Gaudêncio da Conceição durante Festa de São Benedito, Conceição da Barra, ES, c. 1989. Crédito: Walter Firmo/Acervo IMS.
Gaudêncio da Conceição durante Festa de São Benedito, Conceição da Barra, ES, c. 1989. Crédito: Walter Firmo/Acervo IMS.

A partir de 30 de abril, 266 fotografias do fotógrafo carioca Walter Firmo passam a ser exibidas por dois andares do Instituto Moreira Salles de São Paulo (IMS Paulista). As imagens datam do início da sua carreira, na década de 1950, até os dias de hoje, mostrando diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas. Grande parte das obras em Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018 em regime de comodato. No dia da abertura (30/4), às 11h, haverá um debate presencial com o fotógrafo e os curadores da exposição no cineteatro do IMS Paulista.

A curadoria da mostra é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. A retrospectiva também conta com assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos e pesquisa biográfica e documental de Andrea Wanderley, integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS.

A exposição apresenta a obra fotográfica de Firmo a partir de sete núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores de grande formato, produzidas pelo fotógrafo ao longo de toda sua carreira. Há fotos feitas em Salvador (BA), como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados, de 2002; em Cachoeira (BA), como o retrato da Mãe Filhinha (1904-2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra (ES), onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928-2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras. A retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade. Sobre seu processo criativo, o artista comenta: “A fotografia, para mim, reside naqueles instantes mágicos em que eu posso interpretar livremente o imponderável, o mágico, o encantamento. Nos quais o deslumbre possa se fazer através de luzes, backgrounds, infindáveis sutilezas, administrando o teatro e o cinema nesse jogo de sedução, verdadeira tradução simultânea construída num piscar de olhos em que o intelecto e o coração se juntam, materializando atmosferas”.

Maestro Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho), Rio de Janeiro, RJ, 1967. Crédito: Walter Firmo/Acervo IMS.
Maestro Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho), Rio de Janeiro, RJ, 1967. Crédito: Walter Firmo/Acervo IMS.

Como um dos destaques, a exposição apresenta retratos de músicos produzidos por Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque. A mostra também traz fotografias realizadas para a matéria 100 dias na Amazônia de ninguém, publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Firmo recebeu o Prêmio Esso de Reportagem. Para a matéria, que contou com textos e imagens de sua autoria, o fotógrafo percorreu cidades e povoações ribeirinhas do Amazonas e do Solimões, documentando as paisagens, disputas políticas da região e a população, que incluía alguns de seus familiares.

Nascido em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém –, Walter Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York.

Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral. “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou”, explica.

Para mais informações sobre a visita à exposição basta clicar aqui.


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