"Judith Slaying Holofernes", de Imri Sandström, 2010

Desde 2016, o Masp vem articulando sua programação em torno de “Histórias”, iluminando nesse processo relações complexas entre a arte e segmentos sociais historicamente preteridos. A cada ano, um tema – como Histórias da Sexualidade e Histórias Afro-Atlânticas – norteia as exposições e atividades organizadas pelo museu. Agora é a vez das mulheres. Repensar a relação entre elas e as artes visuais, jogando luz sobre a estrutura desigual do sistema de produção artística, é algo urgente, necessário e que pode ser feito a partir de uma múltipla abordagem, como mostra a estratégia ampla adotada pelo museu, que envolve ciclos de debate, exposições monográficas de importantes artistas do século XX e publicações impressas. Neste processo tem importância fundamental o trabalho de concepção e realização de pesquisa curatorial. Em função do volume de material e da complexidade do tema, a grande mostra do ano foi desdobrada em duas montagens extensas e diferentes, porém complementares. Histórias das Mulheres: artistas até 1900 e Histórias Feministas: artistas depois de 2000 são faces independentes, porém integradas, de uma estratégia de mapeamento da criação plástica de autoras em diferentes momentos históricos.

A primeira das exposições volta-se para o passado, desvenda o perverso processo de apagamento a que as pintoras mulheres foram submetidas ao longo de séculos, tendo sido relegadas a uma posição de inferioridade na cena artística internacional, apesar de terem uma produção capaz de rivalizar em termos de igualdade com seus pares masculinos. A segunda se debruça sobre o momento atual, mostra as estratégias e embates das autoras para produzir uma arte capaz de lidar com questões centrais no mundo contemporâneo.

Histórias das Mulheres, que ocupa o primeiro andar do museu, reúne quase 90 trabalhos, de 50 autoras, realizadas entre os séculos XVI e XIX. A curadoria tríplice ficou a cargo de Julia Bryan-Wilson, Lilia Schwarcz e Mariana Leme. O conjunto revela uma erudição e virtuose técnica que se chocam frontalmente com os dados concretos que atestam o papel marginal destinado à mulher na história da arte, como, por exemplo, o fato de que a maioria das telas provém de coleções particulares (apenas uma das doze pinturas da primeira sala, dedicada ao século XVI, pertence a um museu), o desaparecimento de parcela significativa da obra dessas autoras (De Cornelia van der Mijn, por exemplo, existe apenas uma obra identificada) e a pouca visibilidade dessa produção.

Esse conjunto impressionante foi garimpado em diversos acervos pelo mundo e exigiu uma série de deslocamentos, já que boa parte dos trabalhos estavam guardados nas reservas técnicas e não estão ainda disponibilizados nos sites e acervos online. A própria coleção do Masp é um exemplo interessante: do período contemplado pela exposição (anterior a 1900), o museu possui apenas três obras de autoras mulheres. A situação melhora ao adentrar o século XX, mas em termos gerais ainda há uma grande sub-representatividade, já que a participação feminina no acervo está em torno de 22%.

Se de forma geral o conjunto é de grande interesse, a mostra torna-se ainda mais sedutora quando o visitante se debruça sobre a trajetória e produção de cada uma dessas mulheres. Ali estão representadas histórias fascinantes, como a de Elisabeth Louise Vigée Le Brun, que alcançou uma popularidade excepcional no século XVIII, tornando-se a primeira pintora de Maria Antonieta, ou de Eva Gonzalès, a única aluna, tanto mulher quanto homem, aceita por Manet. Entremeadas nesse rico conjunto de obras, reveladoras tanto de talentos individuais como de histórias e costumes de um amplo período de tempo, a exposição contemplou também um tipo de arte normalmente associado ao feminino: o trabalho têxtil. O mais antigo exemplar de tecido na mostra é uma peça pré-colombiana e data do século I. Mas ao longo da mostra o público pode apreciar bordados de diferentes épocas e regiões, do império Otomano às colchas de retalho norte-americanas (quilts). A contraposição entre pinturas de um lado e tecidos e bordados – tradicionalmente símbolos do feminino – têm como objetivo desmascarar esse lugar da artesania como lugar da mulher e ao mesmo tempo contribuir para ampliar a ideia de arte. “Não se trata aqui de entender o feminismo como a busca de igualdade num sistema de opressão e sim de dissolver essas hierarquias. Trabalhar a diferença de gênero é muito mais do que falar sobre mulheres”, afirma Mariana Leme.

Há também na seleção contemporânea uma presença importante do fazer têxtil. A trama do tecido e do bordado passa a ser utilizada como forma de transpor as barreiras, muitas vezes insidiosas e mascaradas, impostas pelo patriarcado. Carolina Caycedo, por exemplo, borda nomes de mulheres que admira em roupas que coleta de pessoas próximas e as transforma em grandes estandartes. Também está presente na mostra o vestido de noiva criado pela Daspu com lençóis de motéis da zona de prostituição do Rio de Janeiro, sobre os quais foram impressos desenhos eróticos e que foi apresentado originalmente na 27ª Bienal de São Paulo.

Histórias Feministas: artistas depois de 2000, que ocupa o subsolo do museu, reúne trabalhos de 30 autoras, que iniciaram suas práticas artísticas já neste século e que de certa forma incorporam práticas ativistas. São obras que, de forma geral, “trabalham urgências por uma perspectiva feminista”, sintetiza Isabelle Rjeille. Produções que tangenciam temas candentes, como a questão da moradia nos centros urbanos, como faz Virginia de Medeiros, ou a questão da transfobia e da vulnerabilidade do corpo, abordada por Lyz Parayzo na obra Bixinha, objeto desmontável que remete também aos Bichos, de Lygia Clark. Em outras palavras, são artistas que ampliam o alcance crítico de suas poéticas para além da questão de gênero, mostrando como a teia de invisibilidade que atinge as mulheres normalmente vem associada a outras formas de exclusão, relacionadas a questões raciais, econômicas e geopolíticas. “O feminismo vai muito além da arte”, lembra Isabelle.

Histórias das Mulheres Histórias Feministas
MASP – Av. Paulista, 1578 – Bela Vista
Até 17 de novembro

 


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