A Fábrica de Arte Marcos Amaro, em Itu. Foto: Patricia Rousseaux

* Por Maria Hirszman e Marcos Grinspum Ferraz

Assim como a maioria das instituições culturais do país, a Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA) teve que se reinventar rapidamente – no ambiente virtual – para continuar em contato com o público durante a quarentena. Diferentemente de outros museus e centros culturais mais antigos, no entanto, a FAMA – aberta em 2018 em Itu e vinculada à Fundação Marcos Amaro – ainda não possuía um vasto material audiovisual produzido. “Museus e instituições com um tempo de vida maior já tinham registros em vídeos, áudios e imagens em maior quantidade, estavam mais preparados do que os museus mais jovens como nós”, afirma Raquel Fayad, diretora geral da FAMA.

A solução encontrada foi desenvolver uma série de materiais “alinhando os setores de comunicação e design, audiovisual, educativo, museologia e curadoria”, como explica Fayad, e marcar presença constante (com conteúdo disponibilizado diariamente) nas redes sociais e no site da instituição. Sediada em espaço que abrigou no passado uma indústria têxtil no centro de Itu, no interior de São Paulo, a FAMA abriga o acervo do colecionador e artista Marcos Amaro e promove exposições, cursos e editais. A instituição já organizou, entre outras, mostras de Bispo do Rosário e Louise Bourgeois e prepara, para um futuro próximo, uma grande exposição com desenhos, estudos e anotações de Tarsila do Amaral (leia aqui texto de Tadeu Chiarelli).

Seguindo a proposta de acompanhar as iniciativas de diversas instituições culturais do país neste momento de quarentena, recolhemos um depoimento de Fayad sobre o trabalho que a FAMA está realizando e as dificuldades enfrentadas durante a pandemia do coronavírus (leia abaixo). Em seguida, conversamos com Marcos Amaro sobre o trabalho de catalogação do acervo. 

Raquel Fayad – “Este momento de quarentena por conta da pandemia colocou os museus em uma situação que, por um lado, impossibilitou a presença física do público, mas por outro provocou um olhar para o que as instituições podem promover para um público virtual.

Museus e instituições culturais com um tempo de vida maior, com mais histórico, já tinham registros em vídeos, áudios e imagens em maior quantidade, estavam mais preparados do que os museus mais jovens como nós. Talvez porque o mundo globalizado sinalizava este caminho, ou talvez por conta de algum outro momento de impedimento ter despertado esta necessidade.

Mas então como preparar conteúdos construtivos e interativos em um momento em que a equipe do museu está em home office? Como pensar situações possíveis para a manutenção do quadro de funcionários, impedidos de estar presencialmente para atender, receber e desenvolver ações no espaço?

Mais do que querer fazer como este ou aquele museu, acreditamos que nossa riqueza está nessa realidade de instituição jovem, com um corpo de mediação jovem e criativo, orientado pelos profissionais competentes e experientes que compõem a FAMA. A estratégia foi essencial para começarmos a divulgar nas nossas plataformas, nas mídias digitais, o que comporia o histórico deste momento, a partir de registros que temos e do que era possível fazer. A escolha foi fazer um exercício de composição, de olhar para as partes e criar um todo que se complementa a cada dia, criando relações temáticas, curatoriais e de conteúdo.

O projeto ‘Quarentena – #FAMAonline’ foi composto por uma série de conteúdos, um para cada dia da semana, além de atividades extras como o curso de desenho e o podcast. O que nos move, como equipe, é o desafio e a crença na arte. E este momento é um grande desafio para a nossa vida. É viver uma programação sem data, sem saber o que e quando será. É aprender a usar a percepção em outro nível, de modo atento à todas as informações e notícias que surgem a cada segundo.

É estar atento também à equipe, à saúde física e mental em tempos de confinamento, aos nossos desejos, nossas capacidades e incapacidades, à situação financeira e jurídica. É o momento de sobrevivência. Algo que gera no ser humano uma força e criatividade imensas. Mais do que sobreviver, precisamos viver e agir.

O momento ficou ideal para focarmos na catalogação, organização e documentação do acervo da FAMA (leia abaixo). Momento ideal também para ampliarmos a capacitação do Educativo, sob orientação da coordenadora Carla Borba e dos curadores Ricardo Resende e Ana Carolina Ralston. Os curadores e os mediadores criaram, desenvolveram e gravaram vídeos sobre os artistas pesquisados, além de o Educativo estar produzindo atividades de oficinas de arte.

Com uma direção e produção executiva que alinha os setores de comunicação e design, audiovisual, educativo, museologia e curadoria, nosso resultado está sendo ótimo e tem nos ensinado mais, com detalhes e curiosidades, sobre o nosso acervo, equipe e público. 

A partir disto, promovemos uma série de ações e atividades culturais, artísticas e educativas nas nossas redes sociais – sob o título de #FAMAonline -, disponibilizadas no nosso site, no Facebook e Instagram todos os dias. Elas são o #ObrasComentadas, #FAMAéCultura, #QuizFAMA, #TBT, #EducativoFAMA, #AcervoFAMA e #FAMINHA vai até você (saiba mais aqui).

Em paralelo, divulgamos o “Curso Básico de desenho em tempos de confinamento”, com as artistas Adalgisa Campos e Marcia Pastore, em que selecionamos 15 participantes para dois encontros semanais de abril à junho. E os encontros do Edital Meios e Processos 2020, que começariam em abril na FAMA, tiveram início online para as apresentações iniciais. O grupo seguirá em contato virtual com a orientadora Katia Salvany e o curador Andrés Hernandéz.

Em junho inauguraremos o #PodcastsFAMA, sendo a primeira série sobre a História da Arte, ministrado pelo Prof. Luis Armando Bagolin, com 6 episódios. E em agosto ficará pronto o #aplicativoFAMA. Temos como objetivo, estreitar a relação e diálogo com o nosso público, mesmo estando distantes.”

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Por dentro do acervo – Impossibilitado de abrir suas portas a pesquisadores e visitantes, a FAMA (Fábrica de Artes Marcos Amaro) elaborou uma estratégia nova, que atende um duplo objetivo: facilita o acesso, mesmo que virtual, à sua coleção, e amplia o trabalho de organização interna de suas obras. A ideia é lançar, aos poucos, uma série de catálogos online que reproduzam na íntegra as obras de uma série de artistas com representação significativa no acervo. O primeiro trio já tem sua primeira edição pronta e contempla os trabalhos de Farnese de Andrade, Amadeo Luciano Lorenzato e Flávio de Carvalho, cada um deles com cerca de 15 obras.

Num primeiro momento, essas publicações virtuais contemplam sobretudo as obras, mas a intenção é agregar aos poucos textos analíticos sobre os artistas e os trabalhos, assinados pela equipe de curadoria do museu (Ricardo Resende e Ana Carolina Ralston), bem como por críticos convidados. Segundo Marcos Amaro, fundador do FAMA, a escolha de três autores importantes de meados do século 20 para iniciar a divulgação das publicações on-line foi apenas uma coincidência. A coleção da instituição, que abriga a maior parte das aquisições feitas por ele desde 2008, quando iniciou o acervo, é bastante eclética, indo desde uma Nossa Senhora das Dores, de Aleijadinho, até obras contemporâneas. No total, são cerca de 5 mil itens. Dentre os artistas mais bem representados no acervo, Amaro cita nomes como Goeldi, Nuno Ramos, Samico e Carmela Gross.

A opção por essas leituras monográficas, em que as imagens das obras ganham um forte destaque, nasce de uma pesquisa empírica. Durante semanas, Amaro observou as propostas de relação interativa veiculadas desde o início da pandemia por diferentes instituições e concluiu que a fotografia ainda é a forma que permite uma relação mais efetiva com a obra. “Essa ainda é a melhor maneira de dar força para a coleção e torná-la um centro de pesquisa”, conclui ele.


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