Parte da instalação "Moiras". FOTO: Rosa Antuna

Na mitologia grega, as Moiras, três irmãs filhas da noite, são as divindades que controlam os destinos e cursos das vidas humanas. A primeira é responsável por fiar, a segunda por tecer e a última por cortar o fio da vida dos mortais. Inspirada nestas personagens, a artista plástica Edith Derdyk apresenta, no Sesc Ipiranga, a instalação Moiras, um site specific composto de 485 hastes de ferro presas à uma parede nas quais se entrelaçam 70 mil metros de linhas brancas esticadas, em uma trama que percorre 17 metros de extensão e quase 2 de altura.

Apesar do título, o trabalho de Derdyk não estabelece com a história mitológica uma relação direta, discursiva, mas tem nela uma espécie de pano de fundo. “Comecei a pensar muito na linha dotada de sentidos, ligada à questão dos destinos: de onde vem e para onde vai; o tempo de saída e o tempo de chegada; a linha como elemento transitivo e transitante, que é da natureza dela”, explica. “E movida por tudo isso me veio a ideia das Moiras.”

Tendo como matriz, desde os anos 1980, o desenho – e consequentemente a linha –, Derdyk foi com o tempo expandindo sua compreensão deste conceito, passando a praticar um “desenho expandido” que pode se dar em instalações, fotografias, vídeos ou gravuras. “Desde 1997, quando fiz minha primeira instalação usando a linha no espaço, eu venho atuando no entendimento do desenho como essa extensão do corpo no espaço, que nasce da leitura do próprio espaço. A linha acaba virando um campo de acontecimentos”, conta.

Decorrem destes trabalhos questões sobre acúmulo, repetição, conectividade, encontros, colisões, estabilidade e instabilidade. Nas linhas que criam tramas, labirintos e tessituras, “eu começo a identificar padrões orgânicos que existem na natureza, mas também os modos das comunidades humanas se organizarem”, explica Derdyk.

Entra aí a história das Moiras, sobre o destino das vidas humanas, assim como o mito de Sísifo, personagem que dia após dia, repetidamente, tenta rolar uma grande pedra ao alto de uma montanha. “No livro do Albert Camus ele questiona: o que faz uma pessoa todo dia tentar levar uma pedra ao topo de uma montanha? É a esperança de um amanhã, de um futuro. E pensar nisso hoje em dia é muito forte”, diz Derdyk.

Em Moiras, que demorou cerca de duas semanas para ser construída e contou com uma equipe de colaboradores, a fiação surge como gesto repetitivo, mas que, ao mesmo, está sempre diferindo e criando novos campos de sentidos. A instalação é vinculada ao projeto FestA! – Festival de Aprender, do Sesc, que trabalha nesta edição com a ideia de conectividade e com a relação da arte com a ciência.

“A proposição da instalação visa construir uma espacialidade rizomática e conectiva, feita de combinatórias entre o caminho das linhas que se ligam de um ponto a outro, de maneira a tecer uma trama aérea, meio suspensa, como se esta trama tecida revelasse, através do caminho que cada linha traça, os infinitos destinos cruzados”, diz Derdyk.

As linhas, que ativam e ressignificam o espaço, nos falam também de horizontalidade e conectividade entre pessoas, ou seja, da possibilidade de diálogo e convivência. De um processo construtivo trabalhoso e cansativo – “meio aracnídeo”, diz a artista – resulta essa trama que aparenta também leveza e fluidez.

“É interessante pensar também que há uma certa inutilidade. Muito trabalho, muito esforço físico, muscular, muito tempo dispendido para um resultado que é quase um nada.” E que, ao fim, terá os fios rompidos, assim como faz a terceira das três Moiras ao cortar o fio da vida. Antes de desfeito, o trabalho está exposto no Sesc Ipiranga até o dia 26 de maio.

Moiras, de Edith Derdyk

No deck do Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga, São Paulo

De 12/3 a 26/5

 


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