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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO


                        Acima, obra sem título da série Marionettes.; abaixo,
                        Vênus de Âmbar, da série From ‘La Voie Humide’, 2014




















                 ‘la voie humide’, (2014), considerada sua última série de
                  esculturas. Essa composição espacial se dá por meio das
                  possíveis configurações entre os objetos trabalhados
                  em gesso, terracota e cristais, sustentados por uma
                  espécie de tripé, com caldeirões e partes de corpos
                  em referência direta à alquimia.
                    Como define Nicolas Bourriaud, cada exposição
                  contém o enredo de outra, cada obra pode ser inserida
                  em diversos programas e servir como enredo múlti-
                  plo. O conceito se encaixa na remontagem da enorme
                  escultura Gravitação magnética, composta de chapa
                  de aço, limalha de ferro, e longos fios de aço que em
                 1987 alcançavam todos os andares do pavilhão da 19ª
                  Bienal de São Paulo, sob a curadoria de Sheila Leirner.
                  Agora, no Tomie Ohtake, a peça não causa o mesmo
                  impacto devido à interferência visual no espaço, aberto
                  a outros departamentos. No entanto, vale a pena revê-la.
                    Outro momento especial é a videoinstalação Ão,
                  de 1981, que marcou a estreia de Tunga no audiovisual,
                  filmada em 16mm e looping. A projeção agigantada
                  em uma sala no Tomie Ohtake fixa-se na curva de um
                  túnel, como se não houvesse entrada nem saída e
                  fosse impossível sair de dentro. Lugar, corpo, ação e
                  movimento abrem espaço para reflexões sobre tempo/
                  memória, elemento primordial nessa obra, cuja trilha
                  sonora Night and Day tem interpretação de Frank Sinatra.
                  Segundo Paulo Venancio, o espectador se vê envolvido
                  por dois movimentos contínuos: o do filme que circula
                  pela sala e o da imagem projetada na tela, tal como se                                               FOTOS: MATHEUS SOARES | GABI CARRERA / CORTESIA MENDES WOOD DM
                  fosse colocado “dentro” de uma escultura visual. A obra
                  impactou Walter Zanini, que a exibiu na 16ª Bienal de
                  São Paulo de 1981, quando foi o curador-geral.
                    Corpo e erotismo permeiam a produção do artista
                  por suas significações. Segundo a psicanalista Suely
                  Rolnik, as obras de Tunga são vibráteis por meio de
                  atrações estranhas, de tensão erótica, de montagens


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