Page 61 - ARTE!Brasileiros #53
P. 61
Vista da exposição Farsa - Língua, Fratura, Ficção: Brasil-Portugal
metal, um pouco a sensação de quem atravessou 2020. nos anos 1960/70 e no século 21. Há um sentido nessa
A mostra conta com poucos trabalhos espalhados por escolha, o primeiro é o momento da busca de expansão
sete salas e uma arquitetura generosa, o que transmite da arte para novos campos além do próprio circuito,
um sentimento de segurança, por um lado, e a possibili- atitude que perde espaço nas décadas seguintes, para
dade de apreensão total, por outro. É especialmente sob retornar nos anos recentes. São períodos importantes
essa ótica que Farsa se torna uma espécie de antítese de renovação, transformação e transgressão.
do que poderia ser uma mostra nos dias atuais. Teria O problema é que a mostra ambiciosa chega a ter
sido uma ótima mostra em “condições normais”, mas um caráter enciclopédico: mais de cem obras de 68
já que elas não existem, a questão é porque a curadoria, artistas, a dimensão de uma bienal. Isso tudo demanda
a cargo de Marta Mestre e Pollyana Quintella, não a um tempo e uma concentração um tanto difíceis no
repensou para o momento. novo contexto, com limitação na visita, quando não
Há desde trabalhos interativos a muitos monitores dá para ver vídeos em pequenas salas, quando não se
que obrigam o uso de fones dispostos no espaço, mas pode manipular obras.
sem condições de higiene adequadas. Para que se Farsa é um exercício de linguagem muito bem ela-
aventurar a pegar um objeto que outras pessoas podem borado, mas creio que o momento agora é de síntese,
ter tocado sem limpar? não de dispersão. Por isso, Irreparáveis Reparos ganha
O conceito da mostra gira em torno dos limites da potência. Consegue expressar com contundência ques-
linguagem e da comunicação, focando artistas que tões relevantes, que se já mereciam atenção antes de
trabalham no Brasil e em Portugal, em dois tempos: 2020, agora são urgentes.
61