Museus
A sede do Instituto Moreira Salles em São Paulo. Foto: Divulgação. Foto: Pedro Vannucchi

arte!✱ – Neste contexto da pandemia do coronavírus e da necessidade de isolamento social, como vocês estão trabalhando no IMS? Que tipo de trabalho tem sido possível realizar e qual o planejamento que estão fazendo para os próximos tempos?

O IMS fechou ao público seus centros culturais em São Paulo (SP), no Rio de Janeiro (RJ) e em Poços de Caldas (MG) no momento em que foram divulgados os alertas das autoridades da área de saúde dos três Estados, e colocou todos seus funcionários em regime de trabalho domiciliar. Desde então temos nos dedicado às ações necessárias para garantir a segurança e preservação dos acervos e edifícios, bem como a uma série de ações voltadas para a manutenção e ampliação de nossa presença nas redes virtuais, especialmente em nosso site. Seja pela continuidade de iniciativas habituais, como a Rádio Batuta e outras relacionadas a nossos acervos, seja por novas iniciativas especialmente pensadas para esse momento, como o IMS Quarentena, que oferece conteúdos relacionados às revistas serrote e ZUM; o IMS de Casa, com conteúdos ligados aos acervos; e o Programa Convida, que em sua primeira edição apresenta 60 artistas e coletivos de todo o Brasil que foram convidados a criar obras que refletissem sobre o isolamento resultante dessa pandemia.

Falando sobre os museus brasileiros e pensando no texto que vocês publicaram, para além de pensar em que tipo de museus – e de experiências – queremos ter após a pandemia, infelizmente ainda precisamos pensar na própria capacidade de existência e sobrevivência de muitas dessas instituições. Acabamos de assistir, menos de 2 anos após o incêndio do Museu Nacional do Rio, outro incêndio, no Museu de História Natural da UFMG. Queria que falassem um pouco como enxergam esses acontecimentos e esse quadro.

O cenário museal brasileiro enfrente uma série de imensos desafios históricos, dos quais talvez o mais grave seja a ausência de políticas públicas consolidadas que compreendam a natureza, o papel e a importância dessas instituições, e possam lhes oferecer reais condições de desenvolvimento. Importante registrar que existe, por parte dos profissionais desses museus, em todos os níveis, plena consciência e conhecimento das necessidades técnicas, operacionais, administrativas e culturais de suas instituições, mas infelizmente esse conhecimento não tem encontrado ressonância junto às autoridades responsáveis.

Vocês diriam que a situação de muitos museus públicos no Brasil demonstra uma fragilidade de um modelo de instituições culturais financiadas diretamente pelo Estado? Modelos mistos ou instituições privadas se mostram menos vulneráveis? Como enxergam esse quadro? 

Pelo menos dois terços dos museus brasileiros são estatais. Há portanto imperiosa necessidade de se construírem políticas públicas para essas instituições. Há modelos de gestão compartilhada (como o modelo de gestão por OS) que tem demonstrado grande potencial, desde que devidamente implantado, gerenciado e respeitado pelos diferentes níveis de Governo. Mas obviamente não é uma solução mágica nem aplicável a todas as situações. Por outro lado, as instituições privadas, em sua imensa maioria, também enfrentam grandes dificuldades, inclusive a nível de sobrevivência, e devido à sua importância, não podem prescindir do apoio público por meio de diferentes estratégias, como as Leis de Incentivo.

Pensando no contexto político e cultural no país de modo amplo, em cerca de um ano e meio de governo Bolsonaro chegamos agora ao quinto titular na pasta da Cultura. O que isso demonstra sobre o valor dado à cultura pelo governo? E de que modo esse quadro todo afeta o trabalho também no IMS?

O momento político que o Brasil atravessa é particularmente doloroso para a área da Cultura como um todo. Atacada de todas as maneiras, com suas instituições – especialmente no nível federal – violentadas e desrespeitadas, e enfrentando os terríveis impactos dessa pandemia, a Cultura brasileira está sob terríveis ameaças, para as quais apenas a coragem, a dedicação e a competência de seus diferentes agentes oferecem expectativas de superação.

Como instituição intrinsicamente vinculada ao contexto brasileiro, o IMS vivencia cotidianamente esses impactos, se solidariza com todas nossas companheiras e companheiros nessa luta, e busca oferecer apoios e espaços que possam contribuir de maneira solidária para todo esses difíceis enfrentamentos.


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