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LIVROS JACQUES RANCIÈRE


            RANCIÈRE REVÊ


            MODERNISMO                                                          Autor usa como


                                                                                referências apenas
                                                                                textos de homens
                                                                                brancos da Europa
                                                                                e Estados Unidos
            se existe um loCal onDe inClusão, decoloniania-
            lismo e debate antirracista são muito presentes é na                por fabio CYpriano
            cena da arte contemporânea. Por isso, não deixa de
            ser estranho que o novo livro de Jacques Rancière,
            Tempos modernos – arte, tempo, política, se dedique
            a uma espécie de revisão do modernismo apenas com
            referências de autores homens, brancos e europeus ou   novo tecido sensível em que as atividades prosaicas
            estadunidenses.                                 recebam o valor poético que faz delas os elementos
              Afinal, seu livro A partilha do sensível – estética e   de um mundo comum”.
            política, publicado no Brasil, em 2005, é uma referência   Esse “tecido sensível” é visto também como um
            importante sobre a compreensão de que uma obra de  “regime da experiência” e torna-se parte do foco des-
            arte deve ser vista sempre dentro do “tecido da expe- ta pesquisa: apontar que a noção de tempo linear da
            riência”, como o próprio Rancière conceitua, portanto   modernidade deve ser repensada, pois “o tempo não é
            dentro de um contexto.                          simplesmente a linha que se estica entre um passado e
               É verdade que a publicação que sai, agora em 2021,  um futuro. Ele é também, e antes de mais nada, um meio
            pela editora N-1, reúne quatro textos já um tanto datados,  em que se vive”. Dos quatro textos da publicação, com
            a maioria de 2015. Sim, seis anos no atual momento,  uma um tanto óbvia homenagem ao filme de Charles
            pós #metoo e #blacklivesmatter, é um período sufi- Chaplin, Tempos Modernos, dois deles são dedicados
            cientemente largo, porque alterou paradigmas culturais   a linguagens específicas da arte: a dança e o cinema.
            e acadêmicos, que não toleram mais certas práticas   Sobre a dança ele aponta o caráter libertário e livre,
            ultrapassadas.                                                   especialmente dos anos 1920 e
               No Brasil, essa questão                                       1930, abordando coreógrafas e
            torna-se ainda mais perti-                                       bailarinas de um amplo espectro:
            nente pois já tiveram início                                     da expressionista alemã Mary
            as reflexões em torno dos                                        Wigman (1886-1973), precursora
            100 anos da Semana de Arte                                       da dança-teatro, à norte-ameri-
            Moderna de 1922, e muitos                                        cana Lucinda Childs.
            seminários e eventos busca-                                         Já no ensaio sobre cinema, Ran-
            ram rever a efeméride a partir                                   cière trata de cenas específicas de
            de óticas mais inclusivas e de                                   três filmes: Um homem com uma
            autoras e autores com distin-                                    câmera (1929), de Dziga Vertov, As
            tas representatividades.                                         vinhas da ira (1940), de John Ford,
                                                                             e Juventude em Marcha (2006), do
            regime Da experiÊnCia                                            português Pedro Costa. Ao menos
            Apesar de tudo isso, o mar-                                      aí, Costa representa uma certa
            xista Rancière segue bus-                                        marginalidade no pensamento tão
            cando criar conceitos que                                        eurocêntrico do autor.
            possam olhar para formas
            de emancipação, como ao
            problematizar a noção de                                         Tempos modernos – arte, tempo,       FOTO: REPRODUÇÃO
            moderno como “construir                                          política, Jacques Rancière. N-1
            um novo senso comum, um                                          edições, 2021 (160 p.)

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