Page 24 - ARTE!Brasileiros #56
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INSTITUIÇÕES INHOTIM
abstrato, complexo e em construção. Com cores fortes e formas que remetem tanto a Obras da série
elementos religiosos - como templos cristãos, judaicos e muçulmanos - quanto a um Mediterranean,
parque infantil, o artista propõe uma reflexão sobre o conhecimento e a convivência. de Aleksandra Mir
“A obra conduz o olhar do visitante para diferentes pontos de vista, acentuando a deso-
rientação desse espaço em estado de construção”, explica o artista. Segundo o baiano,
que habita Porto Alegre há mais de 20 anos, “ao embaralhar elementos arquitetônicos
de religiões diferentes, com as quais o público pode se identificar, busquei criar uma
espécie de harmonia, ainda que labiríntica; possibilitar uma convivência estranha”.
Ele se refere, por fim, à importância desse debate no contexto em que aumentam os
extremismos religiosos e discursos fundamentalistas no Brasil.
A terceira abertura em Inhotim, a mostra Entre Terras, reúne quatro desenhos
em grande escala da artista polonesa, radicada na Inglaterra, Aleksandra Mir. Parte
da série Mediterranean (2007), os trabalhos foram produzidos durante um período
passado pela artista na Sicília, quando se atentou para a importância do Mar Medi-
terrâneo enquanto território político, marcado por fluxos migratórios e disputas de
poder. Com o aspecto de mapas, mesclados a representações de pequenas pessoas,
flores, cruzes e escritos em letras estilizadas, “o trabalho chama atenção para as
manifestações culturais carregadas por aquelas águas ao longo de milênios, como
agentes de troca entre sociedades e no deslocamento de indivíduos”, como afirma
o curador do instituto, Douglas de Freitas.
Assim como as obras de Lucia e Rommulo, a exposição de Mir se insere no pro-
grama intitulado Território Especifico, eixo de pesquisa que norteia a programação
de Inhotim no biênio 2021/2022. Após o rompimento da barragem, as transforma-
ções em Brumadinho e a crise gerada por uma pandemia global, soa coerente a
busca do museu mineiro por intensificar suas relações com a cidade e, ao mesmo
tempo, refletir sobre os conflitos sociais e territoriais que avançam em diferentes FOTO: LEO FONTES/ DIVULGAÇÃO
regiões do mundo.
*O jornalista viajou a convite do Instituto Inhotim
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