Imagem horizontal, colorida. CELESTINAS, de Penna Prearo, exposta em LABIRINTOS REVISITADOS, exposição no Sesc Bom Retiro
"Celestinas", Penna Prearo. Foto: Divulgação

“Mais do que um fotógrafo, Penna é um construtor de imagens”. A frase do produtor e curador Baixo Ribeiro ganha mais sentido ao caminharmos por Labirintos Revisitados, em cartaz no Sesc Bom Retiro, em São Paulo. Traçando diálogos com referências artísticas do universo da pintura e da cinematografia, os trabalhos expostos compõem narrativas que se aproximam de cenas oníricas e ficcionais. Com curadoria de Agnaldo Farias e cocuradoria de Baixo Ribeiro, a nova individual de Penna Prearo reúne 49 fotografias. Apesar da longa trajetória do artista, a mostra enfoca trabalhos recentes, produzidos nos últimos três anos. “Não é uma exposição retrospectiva e isso para mim conta muito. Eu tenho cá comigo, firme, que mesmo com 50 anos de estrada, se eu estou vivo e produzindo, eu não estou retrospectando nada”, compartilha.

As cores saturadas, as diferentes texturas e as interferências visuais nos saltam aos olhos. Como destacam os curadores, há décadas Penna Prearo quebrou o (discutível) pacto que impõe à imagem fotográfica o dever de capturar uma fração do mundo, de forma transparente. “Passou a fazer da imagem fotográfica um bumerangue que bate no mundo para voltar repicando sobre si”, escreve Agnaldo Farias no texto curatorial. “Essa imagem dá uma autêntica descrição do que a gente sente quando olha o trabalho do Penna. Não são imagens comuns, não são imagens simples. Não estão representando nada. Então, quando elas vêm, nos capturam, nos ocupam a vista e a percepção”, complementa Baixo Ribeiro.

“Para mim, a fotografia mudou completamente de eixo”, diz o artista, que acredita que desde o início do seu trabalho esse eixo já estava deslocado da captura do real. “Com o tempo, fui dominando essas ferramentas [da fotografia] – ferramentas de pensar, inclusive. No começo, por exemplo, tive que criar coragem para sair da foto única e montar esses painéis com muitas imagens – isso faz muito tempo, já. Eu falo criar coragem, porque foi exatamente isso que aconteceu. Eu liguei para dois, três amigos para saber se eu podia fazer isso… Imagina! Você pode fazer tudo que você quiser. Então, eu fui me libertando dos parâmetros mais óbvios da fotografia, que é o documento”, conta. Assim, mergulhou seu trabalho em outra lógica, e através do tratamento digital, construiu suas imagens.

A arte!brasileiros visitou a exposição e conversou com o cocurador e com o fotógrafo Penna Prearo. Confira:

Mais um dos parâmetros da fotografia do qual Penna Prearo se libertou foi a necessidade de uma câmera fotográfica profissional. Aos 71 anos, o artista lida com Parkison há cerca de sete. “Afetou a mão direita, mão da câmera e do mouse. O mouse eu me adaptei com a esquerda e passei a usar canetinha digital. Com a máquina eu sempre usei muito tripé, mas a câmera pesada eu não dou mais conta, porque a mão direita ficou quase que inerte”, assim passou a construir suas imagens a partir de um aparelho celular.

“Aí, eu não mordo a isca de que o celular mudou meu trabalho, facilitou. Ele melhorou. É uma ferramenta muito oportuna e veio na hora certa. E para mim resolver a questão, eu não parei de trabalhar. Eu trabalho todo dia, todo dia. Quer dizer, todo dia eu finalizo uma imagem e ao menos assim eu poderia fazer uma exposição do tamanho dessa, fazer umas duas iguais”. E complementa: “A coisa do Parkinson e da idade começou a mostrar que o que a gente sempre achou que a vida é curta, você descobre que o tempo é curto mesmo. E o celular nessa hora, então, joga pra frente.”


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