Page 85 - ARTE!Brasileiros #58
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Vale do Rio Doce, ressaltado pelo próprio instituto como
                                                                  “uma área de Mata Atlântica altamente degradada e com
                                                                  a ameaça de extinção de diversas espécies nativas”. As
                                                                  logísticas e o andamento da empreitada são atribuídos
                                                                  a Lélia, quem assina a expografia da recente mostra no
                                                                  Sesc Pompeia, como também a edição, concepção e
                                                                  realização do livro Amazônia. Inclusive, foi dela a ideia
                                                                  de que a exposição fosse repleta de música. “Amazonia
                                                                  é uma região muito musical, os indígenas são muito
                                                                  musicais, eles cantam muito, tem muitas festas e muitos
                                                                  instrumentos. Lélia viajou muito na Amazônia comigo e
                                                                  queria, absolutamente, que nós trouxéssemos música
                                                                  na exposição”. Com o propósito de criar a trilha sonora
                                                                  a servir como fio condutor da exposição, Jean-Michel
                                                                  Jarre, compositor e produtor popular na França (tido
                                                                  como um pioneiro da música eletrônica), teve acesso
                                                                  aos acervos do Museu de Etnologia de Genebra, que
                                                                  vem recuperando sons da Amazônia inteira durante
                                                                  anos. Os cantos e instrumentos indígenas aparecem
                                                                  também em outra experiência sonora, a projeção com os
                                                                  retratos dos integrantes das tribos que Salgado visitou.
                                                                  A música nesse espaço ficou a cargo do grupo Pau Brasil,
                                                                  de São Paulo, junto com Marlui Miranda. Uma última
                                                                  projeção de paisagens homenageia o maestro Heitor
                                                                  Villa-Lobos tocando “Erosão (Origem do rio Amazonas)”.
                                                                     Ao fim de Amazônia, Salgado apela: “Para sobreviver
                                                                  como cultura, esses povos não podem ser simples obje-
                                                                  tos de interesse antropológico. [Eles] devem contribuir
                                                                  e também se beneficiar do desenvolvimento sustentável
                                                                  da Amazônia por meio de sua extraordinária riqueza
                                                                  botânica, renovável em especiarias exóticas, nozes ou
                                                                  plantas com propriedades medicinais e cosméticas”.
                                                                  Nessa última fala, a defesa dos direitos indígenas e
                                                                  pela preservação do bioma caminha junto com o prag-
                                                                  matismo, tendo em vista que “de acordo com imagens
                                                                  de satélite, em contraste com as terras privadas, com
                                                                  gigantescos parques nacionais ou terras públicas de
                                                                  propriedade do Estado, houve pouquíssima ocorrência
                                                                  de incêndio ou atos de desflorestamento dentro das
                                                                  reservas indígenas”. E como o próprio fotógrafo já
                                                                  havia constatado antes: “Quando se abate uma parte
    FOTO: EVERTON BALLARDIN/ CORTESIA SESC  recuperação de nascentes da Bacia Hidrográfica do   pecuária”. E quanto custa a floresta? “O preço que é
                                                                  da floresta é como se essa floresta não tivesse valor…
                                                                  A gente joga no chão, põe fogo, destrói para implantar

                                                                  necessário colocar para reconstruir esse hectare de
                  Rio Doce e na produção de mudas nativas - 6 milhões
                  até agora - para reflorestamento próprio e de terceiros.
                                                                  floresta”, ele responde. “Se 10 mil hectares de floresta
                                                                  são derrubados, você está derrubando mais de 200
                  Além disso, até 2023, o Terra espera ter concluído a
                  primeira fase do seu projeto de banco genético da Mata
                                                                  milhões de dólares. Jamais na história dessa proprie-
                                                                  dade rural - que vai se fixar onde a floresta foi destruída
                  Atlântica. O programa foi iniciado em 2018 e seu objetivo
                                                                  - produzirá a quantidade de capital que ela destruiu”.
                  é garantir a continuidade de espécies encontradas no
                                                                                                              85





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