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assim dizer, para a necessidade de criar um novo
aparelho cultural que desse conta do que estávamos
propondo institucionalmente.
Se politicamente nosso cerne institucional se
pauta no fortalecimento do território a partir das
gentes que o compõem, por que se distanciar das
pessoas? Para além disso, somos instituição porque
eis o modus operandis de existir/resitir no (e ao)
mercado, mas até que ponto precisamos de mais
uma instituição de arte? Com o problema de não ter
mais os espaços delimitados anteriormente, e com
todos estes questionamentos, comecei a buscar um
lugar não institucional que veio a abrigar a 1ª edição
da Bienal das Amazônias.
O prédio escolhido f nalmente, de quase oito mil
metros quadrados, já foi a casa da mais antiga loja
de departamentos da cidade de Belém, a Y.Yamada,
há muito tempo fechado, no centro comercial da
cidade, e veio coroar nossas crenças enquanto
Bienal das Amazônias. Mas nem toda coroação é
simples. O prédio precisou de diversas reformas,
tivemos de refazer sua estrutura elétrica, hidráulica,
criar sistema de incêndio, construir salas, banheiros,
sistema de acessibilidade, sistema de refrigera-
ção, tudo isso somada a montagem do projeto
expográf co, em exatos 43 dias. Isso tudo com o
orçamento desenhado em 2019, captado nos anos
subsequentes e sem qualquer ajuda f nanceira dos
entes municipais e estaduais que tanto ganharam
com a Bienal. Então claro que tivemos problemas
f nanceiros e somente agora vamos conseguir sanear
todos os custos.
É muito importante para a Bienal das Amazônias,
para mim enquanto sua idealizadora, e para todos
os profissionais que abraçaram esse projeto, que
ele se realize num lugar popular. Arte é sobretu-
to um ato político. Precisamos instrumentalizar a
Em razão da pandemia e de todas as dificuldades nossa população, e que meio mais forte se não a
impostas pelo então Governo Federal acabamos por arte para fazê-lo? Precisamos requalif car o nosso
desenhar a sua realização para o ano de 2022. Até centro comercial, mas para isso é urgente que não o
aquele momento realizaríamos a Bienal em diversos gentrif quemos, que todos que fazem dele realidade
aparelhos culturais do Estado e do município, e hoje, permaneçam nele. Muitas questões.
construíriamos 20 obras públicas que, para além de
debater os usos que fazemos da cidade de Belém, – A Bienal foi um sucesso de público
faria a liga entre estes diversos prédios. No entanto, Em razão do hercúleo trabalho possível graças ao
por questões administrativas, acabamos por jogar coletivo, a Bienal foi um sucesso e com isso conse-
nossa realização para o ano de 2023 e, com isso, o guiremos manter o prédio como a sede da instituição,
Governo do Estado do Pará nos informou que não logo a próxima edição da Bienal das Amazônias em
mais teríamos as pautas dos espaços museais que 2025 acontecerá nele, também, bem como diversas
tínhamos acordado. Então, acabamos jogados, por programações no ano de 2024.
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