Page 59 - ARTE!Brasileiros #53
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sábaDo, 14 De novembro. Exatamente oito meses
                                                             após um confinamento levado muito a sério, visito a
                                                             primeira exposição de arte. Escolho o Sesc Pompeia
                                                             por ser um dos locais mais acolhedores da cidade,
                                                             pela arquitetura de Lina Bo Bardi, pelas mostras em
                                                             cartaz. Exposições costumam ser o lugar da surpresa,
                                                             do espanto, da pesquisa, do questionamento, é onde
                                                             se pode rever o cotidiano, repensar o real, propor novos
                                                             mundos, e também a possibilidade de fantasia e ativismo.
                                                               Mas em um mundo em pandemia, que no Brasil se
                                                             tornou uma política de morte, o que significa retornar a
                                                             uma exposição de arte contemporânea? Dá para olhar
                                                             arte com máscara, medo de se aproximar de outras
                                                             pessoas e a impossibilidade de tocar na obra? Ou a
                                                             experiência de uma exposição está comprometida e
                                                             sua arquitetura e organização não podem mais seguir
                                                             parâmetros pré-11 de março de 2020, quando a oms
                                                             anunciou a pandemia?
                                                               Desde os anos 1980, com a Aids, o mundo da arte
                                                             incorporou a ideia de “contaminação” como uma afir-
                                                             mação positiva e a palavra inundou textos curatoriais,
                                                             críticos e mesmo de descrição de mostras. Talvez seja
                                                             agora o momento de se rever o uso dessa palavra, espe-
                                                             cialmente porque está claro que a contaminação está
                                                             em todo lugar, mesmo levando-se em conta as medidas
                                                             sanitárias necessárias, e ela segue mortal.
                                                               Na visita ao Sesc, as medidas são dadas pelo número
                                                             limitado de visitantes, que só podem entrar com inscri-
                                                             ção prévia, e pela medição de temperatura na entrada.
                                                             O local, além do mais, é um lugar amplo, com muita
                                                             ventilação, outro aspecto importante que dificulta a
                                                             contaminação.
                                                               O Sesc Pompeia tem duas mostras em cartaz, que
                                                             seguem até o fim de janeiro: Farsa. Língua, Fratura,
                                                             Ficção: Brasil–Portugal e Kader Attia – Irreparáveis
                                                             Reparos. Como experiência, e creio que isso é impor-
                                                             tante agora mais do que nunca, a exposição do artista
                                                             franco-argelino me pareceu mais adequada ao tempo
                                                             presente, apesar de ambas terem sido concebidas e
                                                             desenhadas no mundo pré-pandêmico.






                                                             Caos + Reparo = Universo, 2014, obra de
                                                             Kader Attia em cartaz no Sesc Pompeia

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