Grevistas em frente à Crespi, a primeira fábrica a parar em 1917 (Foto: reprodução)
Grevistas em frente à Crespi, a primeira fábrica a parar em 1917 (Foto: reprodução)

As oficinas eram insalubres. A jornada de trabalho girava em torno de 14 horas. Não havia descanso remunerado. Era ruim para todo mundo, mas mulheres e crianças sofriam ainda mais. Trabalhavam o mesmo tanto e recebiam menos que os homens. Junte-se a isso uma guerra na Europa, escassez nas prateleiras e carestia galopante.

A primeira fábrica a parar foi a Crespi, como era conhecido o Cotonifício Rodolfo Crespi, uma das maiores indústrias têxteis de São Paulo. Inaugurada em 1897, ficava perto da Hospedaria dos Imigrantes, primeira parada dos estrangeiros que chegavam à cidade em busca de uma vida melhor. Cerca de 75% dos trabalhadores da Crespi eram de origem italiana.

Em junho de 1917, os operários da tecelagem pediram 20% de aumento e melhores condições de trabalho. Não levaram. Foi o estopim para a primeira greve geral de São Paulo. Poucos dias depois, a Antártica parou. Na sequência, a greve se generalizou, inspirada no socialismo e anarquismo difundidos por militantes como o jornalista Edgard Leuenroth.

Apontado pela polícia como autor “psíquico-intelectual” da greve, Leuenroth registrou o momento: “Paralisava-se a vida laboriosa de São Paulo que não pode parar, para dar lugar a uma convulsão popular sem precedentes na vida paulistana. A polícia entrou em ação. Começaram os choques com as multidões. Dos encontros resultaram vítimas de ambos os lados”.

Uma das vítimas foi o sapateiro Jose Martinez, militante anarquista espanhol de 21 anos, morto durante manifestação em frente à tecelagem Mariângela, no Brás. Calcula-se que mais de dez mil pessoas acompanharam seu enterro pelas ruas de São Paulo, até o cemitério do Araxá, onde oradores inflamados se revezaram à beira do túmulo.

Durante mais de um mês, as fábricas e o comércio permaneceram parados. Saques começaram a acontecer depois que uma carroça de pão foi assaltada na rua Rangel Pestana, também no Brás. Demorou, mas o então recém-formado Comitê de Defesa Proletária, com a intermediação de um grupo de jornalistas, conseguiu negociar o fim da greve.

Eles conquistaram um aumento geral de 20%, o direito à associação e a não demissão dos grevistas, mas, na prática, a greve de 1917 não passou do início de lutas mais amplas. Quanto ao trabalho infantil, o governo se comprometeu apenas a interceder “para que sejam estudadas e votadas medidas que protejam os trabalhadores menores e as mulheres no trabalho noturno”.

 


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