Com o mesmo espírito nômade que a caracteriza desde a sua criação em 2012, a 7ª Bienal Internacional do Sertão será inaugurada em Diamantina (MG) no dia 1º de outubro com performances na Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, e no dia 3 no Teatro Santa Izabel, com performances e shows de música.

O espírito nômade da Bienal consiste em se instalar em um estado diferente a cada edição, fortalecendo-se como espaço de circulação da arte para além das grandes capitais. O tema deste ano, Poesia em Confluência, nasce do desejo de reunir pesquisas curatoriais que dialogam com questões urgentes como clima, inteligência artificial, ancestralidade e identidades coletivas. Para Denilson Santana, idealizador da Bienal, historiador e curador, essa busca nasce de um hábito: “Nos anos em que não há Bienal, nós  percorremos seminários de arte, filosofia e literatura em busca de ideias inspiradoras, para a próxima empreitada”, explica.

A edição deste ano reúne obras de 50 artistas vindos de diferentes estados brasileiros e do exterior. A curadoria é compartilhada por duas mulheres: Laura Benevides, da Bahia, arquiteta e pesquisadora em arte latino-americana, e Janaína Selva, de Minas Gerais, curadora e pesquisadora em arte e arquitetura. Juntas, elas dividem a responsabilidade de construir diálogos entre artistas, espaços e comunidade, trazendo visões complementares que ampliam as leituras possíveis sobre o Sertão e sua presença no mundo atual.

Denilson Santana, idealizador da Bienal do Sertão, entre as curadoras Janaína Selva e Laura Benevides.

O núcleo contemporâneo da Bienal ocupa o imponente Teatro Santa Izabel, o mais antigo da cidade, cuja arquitetura e história guardam marcas vivas da região. Outro ponto central é a Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, onde acontecem seminários, pesquisas e oficinas que expandem o alcance do evento para além das salas expositivas.

Um dos pontos de destaque é que essa edição expõe obras comissionadas em outras bienais e trabalhos escolhidos a partir de uma convocatória aberta. “As obras estão expostas no Teatro Municipal, no histórico Teatro Santa Izabel, na Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e no Museu do Diamante, transformando espaços simbólicos da cidade em palcos vivos para a arte contemporânea”.

Mantendo a ideia de evento expandido, Denilson comenta que a programação não se limita às mostras, oferece oficinas de arte voltadas a diferentes públicos, de crianças e jovens da rede escolar a artistas em formação, com atividades que vão da escrita criativa às artes plásticas. “Em todas as edições mantemos vivas as conversações e com elas reunimos artistas, curadores, pesquisadores e moradores em rodas de diálogo, sobretudo com enfoque nas práticas culturais do sertão, sustentabilidade e o papel da arte na transformação social.” afirma.  O que ele busca é criar um espaço de encontro e reflexão, onde a arte possa reverberar como prática coletiva e transformadora. 

Para Denilson, o diferencial desta exposição em relação às outras bienais é o caráter educativo e as parcerias que eles estabelecem com universidades e museus. “A Bienal mantém uma forte rede de colaboração com curadores internacionais. Este ano contamos com Hermán Pacurucu, curador da Bienal de Cuenca, no Equador, que apresenta obras de seis artistas, e também teremos a interlocução da Posverso, da Argentina, curada por Silvio de Graça, que expõe obras de três artistas, contribuindo para adensar o traço multidisciplinar desta Bienal”, afirma.

A Bienal do Sertão nasceu em Feira de Santana, na Bahia, a partir de uma inquietação pessoal transformada em movimento coletivo. O idealizador conta que, quando foi convidado para ser monitor na Bienal de São Paulo, percebeu suas próprias limitações: dava aulas no ensino médio e via de perto escolas sem biblioteca, com poucos livros e muitas carências. Foi nesse contraste que surgiu a ideia: criar no sertão uma bienal aberta ao mundo, capaz de reunir artistas de diferentes lugares e, ao mesmo tempo, apostar no educativo, formando novos profissionais e estimulando jovens talentos.

Mais do que um evento, a Bienal do Sertão se tornou um gesto de resistência e descentralização cultural. “Faço a Bienal para a cidade inteira, não apenas para um espaço específico”, afirma. A proposta é ativar lugares históricos, resgatar memórias e, ao mesmo tempo, abrir caminhos para novas experiências contemporâneas.

O sonho de Denilson mira o futuro: criar um ponto de apoio na Bahia, sua terra, não como sede fixa, mas como casa de passagem. “Quero um espaço simples, capaz de acolher pessoas e dar conta das demandas enquanto sigo viajando. A Bienal nasceu nômade e assim deve permanecer”, afirma.

Nesse horizonte aberto e libertário, mas sem romper de vez com o sistema, a 7ª Bienal do Sertão se reforça como travessia. É gesto de resistência e invenção, uma plataforma em movimento que ainda não sabe em qual “porto” a próxima edição vai atracar. O inesperado é parte do jogo, é justamente o elemento surpresa que mantém viva a energia dessa bienal experimental, sempre pronta para reinventar caminhos e lançar o Sertão como marco de integração, conhecimento e direito dentro do mapa da contemporaneidade.

Entre os artistas expostos confirmados estão Alana Barbo / Ambuá / Camila Kahhykwyú Canela / Carlos Mélo / Catarina Dantas / Cicero Costa / Conceição Myllena & Flaw Mendes / Cristiane Martins / Danilo Espinoza Guerra / Derlon / Edith Derdyk / Emika Takaki / Erika Dantas / Estêvão Parreiras Pereira / Fernanda Adamski / Gabriela Loayza / Helena Sofia Klipp / Hernán Illescas / Irmãs Gelli / Iván Zambrano / Janaina Wagner / Jimson Vilela / Joana Amora / João Pedro Ramos / José Guedes / Juniara Albuquerque / Kyria Oliveira / Luanda / Luciana Borre / Luiz O. (Luizhim) / Maria Zegna / Manoel Veiga / Mariana Guardani / Marianna Pizzatto / Nina Miyamoto / Padmateo / Polina Shklovskaya & Briseis Schreibman / Raquel Rodrigues / Ricardo Vilas Freire / Samira Pavesi / Sofia Ramos / Soledad Sánchez Goldar / Taís Koshino / Victor Hugo Bravo.


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