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Vista da exposição Farsa - Língua, Fratura, Ficção: Brasil-Portugal















































            metal, um pouco a sensação de quem atravessou 2020.  nos anos 1960/70 e no século 21. Há um sentido nessa
               A mostra conta com poucos trabalhos espalhados por  escolha, o primeiro é o momento da busca de expansão
            sete salas e uma arquitetura generosa, o que transmite   da arte para novos campos além do próprio circuito,
            um sentimento de segurança, por um lado, e a possibili- atitude que perde espaço nas décadas seguintes, para
            dade de apreensão total, por outro. É especialmente sob   retornar nos anos recentes. São períodos importantes
            essa ótica que Farsa se torna uma espécie de antítese   de renovação, transformação e transgressão.
            do que poderia ser uma mostra nos dias atuais. Teria   O problema é que a mostra ambiciosa chega a ter
            sido uma ótima mostra em “condições normais”, mas   um caráter enciclopédico: mais de cem obras de 68
            já que elas não existem, a questão é porque a curadoria,  artistas, a dimensão de uma bienal. Isso tudo demanda
            a cargo de Marta Mestre e Pollyana Quintella, não a   um tempo e uma concentração um tanto difíceis no
            repensou para o momento.                         novo contexto, com limitação na visita, quando não
               Há desde trabalhos interativos a muitos monitores   dá para ver vídeos em pequenas salas, quando não se
            que obrigam o uso de fones dispostos no espaço, mas   pode manipular obras.
            sem condições de higiene adequadas. Para que se    Farsa é um exercício de linguagem muito bem ela-
            aventurar a pegar um objeto que outras pessoas podem   borado, mas creio que o momento agora é de síntese,
            ter tocado sem limpar?                           não de dispersão. Por isso, Irreparáveis Reparos ganha
               O conceito da mostra gira em torno dos limites da   potência. Consegue expressar com contundência ques-
            linguagem e da comunicação, focando artistas que   tões relevantes, que se já mereciam atenção antes de
            trabalham no Brasil e em Portugal, em dois tempos:  2020, agora são urgentes.

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