Pompidou Paraná. Solano Benítez

Entre colegas: a avaliação de Pedro Mendes da Rocha

O projeto de Solano Benítez para a sede brasileira do Centre Pompidou nos faz refletir sobre a expressão e a essência da arquitetura, sua tectônica, seus espaços e sua inserção no território, refutando a ideia de um edifício que se afirme apenas pela aparência. Ao mesmo tempo que retoma materiais consagrados na história das edificações, que recuperam nossa reflexão sobre ancestralidade e universalidade e que rejeita a linha de Tordesilhas, que se deformou para impor a um vasto território e uma só nação, três nomes diferentes que dividiram, desastradamente, o que era uno. O trígono dos rios, o encontro das águas que justamente afirmam essa fluidez e que caminham para a mescla, a mistura, a síntese. 

A proposta de Benítez funde uma construção que se mostra etérea no início e vai ganhando corpo em direção ao núcleo, sempre afirmando a sua condição vegetal, nascido da terra, feito de terra, daquela terra e que nasce plantado com suas raízes e galhos que ganham potência, robustez e densidade. Impõe, não só, perguntas de como tomar posse do território, marcar um lugar sem ser alheio a ele e, ao mesmo tempo, ser universal. A dimensão tectônica da obra exalta uma técnica que adota materiais milenares (ou melhor, um material milenar) aggiornada com recursos modernos que expressam o desnudamento dos procedimentos adotados e, desta forma, se contrapõe ao formalismo gratuito que esconde a sinceridade de materiais e processos e, mais além, os mascara, em recursos mirabolantes resultando em obras com orçamentos estratosféricos e sem verdade construtiva.

A implantação do novo museu sugere uma materialização de seus braços de terra a partir da vegetação densa e exuberante do entorno e do céu que ganha corpo nos vazios de seus galhos, com energia centrípeta e, ao mesmo tempo, em sentido oposto, a explosão desses braços, originados em volumes que se desmaterializam evocando a energia centrífuga, da expansão de uma planta em crescimento.

Assim, se instala o conjunto: aos poucos, vamos percebendo seus tentáculos na mata, um mimetismo com o chão de terra, as árvores com o adensamento de suas folhas e galhos, natureza que quer ser prédio, prédio que quer ser natureza.

Esse manifesto de diálogo em continuum com a natureza, num momento de súplica pela emergencial salvação do planeta, nos faz refletir sobre a condição humana e, sobretudo, a apropriação de sua crosta no âmago da monumental, e emblemática, mata atlântica.

Como o vigoroso edifício de Frank Lloyd Wright, de 1939, defronte ao Central Park – para o Guggenheim Museum –, uma flor incrustrada na imensa e regular quadrícula de Manhattan e o Centre Georges Pompidou de Paris, de Piano e Rogers, no coração de Les Halles, Solano Benítez plantou sua flor na mata atlântica junto ao tríplice encontro das águas que promoverá o encontro de todos os povos do mundo.


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