Bernardo Mosqueira, curador e diretor artístico do Solar dos Abacaxis. Foto: Mason Wilson
Bernardo Mosqueira, curador e diretor artístico do Solar dos Abacaxis. Foto: Mason Wilson

Bernardo Mosqueira não para. O Solar dos Abacaxis, do qual é diretor artístico, anunciou para o dia 18/11 a abertura da primeira mostra de artistas residentes de sua Oficina Solar, em seu novo endereço. Participarão os cariocas Ana Bia Silva, Janice Mascarenhas, Fujioka e Loren Minzú, e ainda Anti Ribeiro, de Recife (PE) e Carchíris, de São Luiz (MA); de fora do Brasil, estão Carolina Favre (Argentina) e GianMarco Porru (Itália). Antes, dia 4/11, ocorre o encerramento da exposição inaugural da nova sede da instituição carioca, Vida Transbordante e os Desejos do Mundo, uma coletiva com obras de 11 artistas, muitas delas inéditas. A proposta curatorial é assinada por Lorraine Mendes – assistente de Igor Simões em Dos Brasis –, Mosqueira, Ana Clara Simões Lopes e Catarina Duncan.

Participam da coletiva os artistas Denise Alves Rodrigues (MT), Dyó Potiguara (RJ), Efe Godoy (MG), Felipe Meres (RJ), Iah Bahia (RJ), Juno B (CE), Luana Vitra (MG), Manfredo de Souzanetto (MG), Patricia Dominguez (Chile), Rubens Takamine (RJ) e Zheng Bo (China). Neste sábado (21), Transbordante e os Desejos do Mundo realiza seu terceiro e último ciclo, uma programação especial do projeto educativo, destinada a alunos da rede pública de ensino.

O Solar também fez uma chamada aberta para o envio de obras para a exposição Corações à Desmedida, em homenagem à fotógrafa e pintora Rochelle Costi, morta em novembro do ano passado. As inscrições vão até 29/10, e os trabalhos devem ser encaminhados a instituição entre os dias 30/10 e 6/11. A mostra vai acontecer em paralelo à dos artistas residentes.

Em junho, Mosqueira foi anunciado como o primeiro curador-chefe do Institute for Studies on Latin American Art, em Nova York. Uma de suas primeiras missões no ISLAA, que esteve envolvido na exposição Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985, em 2018, na Pinacoteca de São Paulo, é a abertura ao público, em 28/10, da nova sede em Tribeca. Ao mesmo tempo, ele permanece permanece no Comitê Curatorial do Prêmio Foco da ArtRio, do qual foi idealizador, e que em 2023 completou uma década.

O Solar dos Abacaxis foi fundado em 2015, no casarão histórico do Cosme Velho que leva seu nome. Em dezembro do ano passado, a instituição se mudou para um sobrado de três andares na Rua do Senado, no centro do Rio, onde em setembro, após reformas, fez a primeira mostra inaugural. Na edição deste ano da ArtRio, fez mais uma edição de seu edição Halo Solar, o Círculo de Apoiadores da organização sem fins lucrativos, apresentando 36 fotos inéditas produzidas por Ayrson Heráclito – artista participante da 35ª Bienal de São Paulo e curador de Reversos e Transversos, em cartaz até 28/10 na Galeria Estação –, com imagens dos elementos usados no candomblé para curas e tratamentos.

Apesar do novo cargo no ISLAA, o Solar, no entanto, não perde espaço (ou tempo) na agenda de Mosqueira, um de seus fundadores. Em entrevista à arte!brasileiros, o também curador, pesquisador e escritor conta que o Solar nasceu num ambiente de “oposição ao sistema institucional do Rio”, por meio de exposições na rua ou da criação de instituições temporárias, entre outras experimentações propostas por “uma geração que estava mais radicalmente pensando a inclusão de artistas e formas de prática artística que vinham sendo relegadas às margens”.

O Solar dos Abacaxis, prossegue Mosqueira, surge de um cruzamento dos anseios de duas gerações, entre os anos 1990 e 2000: de um lado, desejava-se criticar modelos institucionais e criar novos; de outro, havia um interesse em refletir como inserir quem não estava fazendo parte de tais instituições. “Uma prática que busca construir outras modalidades institucionais que pudessem dar conta de outras formas de vida, de outras formas de sentir e pensar, de produzir resultados mais alinhados com uma certa ideia de justiça ou de construção, no presente, de outras possibilidade de viver”, explica Mosqueira.

Mais de exposições depois, Mosqueira pondera que o Solar dos Abacaxis é, hoje, um “projeto robusto”. “Estou vivendo hoje coisas que a gente sonhou e planejou lá em 2015”, diz. Sonhando a seu lado, estava o arquiteto Adriano Carneiro de Mendonça, hoje diretor executivo do Solar, cuja primeira sede era pertencente a sua família. “Quando nos conhecemos, por meio da artista Marina Simão, ele entendeu rapidamente qual era minha proposta. Com o tempo, entendemos que  o Solar, institucionalmente, não dependia da casa. Estávamos gastando mais tempo. energia e pensamento com aquele imóvel [que cogitaram comprar] do que com a nossa missão de fato”.

Mosqueira conta que ficaram “nômades” por cerca de um ano e meio, em que fizeram exposições em parceria com outras instituições, como a residência Bela Maré , outra com o MAM Rio, uma série de ações em Recife, São Paulo e outras cidades do Rio enquanto procuravam uma nova sede. Em Nova York, antes do ISLAA, Mosqueira fez um mestrado, mas reputa à experiência com o Solar a expertise que leva agora para cargo de curador-chefe do instituto.

“Aprendi fazendo o Solar, literalmente construindo-o, o que é a plasticidade de uma instituição, como é possível criar uma instituição de outras formas. Portanto é algo mais da prática institucional do que curatorial que eu trago bastante do Solar para o ISLAA”, reflete. “Um dos princípios do Solar é a ideia de que a gente não tem a menor obrigação de repetir formas de ser institucionais antigas e que não dizem respeito aos nossos valores. No ISLAA, essa experiência é muito importante porque o instituto não tem um formato convencional, não é um museu, uma galeria, uma agência, um embaixada. Não tem um modelo específico”.

Mosqueira também explica que parte de suas responsabilidades no novo cargo é cuidar da coleção do ISLAA, mas, sobretudo, organizar exposições a partir dela – segundo o curador, o acervo é muito extenso, rico e complexo – e fazer aquisições para complementá-la. Uma das futuras mostras, prevista para ser aberta em 28/10, revisita O princípio Potosí, apresentada em 2010 no Reina Sofía, entrelaçando-a com a coleção do instituto. “É um momento de grande expansão, cujo grande objetivo é fortalecer sua dimensão pública, não apenas por meio da construção da nova sede, mas ao criar novas parcerias, fazer novas publicações novas e estabelecer novos protocolos internas e externos”, diz. “Essa é das coisas que eu mais gosto de fazer: inventar a forma de fazer”.

 

 

 

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