GES-2 House of Culture. Foto: Anya Todich
GES-2 House of Culture. Foto: Anya Todich

Apesar dos milhares de quilômetros que distanciam Brasil e Rússia e dos traços culturais tão distintos entre os países, não é preciso nenhum tipo de “tradução” para que as obras artísticas de um canto do mundo sejam compreendidas, ou ao menos fruídas, no outro lado do planeta. É esta a ideia básica que norteia a exposição Videobrasil. Needs No Translation: Four decades of video and performance, que leva a Moscou trabalhos do Acervo Videobrasil representativos de quatro décadas da produção do Sul Global.

Com abertura neste dia 12 de dezembro, a mostra tem curadoria de Solange Oliveira Farkas, fundadora e diretora do Videobrasil, e Alessandra Bergamaschi, que selecionaram trabalhos majoritariamente de artistas brasileiros, mas também de outros países sul-americanos e africanos, para apresentar na GES-2 House of Culture, na capital russa. A eles se soma um “núcleo russo”, com curadoria de Andrei Vasilenko e Dmitry Belkin, e uma instalação inédita do artista mineiro Eder Santos, colaborador do Videobrasil desde seus primórdios, nos anos 1980.

Se a noção de que uma obra não precisa ser explicada para ser fruída pode servir para qualquer produção artística, de modo mais amplo, há particularidades na mostra que enfatizam esta ideia e justificam a escolha do título – “não necessita tradução”, em transposição livre. Ao priorizar os meios expressivos do vídeo e da performance, nos quais imagem e corpo são protagonistas e prescindem da linguagem falada ou escrita, destaca-se “um formato híbrido universal que existe para além das fronteiras dos Estados e das línguas nativas e, portanto, não requer tradução”, como explica o texto de apresentação da mostra.

“O hibridismo é parte fundamental da nossa história, mas quisemos reforçar uma particularidade deste hibridismo que é marcado pela forte presença da performance ao longo de quatro décadas de vídeo no Brasil, tão bem representada em nosso acervo”, completa Solange sobre este assunto. O acervo da associação, formado majoritariamente por obras apresentadas ao longo das 22 edições do festival/bienal Videobrasil, realizado desde 1983, é uma das mais ricas coleções de videoarte do Sul Global.

A segunda particularidade acolhida no conceito curatorial se refere às conexões e aos paralelos possíveis de se traçar entre as produções de regiões tão distantes como América Latina e Rússia, por mais improváveis que possam parecer. Segundo Belkin, “um diálogo único entre a arte de duas regiões raramente comparadas mostrará como a mudança cultural notavelmente semelhante ocorreu em duas partes opostas do globo. A videoarte captou todas as reviravoltas históricas: desde a mudança social global em meados da década de 1980, passando pela esperança e pela paz global nas décadas de 1990 e 2000, até a análise de seu passado na década de 2010”.

A divisão da mostra por décadas, comentada pelo curador russo, foi uma escolha de Solange e Alessandra para que o visitante possa percorrer e compreender alguns momentos centrais da história do vídeo e da performance no Sul Global, especialmente no Brasil: partindo das primeiras experimentações possibilitadas pelo desenvolvimento da tecnologia do vídeo, passando pelas linguagens do videoclipe e da TV e chegando no uso generalizado de computação gráfica e da realidade virtual.

Estão na mostra, neste trajeto, desde trabalhos icônicos das duas últimas décadas do século 20, como VT Preparado AC/JC (1986), de Walter Silveira e Pedro Vieira, Parabolic People (1991), de Sandra Kogut, e Sopro (2000), de Rivane Neuenschwander e Cao Guimaraes; até a produção que marca o novo milênio, em obras como Filme dourado (2010), de Luiz Roque, L’Arbre d’Oublier (2013), de Paulo Nazareth, e BUGs (2022), animação digital apresentada por Vitória Cribb na mais recente Bienal Sesc_Videobrasil, no ano passado.

Sandra Kogut, Parabolic people [still], 1991. ©Videobrasil Collection, Acervo Videobrasil
Sandra Kogut, Parabolic people [still], 1991. ©Videobrasil Collection, Acervo Videobrasil
Também na intersecção entre vídeo e performance, obras de nomes estrangeiros como Ar Detroy (Argentina), Bakary Diallo (Mali), Calderón & Piñeros (Colômbia), Ezra Wube (Etiópia) e Guillermo Casanova (Uruguai) se somam aos trabalhos de artistas brasileiros, criando um panorama mais amplo da produção de países marcados por um passado colonial em comum, onde questões como a desigualdade social, os conflitos políticos e as questões raciais se mostram latentes, de diferentes modos, até os dias de hoje.

Considerando o conceito de Sul Global como uma noção geopolítica – não geográfica – e também mutável ao longo do tempo, Solange relembra que desde que se abriu para a participação internacional, nos anos 1990, o Videobrasil recebeu um grande número de inscrições de obras de artistas russos. Um exemplo é o vídeo Biographies of objects, de Natalia Skobeeva, obra que foi incluída na exposição e que questiona nacionalismos, tradições enrijecidas e a crise do mundo contemporâneo.

Para além do trabalho de Skobeeva, parte do Acervo Videobrasil, uma série de outros vídeos do país que sedia a exposição – o “núcleo russo” – complementam a mostra, ressoando o que é apresentado em cada um dos eixos temporais. “A exposição nos permitirá ver obras de videoarte de todo o planeta que nunca foram exibidas na Rússia antes, bem como obras russas conhecidas em um contexto completamente novo”, afirma Belkin.

Natalia Skobeeva, Biographies of objects [still], 2018. © Videobrasil Collection - Acervo Videobrasil
Natalia Skobeeva, Biographies of objects [still], 2018. ©Videobrasil Collection – Acervo Videobrasil
Por fim, a obra inédita Screen², de Eder Santos, surge como um trabalho central na exposição, tanto por seu formato – um “documentário expandido instalado no espaço”, com trilha sonora original de Paulo Santos – quanto por colocar em diálogo várias das mais icônicas vídeo-performances do Acervo Videobrasil, de nomes como Ana Pi, Ayrson Heráclito, Lenora de Barros, Letícia Ramos, Melati Suryodarmo, Otávio Donasci e Rosana Paulino. “Nesse átrio suspenso, figuras, gestos e paisagens se desvanecem e se espelham uns nos outros — como memórias em movimento de um arquivo vivo”, descrevem as curadoras.

 

SERVIÇO

Videobrasil. Needs No Translation: Four Decades of Video and Performance
Quando: 12 de dezembro de 2024 a 9 de fevereiro de 2025
Onde: GES-2 House of Culture | 15 Bolotnaya Embankment, Moscou – Russia
A entrada na Casa da Cultura é gratuita, mediante registro prévio ges-2.org

 


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