Augusto de Campos e Julio Plaza, "Poemóbiles". Foto: Divulgação/Almeida & Dale
Augusto de Campos e Julio Plaza, "Poemóbiles". Foto: Divulgação/Almeida & Dale

Em cartaz até 18 de março na Casa Zalszupin, a exposição Sarau Zalszupin – Utopias Modernistas Brasileiras foi uma feliz coincidência para seu curador, Iatã Cannabrava. Mas foi também uma provocação. Há alguns anos, Cannabrava havia apresentado à Almeida & Dale – galeria que mantém o espaço expositivo em parceria com a ETEL – um projeto de mostra que misturava fotografia moderna com poesia concreta, que, segundo ele, “visualmente, tinham um caminho muito similar”. A proposta foi aceita, mas somada ao desafio de que ele traçasse um terceiro vértice em sua curadoria: o mobiliário modernista.

Também fotógrafo, Cannabrava conta que esta é sua primeira exposição que não envolve somente o suporte. Diante do desafio, ele conta que passou meses procurando uma parceria. Acabou contando com a ajuda do jornalista Tato Coutinho, com quem, ao longo de dois anos, havia editado um livro para o Itaú Cultural, o Moderna para sempre: Fotografia modernista brasileira na Coleção Itaú Cultural. A publicação é resultado de um conjunto de itinerâncias da exposição homônima, feita no Brasil e em outros países da América Latina, entre 2010 e 2019, período em que a coleção foi se completando.

Em comunicado de imprensa, o curador afirma que a exposição “festeja a utopia modernista brasileira insinuada na produção reunida aqui. São obras marcadas pelo desejo de invenção, pela busca de uma linguagem própria capaz de dar conta, mais do que da realidade em si, da necessidade de transformação da realidade que se apresentava então”.

Na mostra, Cannabrava sugere conexões visuais entre criações de épocas, suportes e autores completamente distintos. Na sala de estar, ele tirou partido da arquitetura da casa projetada por Jorge Zalszupin que “é um convite a ver, de outra maneira, tudo que tem nela e do lado de fora”, disse ele, à arte!brasileiros. Por exemplo: o curador iluminou, com uma luz amarela, uma árvore de tronco e raízes impactantes da área externa, vista através de um pano de vidro, e, na parede ao lado, colocou fotografias como Folhagem (c. 1960) e Decorativa (c. 1950), de José Yalenti, assim como Folhas (c. 1951), de Carlos Líger.

Noutro canto da sala, Cannabrava insinua associações entre ângulos de A caça do índio do Alto-Xingu (c. 1947), de Jean Manzon, e Diana (c.19450), de José Yalenti, com aqueles  da mesa lateral Ninho (1949), de Lina Bo Bardi, por exemplo. Outro nexo proposto pelo curador é um desenho de 1956 de Lúcio Costa, para o Plano Piloto de Brasília, e a fotografia Aldeia de Índios Brasileiros (1944/1947), também de Manzon. Ainda ali, a circularidade presente na foto Espiral (1944), de Gaspar Gasparian, conversa com a mesa Pétala (1959), de Zalszupin. “A forma vem como reflexão, e eles, os modernistas, tinham reflexões comuns, cada um no seu território, ou trilha”, comenta o curador.

Cannabrava valeu-se ainda da criativa arquitetura de Zalszupin para dispor, num volume cúbico que outrora abrigava a lareira da morada, os poemas concretos Ver navios (1958), Crystal (1958) e White (1957), de Haroldo de Campos. Do segundo, Cannabrava consegui o original datilografado, pertencente ao colecionador Fernando Abdalla, e o poema está disposto logo ao lado da lareira, no encosto do sofá de alvenaria.

Ao descer em direção ao pátio da casa, Cannabrava criou um ambiente dedicado à poesia visual. Recorre novamente à arquitetura de Zalszupin para expor obras como Solida (1962), de Wlademir Dias-Pino, num nicho. O poema The Bird (anos 1950), também de Dias-Pino, surge na parede logo à frente. Numa prateleira, o curador expõe uma reedição de 1984 do livro Poemóbile (1968), colaboração do espanhol Julio Plaza e Augusto de Campos. Outra obra dos artistas, Objetos (1969), está em exibição no mezanino da casa.

A exposição ocupa outros dois cômodos, no segundo andar da morada. Num deles, Cannabrava emula o cubo branco de uma galeria para criar um diálogo entre as fotografias Janela (c. 1960) e Composição em preto e branco (c. 1960), de Eduardo Salvatore; Abstração (1957), de José Oiticica Filho, e Fotoforma (1950), de Geraldo de Barros, com o poema Form (1959), de José Lino Grünewald, e a poltrona Módulo (1977), de Oscar Niemeyer.

“Esta é a sala do projeto inicial, a poesia concreta diluída no meio da fotografia moderna, e vice-versa. As duas trilharam caminhos similares, ao romper com o referente e apresentar reflexões na forma. E, ao não ter cor, a sala volta às origens da minha pesquisa sobre fotografia moderna”, conclui o curador.

 

SERVIÇO

Sarau Zalszupin – Utopias Modernistas Brasieiras
Curadoria: Iatã Cannabrava
Até 18 de março
Visitação: segunda a sexta-feira, das 10h às 17h; sábados, das 10h às 14h
Entrada: gratuita, por agendamento, no site mediante agendamento no site casazalszupin.com

 


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