Page 23 - ARTE!Brasileiros #59
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No WhatsApp, no Twitter, os grupos se relacionam em comunidades
que são câmaras de eco fechadas, fascistas sem que saibam
Equipe artística da 12ª Bienal
de Berlim; esq. para a dir., Ana
Teixeira Pinto, Noam Segal, Kader
Attia, Đỗ Tường Linh, Rasha Salti
e Marie Helene Pereira
câmaras de eco muito fechadas, fascistas Na sua opinião, qual é um dos maiores
sem que saibam, onde as pessoas vão perigos que estamos enfrentando?
ouvir o que querem ouvir, isolados. Nesse O verdadeiro perigo é a coleta de dados
sentido, para mim, o que parece impor- que está nos transformando. Primeiro,
tante na ideia de espaços intersticiais temos que entender qual seria a coisa
para o espectador e com o espectador é, que este capitalismo tecno-liberal mais
por exemplo, o que disse a David Cha- deseja, quais são os mercados futuros
valarias quando o encontrei: o principal que o capitalismo está explorando e, a
seria como mostrar esse trabalho para partir daí, desenvolver estratégias de luta.
o público. Como fazê-lo possível. Para Em suma, qual é esse neocolonialismo?
mim isto é fundamental, e acredito que É o neocolonialismo que está coletando
é o trabalho do curador, não apenas do dados por um processo simples que é
artista. O trabalho é mostrar ao público chamar a atenção: quando a sua atenção
como nos tornamos antissemitas, isla- está ativada, a governabilidade algorítmica
está coletando informações.
mofóbicos, homofóbicos, transfóbicos,
FOTO: SILKE BRIEL sem nos darmos conta, com uma espécie a palavra vigilância. Então eu disse que
Ontem, vi um artista falando que odeia
de raiva, quando somos manipulados por
não era de fato vigilância, mas é como [a
dados que circulam na velocidade da luz.
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