Tezi Gabunia, still de "The Flooding of the Louvre".

Artistas estão respondendo às preocupações que ressoam hoje com relação aos possíveis danos da ação humana na aceleração do aquecimento global. Durante o Armory Show, que aconteceu em Nova Iorque até o dia 8 de março, a obra Breaking News: The Flooding of the Louvre, do artista Tezi Gabunia, natural de Georgia, capturou a atenção dos visitantes ao questionar “e se o Museu do Louvre fosse alagado?”. 

O trabalho de Gabunia pretende abordar ao mesmo tempo a fragilidade da arte como memória da nossa civilização frente aos estragos que podem derivar das mudanças climáticas desenfreadas e também colocar à prova a veracidade das informações, alertando para nossa disponibilidade de depositar fé em notícias não confiáveis – estendendo, assim, sua crítica a um setor político em ascensão no mundo. 

Na obra, a sala do Museu do Louvre onde estão expostas as pinturas da série de Maria de Médici, do pintor brabantino Peter Paul Rubens, é invadida por água que rapidamente preenche o espaço. Cerca de dois anos atrás, o Louvre foi realmente invadido pelas águas do rio Sena, levando na época ao fechamento do seu nível mais baixo como medida de precaução e à realocação de aproximadamente 35.000 obras para sessões mais altas do Museu, embora nada tenha sido danificado. 

No Armory, Gabunia apresentou a obra Breaking News: The Flooding of the Louvre dividido-a em duas partes, uma composta unicamente pelo vídeo e outra composta por um diorama, desmentindo qualquer entendimento da imagem como um acontecimento real. Em sua próxima exposição, que acontecerá em maio na Feira de Arte de Tbilisi, em seu país natal, o artista recriará o modelo em grande escala numa colaboração com a Galerie Kornfeld, de Berlim. Nessa remontagem o espaço a ser alagado terá comprimento de 19 metros.

Novos ares para o Armory Show

Após 19 anos, o Armory se despede dos Cais de Hudson. Para o Artnet, a diretora da feira de arte, Nicole Berry, disse que a distância entre os cais tem sido um desafio e espera que a nova localização no Javits Center ajude a atrair mais visitantes, acompanhando também outro movimento da organização para alterar a data do Armory que será realizado a partir de 2021 no outono estadunidense, de 9 a 12 de setembro. 

Ainda o aquecimento global em pauta

Após ter declarado “emergência climática”, em 17 de julho de 2019, a Tate Modern estabeleceu uma nova meta para abordar as necessidades impostas pelo aquecimento global: sua pretensão é cortar 10% do gasto de energia da instituição em um prazo de 2 anos. 

O esforço é somado a uma meta maior estabelecida dez anos atrás, por volta de 2007, que previa um corte de até 40% de seu consumo energético resultando na atualização do sistema de climatização, na substituição da iluminação antiga por iluminação LED e no monitoramento do uso da água da organização; além disso hoje a galeria tem 100% da sua energia fornecida por vias sustentáveis, fator garantido por uma taxa extra sobre o fornecimento, segundo o diretor de finanças Stephen Wingfield. 

Vista geral do Tate Modern
Vista geral do Tate Modern

Sobre a transparência da Tate em relação à decisão, a diretora Frances Morris afirmou ao ARTNews: “Começamos a compartilhar isso com o mundo exterior, porque é incrivelmente importante cumprir as promessas. Temos que ser um modelo confiável, porque muitas instituições e indivíduos aguardam as melhores práticas a seguir e exemplos demonstráveis de como eles podem responder”, complementando que a “arte internacional, arte em rede, a maneira como nos conectamos em todo o mundo e o poder das conversas através da cultura, acho que serão ainda mais visíveis nos próximos dois anos do que já foram”

Um exemplo prático do porquê engajar a instituição em uma estruturação energética “mais verde” foi o aumento de 51% dos gastos anuais com energia no período de uma década desde 2007. Isso acontecido, em partes, devido à necessidade pela intensificação da refrigeração do espaço durante os dias mais quentes do verão. Em meio a essa empreitada, a queda no financiamento estatal às instituições culturais e o abandono da BP (British Petrol) – que mantinha essa parceria há 27 anos, impõe algumas barreiras. 

Dentro do escopo europeu, o Centre Pompidou, em Paris, e o Museu Reina Sofia, em Madrid, seguem o paradigma, este estabelecendo um corte de 25% do consumo de energia até 2030, enquanto aquele promete o ambicioso plano de alcançar um sistema de emissão zero no mesmo prazo.

A natureza e as lutas indígenas

Na Austrália, as discussões sobre a emergência climática estão sendo postas à mesa pela Bienal de Arte de 2020 em conjunto com a conversa sobre as lutas indígenas. Sob chefia executiva de Barbara Moore, que havia ocupado anteriormente o cargo de diretora de desenvolvimento da organização, e direção artística de Brook Andrew, artista e acadêmica australiana,  a Bienal foi intitulada NIRIN, ou “Limite” na linguagem do povo indígena Wiradjuri, “NIRIN WIR”, significando “O limite do céu”, é, por sua vez, o nome dado ao programa interconectado de eventos gratuitos que percorrerá todos os 87 dias da exposição.  Sobre a importância dessa escolha, Andrew afirmou para o The Art Newspaper que a “linguagem define cultura, e sem a linguagem, como pode ser praticada a cultura?”, complementando que “os idiomas dominantes achatam as nuances ou os meandros do modo de vida de qualquer pessoa”.

In Pursuit of Venus [Infected] Lisa Reihana
In Pursuit of Venus [Infected] Lisa Reihana
Este ano, a Bienal de Sidney trará tanto artistas quanto cientista para o evento, como uma das mudanças planejadas para divergir do modelo tradicional e europeu de bienal que orienta seu crescimento desde 1973, algo simbólico principalmente ao considerar que faz exatamente 250 anos que o explorador marítimo Capitão James Cook reivindicou a costa leste do continente australiano para a Grã-Bretanha. Um dos confirmados para a empreitada é o Adrift Lab, cujo trabalho inclui a pesquisa de plásticos à deriva nos oceanos. Eles terão um espaço, em um dos seis principais locais da Bienal: a Ilha Cockatoo no porto de Sydney.


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