Page 40 - ARTE!Brasileiros #57
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INSTITUIÇÕES RESIDÊNCIA BELOJARDIM
Dirigir um projeto dessa magnitude
corresponde, de um modo realista, a
se abrir a novos horizontes. Para esta
terceira edição as curadoras amplia-
ram o convite a outros locais e con-
vidaram Camila Sposati, cujo projeto
Corpos de Phonosophia une delicada
e complexa reflexão sobre instrumen-
tos de sopro e as possíveis conexões
com os órgãos humanos, tema que
ela pesquisa há tempos. “Desde
2015 trabalho com instrumentos. Me
entusiasmei com a possibilidade de
trabalhar em Belo Jardim, fui conhe-
cer o lugar e fiz uma proposta”, diz
ela. De qualquer forma, queria que o
contexto influenciasse a obra, então
readaptou o trabalho para o agreste.
Camila permaneceu em Belo Jardim só
por dois meses, mas para reconfigurar
o projeto trabalhou três anos. Quan-
do chegou a pandemia, a artista teve
que retornar a Viena, onde mora, mas
contou com uma equipe de confiança
in loco para ajudá-la a levar o projeto
adiante. “Acompanhei tudo virtual-
mente e contei com a coordenação
de David Biriguy, um poeta e produtor
cultural de Belo Jardim que conhece
bem os artistas locais e soube escolher
os participantes. Ele tornou-se um
co-curador.” Logo no início, deixou
claro aos participantes que não haveria
interferência nos trabalhos e todos
aceitaram entrar no projeto, que não
é nada simples, reconhece Camila.
Cada um deles foi protagonista de um instrumento, de som eles queriam fazer. Ao serem indagados, esco-
que na verdade, é um objeto escultural que poderia lheram o som político. “As pessoas querem fazer o som
ser moldado como quisessem, até em formato de um para sociedade, o som da rua, da raiva, da angústia, do
triângulo, quadrado ou hexágono, não importava. Expe- respirar, do medo”, argumenta Camila. A escolha não
rimentação é um dos desafios dessa residência que surpreende, uma vez que o Teatro Legislativo (1996) de
deu asas aos participantes para escolherem que tipo Augusto Boal, é um dos pilares conceituais de Corpos
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