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Jonathas de Andrade, ABC da Cana, 2014, do acervo do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR)
faíscas entre diferentes formas de lidar com ideias, for- É grande a lista de artistas representados na expo-
mas e palavras, a exposição se articula em torno de seis sição, com raríssimas e propositais lacunas, como
núcleos principais: mídia, resistência, casa, rua, religiosi- no caso dos poetas paulistas ligados ao concretismo.
dade e pedagogia são as palavras em torno das quais se “Procuramos evitar um caráter literário, privilegiando a
aglutinam os vários objetos. Muitos dos trabalhos sele- presença da palavra poética no campo artístico”, explica
cionados pertencem, simultaneamente, a várias dessas Moacir. Deixando de lado essas exceções, os grandes
categorias. E estabelecem entre si diálogos enriquece- mestres da arte que se apropriam da palavra estão lá.
dores. Há, por exemplo, uma interessante reverberação Autores como Arthur Bispo do Rosário, Mira Schendel,
entre os slides usados por Paulo Freire nos anos 1960 Cildo Meireles, Paulo Bruscky, Antonio Manuel, Leonil-
para alfabetização e a obra ABC da Cana, de Jonathas son, Élida Tessler, Vânia Mignone, Marilá Dardot, Ivan
de Andrade, ou ainda a pintura Esperança, de Leonilson, Grilo, Jaime Lauriano, dentre outros, comparecem,
que também usa o alfabeto como matéria-prima. muitas vezes com mais de um trabalho.
A palavra, onipresente, às vezes cede lugar para Há um esforço permanente, em termos de mon-
aproximações poéticas menos explícitas. É o caso do tagem, de desfazer categorias, de demonstrar que a
conjunto formado pelas obras de Lygia Pape, Lenora expressão artística deriva muitas vezes de um olhar
de Barros, Lia Chaia e Anna Maria Maiolino, no qual o atento ao mundo da rua e das coisas, sejam estandartes
foco se desloca do símbolo escrito para a fisicalidade de maracatu, panos de prato, rótulos de cachaça ou
da língua. A ideia de corte, mácula ou impossibili- assinaturas de pixo. Um exemplo claro desse hibridismo
dade de controle da própria língua, algo comum ao é o trabalho Você me dá sua palavra?, de Elida Tessler,
trabalho dessas artistas, torna a aproximação entre que promove uma costura por toda a exposição. Por
elas muito potente. todo o espaço ziguezagueam, sustentados por cordas
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