Page 21 - ARTE!Brasileiros #59
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Kader Attia durante a entrevista concedida à arte!brasileiros
falando, o da arte. O capitalismo tenta se Para mim, uma bienal não é uma feira de
recuperar, por meio da cultura e da arte, arte, é um laboratório, no qual temos que
apropriando-se das mensagens políti- inventar o mundo. E nessa invenção, preci-
cas, como essa da decolonização, e com samos preservar a história da qual viemos,
isso temos o risco de que elas se tornem que nos precede. Porque a amnésia não faz
institucionalizadas. Ou seja, temos de ser bem. Eu conheço feministas, como Paula
capazes de cuidar das retóricas, de inventar Bacchetta, que me comentava outro dia
uma linguagem, sempre nova, quase novos como os jovens de hoje dizem que não havia
vocabulários, quem sabe abandonar a pala- negras ou árabes feministas nos anos 1970.
vra “decolonial” e criar outra, por exemplo, Não é verdade, havia nos anos 1980 uma
FOTOS: PATRICIA ROUSSEAUX Você é um artista e já foi curador de expo- das Les Beurettes [nome dado a jovens de
“desmodernizar”, porque decolonial não
organizacão de mulheres árabes chama-
inclui o feminismo, por exemplo.
origem magrebina nascidas na França]. E
a Paula também me disse que havia femi-
sições diversas. Qual foi o desafio maior
nistas nos anos 1970 que colaboraram com
os movimentos de independência de Porto
de pensar uma Bienal?
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