentam o projeto, destacando impactos culturais, arquitetônicos e urbanos da região.

A brasileira Aracy Amaral destaca que “o projeto concebido por Solano Benítez para o Centre Pompidou Paraná, cuja inauguração está prevista para 2028, surge como um audacioso projeto de luz para todo o continente. “Combinando técnicas construtivas ousadas, com a terra do nosso solo, exibirá obras do acervo do Pompidou e da América Latina, unindo a experiência cultural da França com a esperança de novos tempos.”

A crítica Adriana Almada está otimista: “Do Paraguai, celebramos a futura instalação do Centre Pompidou Paraná, o primeiro satélite do Pompidou na América Latina. Este projeto representa não apenas uma mudança na geopolítica cultural da região, mas também a oportunidade de consolidar Foz do Iguaçu como um polo de arte contemporânea. O museu poderá se tornar um ponto irradiador de cultura com alcance para Brasil, Paraguai e Argentina, valorizando a diversidade local e incorporando as múltiplas camadas migratórias às culturas originárias”.

O crítico argentino Fernando Farina analisa o projeto em duas frentes. Por um lado, destaca o potencial do Pompidou Paraná de transformar o ecossistema cultural latino-americano, criando um espaço de circulação regional que aproxime obras, público e artistas de vários países, descentralizando o acesso à arte e oferecendo maior visibilidade para talentos locais. Por outro, aponta desafios importantes: o risco de impor um modelo eurocêntrico, concentrar recursos em uma iniciativa estrangeira em detrimento de instituições locais e gerar uma dependência simbólica de marcas globais. Segundo Farina, o verdadeiro teste será fazer do museu um ponto de diálogo que valorize a diversidade e a memória cultural da América Latina, e não apenas uma vitrine periférica do cânone europeu.

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