
Entre o fim de 2019 e o início de 2020, a fotógrafa Dani Tranchesi havia iniciado um novo projeto, sobre festas religiosas no Brasil. Chegara a registrar as comemorações em torno de Santa Bárbara, em 4 de dezembro de 2019, em Salvador, onde o sincretismo também comemora, nesse dia, a orixá Iansã. E, em 2 de fevereiro, fotografara as homenagens a Iemanjá, também na capital baiana. Já havia programado, entre outras, uma viagem a Nova Jerusalém, em Pernambuco. Veio a pandemia, e os planos foram interrompidos.
A quarentena imposta pela crise sanitária acabou fazendo com que Dani e o curador Diógenes Moura, colaborador recorrente dela, repensassem parcialmente os planos. “Eu me perguntei se o foco deste novo livro deveriam mesmo ser as festas, ou se a religiosidade no Brasil é muito maior e vai além delas. Será que minha fotografia de rua e estas pessoas que registro não têm também a ver com o tema?”, questiona a fotógrafa que, no entanto, não abriu mão das festividades religiosas, agora que a pandemia permite viajar, ao menos.
“Ampliamos o projeto. Obviamente vou para algumas festas, como o São João no interior do Maranhão, aonde irei acompanhada do Márcio Vasconcelos, um fotógrafo maranhense, que por sua vez convidou um antropólogo local para nos ajudar. Em setembro, também vou a uma procissão de caminhões enfeitados que acontece em Juazeiro do Norte, no Ceará. O trabalho passará a incluir registros do interior do Brasil, seus costumes, suas casas, retratos das pessoas. E Diógenes Moura, que também é escritor, fará crônicas sobre os lugares”, conta Dani.
Batizado de Seja o Que Deus Quiser, o livro em gestação será lançado no primeiro semestre de 2023. O título, afirma Dani, reflete um pouco de seu processo de criação na fotografia. “Não há uma programação rígida, ninguém sabe o que vai acontecer ao longo do caminho”.

Nascida em Concórdia (SC), Dani Tranchesi se mudou ainda criança para São Paulo, em 1974. Quando estava por completar 15 anos, em vez de uma festa de debutante, pediu à mãe dois presentes: passagens para Curitiba, onde havia estudado e mantinha amigos de infância e adolescência, e uma câmera. “Olhando para trás, vejo que estavam ali as minhas duas grandes paixões: as viagens – tanto faz se pelo Brasil ou pelo mundo, para conhecer pessoas e outras culturas – e a fotografia. Ela, então, sempre esteve presente”, afirma.
A primeira câmera de Dani Tranchesi foi uma Canon, marca que se tornou sua preferida ao longo dos anos. Hoje, ela tem duas grandes – “uma delas tem 50 megapixels, algo muito importante, porque faço impressões grandes” -, mas mantém também à mão uma pequena. “É muito boa para a rua. Traz agilidade e sobretudo discrição. Se eu estou num lugar que imagino ser mais perigoso, prefiro levá-la, porque aí ninguém percebe muito. Quando eu sinto tranquilidade, pego uma das maiores”.
Depois de ganhar a primeira Canon, Dani fez cursos livres de fotografia e levava uma câmera sempre consigo. Formou-se em Comunicação na Escola Superior de Propaganda e Marketing, mas não desistiu de sua vocação artística. “Eu sabia que me faltavam técnica e conhecimento. Daí fui para a Escola Panamericana, onde aprendi a fazer projetos. Eu era obrigada a sair de casa, conceber e executar um projeto, em São Paulo mesmo. E o último trabalho que fiz para o curso foi justamente sobre as feiras livres, uma ideia que acabei recuperando no livro e na exposição 3 é 5 [apresentada na Galeria Nara Roesler do Rio, entre fevereiro e março deste ano]”.
Em 3 é 5, Dani mostrou registros do dia a dia das feiras públicas em São Paulo. Também foi um projeto afetado pela pandemia, até o momento em que a fotógrafa descobriu que justamente as feiras haviam recebido a permissão de continuarem abertas. A primeira que registrou foi no bairro de Campos Elíseos, e que ocorre sempre aos sábados. Depois vieram as de Santa Cecília e do Bexiga.



“Fiquei encantada com aquele mundo, o colorido, aquelas pessoas, eu ia nas madrugadas acompanhar as montagens, voltava à tarde para ver a limpeza e fui me relacionando com as pessoas, porque muitos daqueles trabalhadores estão nas mesmas feiras. Ter essa relação me permitiu chamá-los para fazer os retratos que mostro também no livro. Eu levava painéis, punha tecidos, era algo bem mambembe, parecido com algo que fotógrafos africanos faziam maravilhosamente bem”, conta.
Entre fevereiro e março de 2020, Dani havia levado à Galeria Estação, que a representou de 2016 a 2021, sua primeira colaboração com Diógenes Moura: o livro e a exposição Lindo Sonho Delirante, com imagens produzidas entre 2018 e 2019. “Eram como dípticos, paralelos entre o centro de São Paulo, do morador de rua aos viadutos, e o interior das casas da Ilha de Marajó. O lado cinzento da cidade em contraste com a beleza, do colorido dos tecidos, das panelas brilhantes daquelas moradas”, explica.
Após sair da Estação, Dani se viu diante de uma oportunidade: uma sala contígua a seu espaço de trabalho, no Itaim Bibi, ficou vaga, e ela criou ali o Estúdio 41, onde voltou a apresentar a mostra 3 é 5, entre agosto e setembro do ano passado. Em 31 de maio, ela abriu no espaço a exposição Lugares, do fotógrafo piauiense Luiz Fernando Dantas e com curadoria de Rosely Nakagawa. A mostra fica em cartaz até 16 de julho e Dani faz questão de ressaltar que o lugar não se trata de uma galeria convencional.






“Eu jamais quis ter uma galeria e lidar com artistas permanentemente, representá-los, cuidar de acervos, apresentar sua produção a instituições etc. Mas queria poder fazer trocas, especialmente com pessoas que não têm galeria. Algo mais leve, que trouxesse a oportunidade de mostrar coisas novas para as pessoas”, conta. “Então achamos este modelo, em que o Diógenes faz a direção artística, tudo passa pelo crivo dele. E abrigamos mostras por um período de dois meses”.
Uma “fotógrafa de rua” por excelência, como gosta de salientar, Dani carrega sempre consigo uma câmera e também faz eventuais registros com seu celular, esteja ela num carro ou andando. Os fotógrafos que a inspiram são muitos: do trabalho contundente do brasileiro Miguel Rio Branco às “coisas gigantes” produzidas pelo alemão Andreas Gursky. As viagens continuam ser uma grande fonte de inspiração também, claro, mas Dani está sempre atenta às mostras de artes visuais e fotografia, onde quer que esteja.
“Elas me trazem novas ideias. Eu adoraria, por exemplo, um dia pintar sobre minhas fotos. Já tentei fazer algumas intervenções com velas. Mas não tenho muito, ainda, habilidades manuais. Uma vez fui fazer um curso com a Pinky Wainer chamado ‘Aprendendo a Machucar Imagens’. Foi muito difícil para mim, porque eu não conseguia. E a Pinky falava para mim que eu precisava ser um pouco menos certinha, menos limpinha, menos elegante”, conta. “Pode ser que eu me volte um pouco para isso, para usar na fotografia”.
Detalhes
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Depois de atrair quase 1 milhão de visitantes com a exposição “Dos Brasis – arte e pensamento negro” – considerada uma das maiores mostras dedicadas exclusivamente à produção negra nacional -, o Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, abrirá, neste sábado (24/5), um novo projeto expositivo que promete grande repercussão. Trata-se de “Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência“, que reunirá obras e performances de artistas indígenas aldeados de diferentes partes do país.
A mostra será aberta em etapas – ou em “fogueiras”, terminologia utilizada pela curadoria do projeto. Ela é assinada pela antropóloga e ativista indígena Sandra Benites e pelo curador-chefe do Museu de Arte do Rio (MAR), Marcelo Campos, com a assistência de Rodrigo Duarte, artista visual e ativista socioambiental. O termo fogueiras (TATA YPY, a origem do fogo, em guarani) faz referência às práticas culturais ancestrais de reunião ao redor do fogo. Para a mostra, a palavra se refere aos encontros e debates que abrem cada etapa da exposição.
“É nas fogueiras que há compartilhamento e diálogo aquecido pela força e afeto. É o lugar de encontro de uma comunidade, um lugar de debate, tomadas de decisões, recontar nossas histórias e acordar memórias”, explicam os curadores.
Andrey Guaianá e debate com lideranças indígenas
A primeira fogueira, neste sábado (24/5), será marcada pela inauguração da obra comissionada de Andrey Guaianá Zignnatto, na Galeria Brasil, e por uma conversa entre público, artistas e lideranças indígenas no Salão das Convenções. Participarão Lutana Kokama, Vanda Witoto, Iracema Gãh Té Kaingang e Alice Kerexu Takua, além da curadora Sandra Benites. A atividade, que acontece das 14h às 17h, tem entrada franca. Também haverá transmissão ao vivo através de um link que será disponibilizado em www.sescrio.org.br.
Nascido em Jundiaí (SP), descendente de povos Tupinaky’ia e Gûarini, Andrey é reconhecido por trabalhos que fazem referência ao universo do labor. Neto de pedreiro, do qual foi ajudante quando criança, Andrey utiliza em suas obras materiais como sacos de cimento, tijolos, juntas de argamassa e fragmentos e sobras de intervenções urbanas. Sua intenção é provocar uma reflexão sobre a relação instável e dinâmica que o ser humano estabelece com o meio que o cerca.
Diversidade de povos
A fogueira seguinte será no dia 7 de junho, com o desenvolvimento das obras comissionadas, ou seja, desenvolvidas exclusivamente para a mostra. O público poderá acompanhar o processo de criação dos trabalhos, que envolverá instalações, pinturas e ilustrações. As peças serão criadas por artistas e coletivos de Amazonas, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dos povos Desana, Baniwa, Anambé, Guarani Nhandeva, Xavante, Guarani, Mbya e Karapotó.
A composição do projeto prossegue no dia 10 de julho, coincidindo com o Festival Sesc de Inverno, quando serão apresentadas obras audiovisuais, incluindo mapping, e inaugurada a obra da artista Tamikuã Txihi no entorno do lago Quitandinha. Para o dia 9 de agosto está prevista a última fogueira, que completa a exposição, com obras que remetem à arte e à memória. A mostra se estenderá até fevereiro de 2026.
Serviço
Exposição | Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência
De 24 de maio a 24 de fevereiro
Terça a domingo e feriados, das 10h às 16h30
Período
24 de maio de 2025 10:00 - 24 de fevereiro de 2026 16:30(GMT-03:00)
Local
Centro Cultural Sesc Quitandinha
Avenida Joaquim Rolla, 2, Petrópolis, Rio de Janeiro - RJ
Detalhes
Como se constrói uma exposição de arte? Qual o papel de um curador de uma coleção? Na 69ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural, somos convidados a conhecer a trajetória
Detalhes
Como se constrói uma exposição de arte? Qual o papel de um curador de uma coleção? Na 69ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural, somos convidados a conhecer a trajetória de um dos mais importantes pesquisadores das artes no Brasil, o curador, gestor cultural, crítico de arte e artista Paulo Herkenhoff.
A mostra – com curadoria de Leno Veras e da equipe do Itaú Cultural – apresenta documentos, fotografias, livros, obras de arte e diversos de seus cadernos de anotação para se debruçar sobre três aspectos fundamentais do trabalho de Paulo: o colecionismo, a curadoria de exposições e a edição de publicações de arte.
Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, nosso homenageado tem um trabalho marcado pela investigação profunda da história da arte, da cultura e de seus protagonistas; pela tessitura de redes de saber e pelas ações estruturantes em museus e organizações nas quais atua, sempre preocupado com o fortalecimento das bases que sustentam as instituições culturais, garantindo sua perenidade e permanência. Como gestor e crítico, se engaja na construção de coleções e análises críticas que olhem e representem, de fato, a multiplicidade que constitui o país, e a transmissão de seus saberes inerentes.
Na juventude, ainda em Cachoeiro de Itapemirim, Paulo Herkenhoff cresceu imerso em uma escola criada e gerida por sua família. Foi nela onde começou a trabalhar na biblioteca aos 10 anos, ministrou aulas aos 14 e montou sua primeira curadoria, uma mostra dedicada ao estado da Paraíba, aos 6 anos. Frequentou a Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim, fundada por Isabel Braga em 1950 e, na década de 1970, foi aluno do artista Ivan Serpa. Foi inclusive enquanto aluno de Serpa que Paulo começou a carreira artística. Sua receptividade foi imediata, sendo premiado no Salão Universitário da PUC-Rio, no Salão de Verão, na exposição Valores Novos e na VII Jovem Arte Contemporânea. Nessa mesma década participou da Bienal de Veneza e da Bienal de Paris.
Seu sonho, desde a juventude, era trabalhar com diplomacia, que o leva a cursar Direito, carreira que deixaria de lado anos mais tarde para se dedicar à cultura e à arte. Foi Curador-chefe do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), Diretor Cultural do Museu de Arte do Rio (MAR), também com passagens pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), pelo Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA) e muitas outras organizações dentro e fora do Brasil. Foi responsável por curadorias que ficaram para a história da arte brasileira, como a 24ª Bienal Internacional de São Paulo, conhecida como a “Bienal da Antropofagia”; o Pavilhão brasileiro da 47ª Bienal de Veneza (Itália), o Salão Arte Pará, em dezenas de edições; o Tempo, no MoMA (Nova Iorque); Vontade Construtiva na Coleção Fadel, no MAM-RJ; entre outras. No Itaú Cultural, foi curador das mostras Investigações: o trabalho do artista (2000), Trajetória da Luz na Arte Brasileira (2001), Caos e Efeito (2011), Modos de Ver o Brasil: 30 anos do Itaú Cultural (2017) e Sandra Cinto: das Ideias na Cabeça aos Olhos no Céu (2020).
Além da exposição, a Ocupação Paulo Herkenhoff conta com um site e uma publicação – disponíveis na data de abertura – que expandem e aprofundam os conteúdos trabalhados na mostra, com textos do próprio homenageado, além de depoimentos de parceiros e pesquisadores sobre o legado de sua atuação para a arte brasileira.
Serviço
Exposição | Ocupação Paulo Herkenhoff
De 30 de agosto a 23 de novembro de 2025
Terça a sábado, das 11h às 20h, domingos e feriados, das 11h às 19h
Período
30 de agosto de 2025 11:00 - 23 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Sâo Paulo - SP
Detalhes
Em Jonathas de Andrade: Permanência Relâmpago, primeira exposição de Jonathas de Andrade (n. 1982, Maceió, Brasil) na galeria Nara Roesler São Paulo, o artista apresenta um novo corpo de trabalho com obras
Detalhes
Em Jonathas de Andrade: Permanência Relâmpago, primeira exposição de Jonathas de Andrade (n. 1982, Maceió, Brasil) na galeria Nara Roesler São Paulo, o artista apresenta um novo corpo de trabalho com obras totalmente inéditas em torno dos jangadeiros e canoeiros de Alagoas – sujeitos que fazem sua vida e trabalho através do mar do litoral e do Rio São Francisco, no sertão – e a relação com cores e abstração presentes nas velas e barcos.
Com curadoria de José Esparza Chong Cuy, diretor-executivo e curador-chefe da Storefront for Art and Architecture, em Nova York, Permanência Relâmpago abrange três conjuntos de obras dentro deste universo a que Jonathas de Andrade vem se dedicando nos últimos meses. Entre eles, estão trabalhos da pesquisa em andamento do artista para um comissionamento feito pelo Victoria and Albert Museum, em Londres, a convite de Catherine Troiano, curadora do departamento de fotografia da instituição. Em novembro de 2025, as obras produzidas por Jonathas de Andrade nesta pesquisa serão exibidas no V&A, quando passarão a integrar a coleção do Museu.
O título da mostra se refere ao nome de uma das jangadas fotografadas pelo artista, e que traduz poéticamente aspectos das vidas dos jangadeiros e canoeiros e que também toca nossas vidas de modo geral. “Esse título fala sobre algo que é muito fugaz e ao mesmo tempo permanente, que é a vida, é sobre esse estar muito rápido e ao mesmo tempo muito permanente. ‘Permanência relâmpago’ é também tocar de alguma forma os sentimentos abstratos da vida”, conta Jonathas de Andrade.
Em Jonathas de Andrade: Permanência Relâmpago, primeira exposição de Jonathas de Andrade (n. 1982, Maceió, Brasil) na galeria Nara Roesler São Paulo, o artista apresenta um novo corpo de trabalho com obras totalmente inéditas em torno dos jangadeiros e canoeiros de Alagoas – sujeitos que fazem sua vida e trabalho através do mar do litoral e do Rio São Francisco, no sertão – e a relação com cores e abstração presentes nas velas e barcos.
Com curadoria de José Esparza Chong Cuy, diretor-executivo e curador-chefe da Storefront for Art and Architecture, em Nova York, Permanência Relâmpago abrange três conjuntos de obras dentro deste universo a que Jonathas de Andrade vem se dedicando nos últimos meses. Entre eles, estão trabalhos da pesquisa em andamento do artista para um comissionamento feito pelo Victoria and Albert Museum, em Londres, a convite de Catherine Troiano, curadora do departamento de fotografia da instituição. Em novembro de 2025, as obras produzidas por Jonathas de Andrade nesta pesquisa serão exibidas no V&A, quando passarão a integrar a coleção do Museu.
O título da mostra se refere ao nome de uma das jangadas fotografadas pelo artista, e que traduz poéticamente aspectos das vidas dos jangadeiros e canoeiros e que também toca nossas vidas de modo geral. “Esse título fala sobre algo que é muito fugaz e ao mesmo tempo permanente, que é a vida, é sobre esse estar muito rápido e ao mesmo tempo muito permanente. ‘Permanência relâmpago’ é também tocar de alguma forma os sentimentos abstratos da vida”, conta Jonathas de Andrade.
Em sua trajetória, Jonathas de Andrade vem questionando os sistemas em transformação que moldam identidade, trabalho e memória. Suas instalações, filmes e obras conceituais atuam como arquivos vivos, reativando histórias orais, saberes marginalizados e tradições artesanais. Nas obras que integram Permanência Relâmpago, o artista se debruça sobre duas culturas de navegação presentes no Nordeste brasileiro: os jangadeiros da praia de Pajuçara, em Maceió, que navegam em jangadas de madeira e velas tradicionais, levando turistas às piscinas naturais, e os canoeiros do Rio São Francisco, no sertão de Alagoas, que usam canoas de velas quadradas duplas de grande escala, notavelmente gráficas para um circuito de competições sobre o rio, de forma recreativa e esportiva. Ambas manifestações representam culturas náuticas seculares transmitidas de pai para filho, praticadas por comunidades de pescadores e barqueiros, revelando um jogo cultural que tensiona intimamente tradição, patrimônio, turismo e economia.
A exposição terá três eixos de trabalhos. Na série Jangadeiros Alagoanos, Jonathas de Andrade usa como suporte as velas originais das jangadas marítimas, usadas na praia de Pajuçara, em Maceió, marcadas pelo sol e pelo uso. A cada estação, elas são substituídas por outras novas. O artista passou então a coletar essas velas coloridas de grande escala descartadas, que apresentam também pinturas feitas à mão, de anúncios de marcas diversas, que funcionam como renda complementar dos jangadeiros na disputada orla da elite alagoana.
Deixando apenas rastros desses anúncios, Jonathas de Andrade aplica sobre eles serigrafias monocromáticas com os retratos dos jangadeiros e roleiros (aqueles que empurram os barcos para dentro e fora do mar), personagens fundamentais deste circuito beira-mar. Com isso, o artista busca tensionar “o lugar tradicional da publicidade que ocupa aquele espaço, substituindo-o pelos rostos dos protagonistas, muitas vezes invisibilizados”. Dessa forma, ele subverte o lugar destinado às mensagens das propagandas, que agora estampam rostos, “deixando as mensagens originais fragmentadas e desconexas”. Nas serigrafias, as imagens dos trabalhadores em retículas, só perceptíveis quando vistas de perto.
As coloridas velas de três metros de altura cada são apresentadas em um sistema de bastidores que, ao enquadrar os retratos gravados sobre as velas, também fragmentam e inviabilizam a legibilidade das propagandas que outrora dominavam aquela superfície. O tecido da vela que resta após o enquadramento do bastidor, por sua vez, se comporta de maneira diferente a cada obra: o excesso de pano é ora recolhido atrás do bastidor, ora ganha um caráter escultórico, assumindo dobras, cordas, e volumes que podem se despejar da parede até o chão. Cada obra leva o nome do fotografado, como por exemplo na obra “Roleiro Maurício e a vela verde”.
Na segunda série que compõe a exposição, Canoeiros Neoconcretos, Jonathas de Andrade parte das velas de padrões gráficos ousados utilizados pelos canoeiros do Rio São Francisco, próximo à Ilha do Ferro, paisagem carregada de histórias de seca, migração e sobrevivência no Sertão. A série inclui os Metaesquemas-canoeiros, inspirados nos Metaesquemas de Hélio Oiticica, e outras composições baseadas no universo cromático e formal do artista carioca Ivan Serpa. As obras misturam campos de cor com a fotografia reticulada, própria da serigrafia, com a imagem do barco e seus barqueiros mergulhada em aspectos da pintura neoconcreta, unindo o design popular à abstração modernista.
Em outra série, Puro torpor do transe do sol,as velas gráficas dos barcos no Rio São Francisco inspiram composições abstratas com pintura automotiva, “dando volume escultórico e objetual aos campos de cor que atravessam o rio, na corrida das canoas e as velas gigantes”, comenta o artista. As obras, em serigrafia sobre folhas de sucupira, são acompanhadas por textos poéticos, escritos pelo próprio artista, e gravados em placas de acrílico.
O terceiro eixo da exposição é a estreia do filme Jangadeiros e Canoeiros (2025, 15′), que terá uma sala especial para sua exibição. No filme, Jonathas de Andrade costura o universo e o cotidiano dos protagonistas dos dois cenários distintos – o mar e o Rio São Francisco – propondo o fio narrativo a partir da relação deles com as cores e as formas, em um diálogo entre as manifestações populares e o universo cromático e afetivo.
O artista empenha seu particular equilíbrio entre aproximação documental e toques ficcionais, decupando o gestual e os movimentos de corpo repetidos ao longo de séculos, na medida em que inventaria as cores presentes nas jangadas e canoas bem como na vida e memórias dos protagonistas, através de trechos de falas captados em conversas com eles. Com foco nos gestos corporais e no trabalho coletivo de levar a jangada ao mar e trazê-la de volta, um ritual secular hoje entrelaçado ao turismo na disputada orla de Maceió, a obra contrasta estas cenas com as imagens idílicas frequentemente usadas para promover a região, evocando o anonimato e a resiliência das vidas moldadas pelo legado colonial brasileiro. Desta forma, o filme circunda uma espécie de paleta cromático-emocional dos jangadeiros, da orla maceioense, das canoas, das velas e dos canoeiros do sertão do Rio São Francisco.
A trilha sonora é de Homero Basílio, profícuo percussionista e produtor musical que colaborou em diversos filmes de Jonathas de Andrade. Vale mencionar ainda que, em 2024, Jonathas de Andrade teve seu processo artístico documentado pela realizadora Maria Augusta Ramos, que dirigiu o minidoc Northern Winds (17′), produzido pela fundação holandesa Ammodo como parte de uma série de filmes de artistas. O minidoc acompanha e registra o início da pesquisa que deu origem ao filme Jangadeiros e Canoeiros, que tem sua estreia na exposição.
Jonathas de Andrade fez este ano duas expoosições individuais na França: Tropical Hangover and Other Stories, no Jeu de Paume, Tours, e L’art de ne pas être vorace, na Commanderie de Peyrassol. Ele é o único artista brasileiro a participar da grande mostra “30th anniversary of Museum of Contemporary Art Tokyo (MOT), em Tóquio, que abre em 22 de agosto. E em Akita, também no Japão, está em cartaz até setembro a exposição “Minebane! Contemporary Art!”, no Akita Museum of Art, com obras do artista. Em novembro, participará da coletiva no Victoria & Albert Museum, em Londres. Em dezembro, Jonathas de Andrade fará uma individual no Vaticano, dentro do Jubileu 2025.
Enraizada no Nordeste, mas em diálogo com questões globais, a prática de Jonathas de Andrade navega pelo cruzamento entre narrativas pessoais e histórias sistêmicas, das estruturas pós-coloniais e economias regionais ao valor mutável do trabalho manual. O artista se envolve com a resistência cultural e com as práticas do fazer, confrontando tradição, resiliência em tensão com a gentrificação e o capitalismo predatório. Nesse contexto, a cultura náutica da beira mar e da beira de rio Nordeste, o universo de barqueiros, canoeiros, roleiros e pescadores, surge como ofício e resistência, sustentada por saberes transmitidos ao longo do tempo.
Serviço
Exposição | Permanência Relâmpago
De 02 de setembro a 26 de outubro
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 15h
Período
2 de setembro de 2025 10:00 - 26 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria Nara Roesler - SP
Avenida Europa, 655, São Paulo - SP
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O Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake apresentam a exposição A terra, o fogo, a água e os ventos – Por
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O Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake apresentam a exposição A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant. Concebida como um museu em movimento e dedicada à obra e ao pensamento do poeta, filósofo e ensaísta martinicano Édouard Glissant (1928–2011), a exposição integra a Temporada França-Brasil 2025 como um de seus principais destaques.
Com seu título inspirado na antologia poética La Terre, le feu, l’eau et les vents (2010), organizada pelo escritor martinicano, a mostra ensaia o que seria um “Museu da Errância”. Errância é uma vivência da Relação: recusa filiações únicas e propõe o museu como arquipélago – espaço de rupturas, apagamentos e reinvenções sem síntese forçada. Contra genealogias rígidas, propõe-se uma memória em trânsito, feita de alianças provisórias, traduções e tremores – um processo institucional movido pelo encontro entre tempos, territórios e linguagens. Ainda que Glissant tenha deixado fragmentos de sua visão para um museu do século 21, não chegou a concretizá-lo.
A exposição imagina como poderia ser esse Museu da Errância em múltiplas camadas e conexões inesperadas entre obras, documentos e paisagens. As duas ideias-chave da organização da montagem da exposição são a palavra da paisagem e a paisagem da palavra, concebidas a partir da concepção de Glissant de “parole du paysage”. Para o poeta, a paisagem não é apenas cenário externo, mas força ativa que molda memórias, gestos e linguagens.
Além disso, estão presentes em frases, manuscritos e entrevistas do autor outras ideias como Todo-mundo, crioulização, arquipélago, tremor, opacidade, palavra da paisagem e aqui-lá. Trata-se de um arco de assuntos interligados com profunda relevância no mundo contemporâneo, que mais uma vez se vê permeado por discursos e medidas de intolerância perante o diverso e incapaz de criar canais de escuta dos elementos naturais e das paisagens ameaçados de destruição.
É nesse horizonte que se apresenta, pela primeira vez no Brasil, parte da coleção pessoal reunida por Glissant e atualmente preservada no Mémorial ACTe, em Guadalupe. O conjunto inclui pinturas, esculturas e gravuras de artistas com quem o pensador conviveu e sobre os quais escreveu, como Wifredo Lam, Roberto Matta, Agustín Cárdenas, Antonio Seguí, Enrique Zañartu, José Gamarra, Victor Brauner e Victor Anicet, entre outros. São artistas de crescente reconhecimento internacional, que viveram trajetórias de diáspora e imigração, e produziram em trânsito entre línguas, linguagens, paisagens e histórias múltiplas.
À coleção de obras somam-se documentos, cadernos, vídeos e fragmentos de textos e entrevistas de Glissant, igualmente inéditos. A mostra apresenta também trechos da extensa entrevista concedida em 2008 a Patrick Chamoiseau, escritor martinicano e parceiro intelectual de Glissant, da qual resultou o monumental Abécédaire.
Este extenso e rico acervo é apresentado em diálogo com trabalhos de mais de 30 artistas contemporâneos das Américas, Caribe, África, Europa e Ásia, que convocam o público a experimentar, de forma sensorial, o entrelaçamento entre paisagem, linguagem e memória.
A exposição é parte da pesquisa de longo prazo do Instituto Tomie Ohtake em torno da produção de memória, a exposição dá sequência a iniciativas recentes como a mostra Ensaios para o Museu das Origens (2023) e o seminário Ensaios para o Museu das Origens – Políticas da memória (2024), que reuniu representantes de museus, arquivos e comunidades em um intenso debate sobre preservação e cidadania.
Serviço
Exposição | A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant
De 03 de setembro a 25 de janeiro
Terça a domingo, das 11h às 19h – última entrada às 18h
Período
3 de setembro de 2025 11:00 - 25 de janeiro de 2026 19:00(GMT-03:00)
Local
Instituto Tomie Ohtake
Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo – SP
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Ailton Krenak consolidou-se, ao longo dos anos, como um dos principais porta-vozes da causa indígena no Brasil e no exterior. Sua trajetória impulsionou um movimento coletivo para repensar
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Ailton Krenak consolidou-se, ao longo dos anos, como um dos principais porta-vozes da causa indígena no Brasil e no exterior. Sua trajetória impulsionou um movimento coletivo para repensar o mundo, trazendo para o centro do debate temas como humanidade, natureza, espiritualidade e futuro.
Um marco histórico aconteceu em 1987, quando ele pintou o rosto com jenipapo durante um discurso na Assembleia Constituinte, gesto que se tornou símbolo de resistência, um aviso de que os povos indígenas existem, resistem e têm muito a dizer.
A Ocupação Ailton Krenak, realizada pelo Itaú Cultural (IC), celebra esse percurso. Nascido em 1953, no Vale do Rio Doce (MG), ele é autor de obras fundamentais que se tornaram referência em tempos de crise, como Ideias para adiar o fim do mundo, A vida não é útil e Futuro ancestral. Além da produção literária, Ailton foi responsável por importantes iniciativas, como a criação do Programa de Índio, do Jornal Indígena e do Núcleo de Cultura Indígena (NCI), que ampliaram e fortaleceram a voz dos povos originários.
A mostra ocupa o piso térreo do IC e apresenta depoimentos, manuscritos e registros de uma vida dedicada a pensar caminhos fora da lógica do consumo e da destruição. O projeto inclui, ainda, uma publicação impressa (disponível on-line) e um site com conteúdos exclusivos (itaucultural.org.br/ocupacao).
Além da dimensão de homenagem, esta Ocupação – palavra que na língua Krenak se traduz como Men am-ním – é um convite a desacelerar, conceber outros horizontes e descolonizar o olhar.
Serviço
Exposição | Ocupação Ailton Krenak
De 04 de setembro a 23 de novembro
Terça a sábado, das 11h às 20h, domingos e feriados, das 11h às 19h
Período
4 de setembro de 2025 11:00 - 23 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Sâo Paulo - SP
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Em sua primeira individual na Portas Vilaseca – “Oríkì Ìwòran” – o artista Ayrson Heráclito (Macaúbas, BA, 1968) apresenta um vigoroso conjunto de obras – algumas especialmente realizadas para a mostra – em torno da questão
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Em sua primeira individual na Portas Vilaseca – “Oríkì Ìwòran” – o artista Ayrson Heráclito (Macaúbas, BA, 1968) apresenta um vigoroso conjunto de obras – algumas especialmente realizadas para a mostra – em torno da questão do ebó-arte ou arte-oferenda, em que expande o exercício da contemplação para um devir-ritual.
Dando continuidade à experiência sensorial de ambientes imersivos, que marcou sua participação na 35ª Bienal de São Paulo (com Tiganá Santana, 2023), o artista convida agora o visitante a percorrer três recintos que reúnem, no primeiro piso, esculturas e desenhos, das séries Juntós e Orikis, até chegar ao andar superior onde a videoinstalação Orikì de instrução, constituída de sete monitores de vídeo, ocupa todo o espaço, visando despertar uma conexão com elementos da natureza: a terra, a folha, o rio, o vento, o mar, o crepúsculo e o fogo.
Na parede que estabelece a passagem entre os pisos da galeria, Heráclito expõe Inventário de Tecnologias de Cuidado e Cura, inventário de ingredientes associados à força e à cura que habitam a ritualística do Candomblé, entre eles: velas, quiabos, moedas, mel, fumo de rolo, charuto, arroz, ovo etc. Nesse trabalho, o artista revisita sua obra cuja versão anterior lidava com a representação fotográfica (2023), fazendo uso da tradição modernista do grid. A versão para a Portas Vilaseca traz agora a materialidade desses componentes com seus aromas orgânicos. A manutenção dessa obra ao longo do período da exposição remete, ainda, às necessidades de cuidados e responsabilidade institucional que o artista vem discutindo em seus trabalhos.
A curadora e crítica Lisette Lagnado analisa como essa trajetória, construída ao longo de mais de trinta anos, “agrega camadas de complexidade ao cânone que se pretendeu universal e desenvolve uma filosofia do devir, inerente à transmutação do pensamento nagô.” De acordo com ela, “o estado atual do planeta reúne motivos suficientes para justificar buscas de ordem espiritual por orientação e proteção, apelos que talvez mereçam o atributo de ‘sintoma’ quando se considera o atual curso da destruição ambiental que prenuncia a sexta extinção da biodiversidade no planeta em que vivemos”.
A sala de entrada da galeria será banhada de energias relacionadas a equilíbrio, justiça ou renovação, atmosfera transmitida pelas principais divindades africanas, sempre articuladas em duplas na série Juntós: Ogum com Oxumarê, Oxóssi com Omolu, Iemanjá com Tempo, Exu com Xangô. Cada par reflete o orixá primário e o orixá complementar que guiam a vida de um individuo.
Desde 2021, Heráclito vem desenvolvendo a série de Juntós, esculturas em aço inoxidável a partir da combinação de dois orixás. Em paralelo, cada Juntó recebe um Oriki, invocações poéticas na tradição oral yorùbá. Dotados de insumos terapêuticos, esses versos inauguram uma nova etapa no processo criativo do artista, que encontra uma correspondência conceitual nas “instruções” de Yoko Ono, principalmente os haiku dos anos 1960. Este projeto está em andamento e prevê a realização de todas as combinações entre os dezenove orixás, respeitando as exceções por lei: Oxalá só pode ser regente e Oxaguiã não combina com Exu. No total, o sistema contará com 222 combinações.
Serviço
Exposição | Oríkì Ìwòra
De 09 de setembro a 25 de outubro
Terça a sexta, 11h–19h, sábados, 11h–17h
Período
9 de setembro de 2025 10:00 - 25 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Portas Vilaseca Galeria
Rua Dona Mariana, 137, casa 2, Botafogo, Rio de Janeiro - RJ
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O Sesc Casa Verde inaugura os murais monumentais da artista Giulia Bianchi, criados especialmente para o espaço da Comedoria dentro do projeto “Mão, Terra, Fogo”. As quatro obras,
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O Sesc Casa Verde inaugura os murais monumentais da artista Giulia Bianchi, criados especialmente para o espaço da Comedoria dentro do projeto “Mão, Terra, Fogo”. As quatro obras, cada uma com 5 x 12 metros, totalizam 240 m² de pintura em tinta acrílica PVA — o equivalente à fachada de um edifício de 16 andares. Em dimensões grandiosas, os murais retratam alimentos emblemáticos da cultura brasileira: carne, alhos, peixes e bananas.
Intituladas Dança, Âmbar, Limiar e Terra, as pinturas se inserem no conceito de alimentação desenvolvido pelo Sesc, que entende a comida como expressão viva de identidades, territórios e modos de vida. Mais do que representações figurativas, os murais exploram os aspectos sensoriais e sinestésicos da pintura, evocando sabores, aromas e texturas que transcendem a imagem. A proposta conecta arte e alimentação em diálogo com questões atuais como sustentabilidade, biodiversidade e preservação de saberes tradicionais.
A pesquisa de Bianchi, marcada pelo contato com comunidades agrícolas do Vale do Ribeira e experiências internacionais, reflete em composições oceânicas que parecem expandir-se além das paredes, tensionando a fronteira entre o visível e o imaterial. As obras permanecem em exibição pública no Sesc Casa Verde até 19 de dezembro, reforçando o papel do espaço como ponto de encontro entre cultura, alimento e comunidade.
Serviço
Exposição | Mão, Terra, Fogo
De 20 de setembro a 19 de dezembro
Terça a sexta-feira, 10h às 18h30; sábados, domingos e feriados, 10h às 17h30
Período
20 de setembro de 2025 10:00 - 19 de dezembro de 2025 18:30(GMT-03:00)
Local
Sesc Casa Verde
Avenida Casa Verde, 327, Casa Verde, São Paulo - SP
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Foram meses de pesquisa entre Bahia, Pará e Rio de Janeiro, durante os quais o artista visual Adriano Machado construiu as obras da exposição Gestos Indizíveis,
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Foram meses de pesquisa entre Bahia, Pará e Rio de Janeiro, durante os quais o artista visual Adriano Machado construiu as obras da exposição Gestos Indizíveis, em cartaz no Galpão Bela Maré, no Rio de Janeiro. O conjunto reúne, em sua maioria, fotografias que exploram gestos cotidianos, materialidades e modos de ensinar e aprender transmitidos em família e comunidade.
A exposição se inspira nos Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros, sistematizados pela educadora e intelectual negra Azoilda Loretto da Trindade (1957–2015), referência fundamental na pedagogia afro-brasileira. Circularidade, corporeidade, musicalidade, ancestralidade, memória, ludicidade e axé são alguns desses princípios que atravessam o trabalho de Machado, conduzindo uma poética que fala de afeto, proteção, mistério e coletividade.
Para o artista, o encontro com as pessoas e seus cotidianos é sempre ponto de partida: “Na minha fotografia, é essencial que exista a presença da confiança. As pessoas fotografadas precisam compartilhar a narrativa comigo. Quase tudo na imagem vem delas, de suas casas, de suas memórias, para que possamos criar cenas perenes”, explica.
Com curadoria de Ana Paula Lopes, assistente de curadoria na Pinacoteca do Estado de São Paulo, a exposição foi selecionada como projeto vencedor do Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia – 17ª edição.
Gestos Indizíveis surge do que Machado chama de territórios afroinventivos, espaços imaginários e poéticos que atravessam cotidiano, ancestralidade e modos de existir afro-brasileiros. Para construir essas obras, o artista desenvolveu um método de atenção aos saberes invisíveis, aprendendo com a capoeira angola, observando a oficina de solda do pai e acompanhando o trabalho diário de familiares que vendem e fabricam comida ou roupas. Esses gestos, muitas vezes sutis, se tornam material para fotografias e vídeos que exploram madeira, ferro, barro, água, fogo e outros elementos, transformando o cotidiano em narrativa estética e política.
A abertura será marcada por uma programação especial que celebra memória, ancestralidade e educação antirracista. Pela manhã, das 10h às 14h, o Galpão da Maré recebe a 5ª edição do Caruru da Gratidão, homenagem ao legado da educadora Azoilda Loretto da Trindade, reunindo oficinas para crianças e adolescentes, partilha de alimentos e o tradicional caruru, símbolo de afeto e coletividade. Ao mesmo tempo, no Cinema da Maré, a equipe de educadoras do Caruru da Gratidão conduz a Oficina Valores Civilizatórios Afro-brasileiros, a partir das 10h30, apresentando princípios como coletividade, ancestralidade e oralidade por meio de contação de histórias, músicas e brincadeiras, fortalecendo orgulho e pertencimento às raízes da ancestralidade.
Serviço
Exposições | Gestos Indizíveis
De 30 de setembro a 4 de novembro
Terça a sábado, das 10h às 18h
Período
30 de setembro de 2025 10:00 - 4 de novembro de 2025 18:00(GMT-03:00)
Local
Galpão da Maré
Rua Bitencourt Sampaio - Maré, Rio de Janeiro - RJ
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Intitulado Mil graus, o 38º Panorama da Arte Brasileira elabora criticamente a realidade atual do país sob a noção de calor-limite — uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se
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Intitulado Mil graus, o 38º Panorama da Arte Brasileira elabora criticamente a realidade atual do país sob a noção de calor-limite — uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se transforma. O projeto busca traçar um horizonte multidimensional da produção artística contemporânea brasileira, estabelecendo pontos de contato e contraste entre diversas pesquisas e práticas que, em comum, compartilham uma alta intensidade energética. Ao reunir artistas e outros agentes que abordam questões ecológicas, históricas, sociopolíticas, tecnológicas e espirituais, a exposição serve também como um ativador da memória e do debate público. Como conjunto, as obras driblam os limites da linguagem e seus sentidos preestabelecidos, revelando signos universais por meio de gestos e sotaques regionais. A ideia de uma temperatura oposta ao zero absoluto — ou seja, um quente absoluto — aponta os interesses destePanoramapor experiências radicais, condições extremas — climáticas ou metafísicas —, e estados transitórios — da matéria e da alma — que nos põem diante da transmutação como destino inevitável.
A série Panorama da Arte Brasileira, iniciada em 1969, é um marco na história das exposições. O primeiro Panorama da Arte Brasileira coincide com a instalação do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) em sua sede, na marquise do Parque Ibirapuera. Com o começo da reforma da marquise, em 2024, o MAM saiu temporariamente de sua sede e deve retornar no início de 2025. O calendário e todas as atividades do MAM foram mantidos graças ao apoio e acolhimento de instituições parceiras que possuem laços históricos com o museu, como a Fundação Bienal de São Paulo, que recebeu parte de sua equipe, e o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) que, além de ceder espaço para os colaboradores, abriga o 38º Panorama da Arte Brasileira.
Desenvolvido pelos curadores Germano Dushá, Thiago de Paula Souza e Ariana Nuala, o projeto do 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus parte de uma expressão coloquial que possui múltiplos significados, mas sempre com o sentido de elevada intensidade. A mostra aponta para condições marcadas pelo calor, pelo derretimento e por mudanças drásticas em qualquer matéria existente. Na presente edição, o mundo contemporâneo é observado a partir de condições extremas, tanto no sentido de questões históricas e sociopolíticas, como em relação a discussões ecológicas e tecnológicas.
O MAM tem estabelecido parcerias com as instituições do eixo cultural do Parque Ibirapuera. Realizar o 38º Panorama da Arte Brasileira no MAC USP, além de uma aproximação histórica entre as duas instituições, é um momento de integração e soma de esforços em benefício da arte e seus públicos. O MAM agradece a receptividade do MAC USP.
Serviço
Exposição | Mil graus
De 5 de outubro a 26 de janeiro de 2026
Terça a sexta, das 9h30 às 21h30, sábado e domingo, das 10h às 18h
Período
5 de outubro de 2025 09:30 - 26 de janeiro de 2026 21:30(GMT-03:00)
Local
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP)
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Vila Mariana, São Paulo – SP
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Retratando a cidade maravilhosa através da força da arte nordestina, o Museu Chácara do Céu – localizado no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro – abre as portas para
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Retratando a cidade maravilhosa através da força da arte nordestina, o Museu Chácara do Céu – localizado no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro – abre as portas para a exposição inédita ‘O Rio de Ciro: A Cidade em Xilogravuras’.
Com entrada gratuita, a programação celebra a trajetória do artista plástico Ciro Fernandes e a sua paixão pelo Rio de Janeiro, por meio de 76 obras autorais que transitam entre a técnica milenar da xilogravura e demais estilos, como pinturas, calcogravuras, litogravuras e nanquim.
Pensada para todos — amantes da arte, turistas e moradores que buscam um programa cultural enriquecedor, a exposição apresenta obras que dialogam com as narrativas populares da região e revelam a versatilidade do xilogravador, pintor, ilustrador, escritor e luthier, Ciro Fernandes, em diferentes linguagens visuais.
A vernissage, que acontecerá das 12h às 16h30, no dia 18 de outubro, contará com uma recepção especial para jornalistas, amigos, admiradores e personalidades conhecidas da cena artística, com direito à coquetel e entrevistas exclusivas com Ciro Fernandes.
Ainda durante a cerimônia de abertura, os convidados poderão desfrutar de uma apresentação inédita de música brasileira, trazendo a sonoridade carioca em diálogo com a experiência visual da exposição. Na ocasião, o violonista e compositor Jean Charnaux assina um show especial com direito a uma vista deslumbrante do Rio de Janeiro.
Distribuindo as obras em diferentes núcleos temáticos, a mostra inicia com ‘O Rio de Ciro: um Caso de Amor’, que retrata a chegada do artista ao Rio de Janeiro e sua paixão pela cidade, com obras que capturam o ciclo urbano e cotidiano dos cariocas. O próximo núcleo da mostra, ‘Lapa e Seus Mistérios’, revela a atmosfera boêmia e cultural do bairro, destacando figuras icônicas como Madame Satã e eternizando a diversidade e a essência das ruas.
A exposição segue conectando o público às raízes nordestinas por meio dos núcleos ‘A Tradição Cordelista Chega à Cidade Maravilhosa’, que narra a forma como o artista retomou a xilogravura nos cordéis urbanos da capital; e ‘A Natureza Exuberante de Ciro’ (Sala Imersiva), que transporta os visitantes para dentro de uma sala de vidro com obras do artista em formato de ‘lambe-lambes’ e adesivos, permitindo que as obras dialoguem com a vista panorâmica do Rio de Janeiro.
Integrando diferentes formatos, a exposição não se restringe apenas a xilogravura, podendo também ser apreciadas as pinturas em tinta acrílica sobre tela; calcogravuras e litogravuras; ilustrações; artes em nanquim; além de capas de cordéis, LPs, matérias de jornal e livros de grandes escritores ilustrados pelo artista.
Os participantes ainda poderão se inspirar e imergir no cenário criativo de Ciro Fernandes, a partir da exibição de suas ferramentas de trabalho, como a prensa, materiais de entalhe e as matrizes de madeira das obras. Tais instrumentos auxiliaram a ditar as dimensões variadas das obras, sendo a menor com proporções de 28 x 32cm e a maior com 90 x 220cm.
Dentro da exposição, os visitantes poderão contemplar obras como Cardeal (Xilogravura – Ano 2022 – 96 x 33 cm); Massacre da Candelária (Tinta acrílica sobre tela – Ano 1990 – 80 x 120 cm); São Jorge Ogum (Xilogravura – Ano – 65 x 160 cm); Além de Amanhecer (Xilogravura – Ano 2022 – 28 x 38 cm), Lapa (Xilogravura – Ano 1979 – 65 x 96 cm), e Madame Satã (Xilogravura – Ano 1979 – 64 x 47 cm).
Como medida de democratização do acesso à cultura, a exposição contará com quatro oficinas programadas para crianças de escolas públicas da região de Santa Teresa. Usando gravuras de material reciclado (Tetrapack), os workshops trazem atividades lúdicas e culturais para as crianças, abordando a natureza do Rio de Janeiro e buscando a representação dos pássaros da cidade, à espelho do que inspira Ciro Fernandes.
Acessibilidade e inclusão na exposição nacional ‘O Rio de Ciro’
Ampliando o acesso à arte, a exibição da mostra contará com ferramentas que trazem mais acessibilidade às obras para os visitantes. As matrizes presentes possuem parte tátil que possibilitam o toque; o espaço é preenchido por placas em braille para os textos de parede, audiodescrição e legendas estendidas das principais obras. Ainda, o evento oferecerá também visitas guiadas com monitores especializados em dias específicos.
A exibição possui curadoria de Mariana Lannes, diretora de produção cultural e idealizadora de projetos artísticos, com atuação nacional em música, artes visuais, cultura popular e impacto social; além de Alessandro Zoe, que é fundador do escritório de gestão artística CRIVO, somando mais de 8 anos de experiência à frente de produções culturais em teatro, música e artes visuais.
Ciro Fernandes, no auge dos 83 anos, é um dos maiores nomes da cena artística brasileira, sendo considerado um patrimônio vivo da xilogravura no país. Com uma trajetória marcada por seus traços expressivos, por sua originalidade e pelo compromisso com a preservação das tradições nordestinas, Ciro continua a inspirar novas gerações para ampliar as fronteiras da arte popular.
O projeto é contemplado pelo edital Pró-Carioca, programa de fomento à cultura carioca, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura.
Serviço
Exposição | No Canto Escuro da Praia do Lázaro
De 18 de outubro à 30 de janeiro
Diariamente, das 10h às 16h30, exceto às terças-feiras
Período
18 de outubro de 2025 10:00 - 30 de janeiro de 2026 16:30(GMT-03:00)
Local
Museu Chácara do Céu
Rua Murtinho Nobre, 93 - Santa Teresa, Rio de Janeiro - RJ