Page 66 - ARTE!Brasileiros #50
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nas bordas ja.ca
acabaram se afastando, o primeiro para tocar a galeria organizada uma residência com representantes destes
Mendes Wood –, além de parcerias com estudantes “espaços intencionais”, como foram chamados à época.
de arquitetura da uFmg, abriram novos caminhos de “Uma coisa muito forte nos espaços independentes
experimentação para o Ja.Ca. São dessa época projetos são as festas, a cozinha, esse lugar afetivo que toda
como o Ponto de Ônibus Expandido, realizado com casa tem. É nesse fazer junto, no cozinhar, nas conver-
madeira descartada no bairro, e o DeSeJa.Ca, que utili- sas informais, que acontecem muitas aproximações,
zou materiais para projetos de marcenaria, tecelagem, muitas parcerias”, explica Moreira. Desse modo, toda a
estamparia e design. residência foi pensada a partir da comida, “da digestão
A mudança do Ja.Ca para a sede atual, após aumento e da indigestão”, para, na verdade, discutir a gestão de
exorbitante no aluguel do antigo espaço com o asfalta- espaços independentes – suas potências, estrutura,
mento da rua na qual se localizava, ocorreu em 2014, a formação de equipes, projetos, sustentabilidade etc.
partir da construção em novo terreno do mesmo bairro “E como ter um espaço destes é ter que fazer de tudo,
de um espaço dividido em seis containers. Pensada de se desdobrar, o subtítulo do projeto era ‘como assobiar
maneira transportável ou desmontável, a sede se torna e chupar cana ao mesmo tempo’.”
menos vulnerável à especulação imobiliária que já fez Outros projetos marcantes do Ja.Ca ao longo dos
o Ja.Ca mudar de lugar duas vezes. Marcenaria, biblio- anos seguintes foram o Dispositivo Móvel para Ações
teca, área de convivência, cozinha e todos os espaços Compartilhadas (2015) e o Praça Viva (2016). No primeiro,
poderão ser transportados com relativa facilidade caso a partir da compra de uma Kombi e da aprovação no
haja necessidade. edital Rumos Itaú Cultural, seis artistas (ligados também
A aproximação de Caporali com Samantha Moreira à gastronomia, arquitetura e outras áreas) foram selecio-
– fundadora do Ateliê Aberto (1997) em Campinas, um nados para uma residência de 60 dias para desenvolver
dos mais longevos espaços autônomos do país – se deu ações itinerantes com a Kombi. “Fizemos projeções
mais intensamente a partir do Indie.Gestão, criado em de filmes, performances, uma escola portátil, cozinha.
conjunto pelos dois espaços e realizado em 2014. O pro- Isso permitia sair da sede e amplificar as ações: não
jeto, financiado através de uma premiação da Funarte, se a comunidade indo até o Ja.Ca, mas nós e os artistas
propôs a mapear espaços de gestão independente – em indo até a comunidade”, diz Moreira.
uma época em que existiam muitos deles, antes da crise Já em Praça Viva (2016), o Ja.Ca se associou a pro-
e do desmonte cultural no país – em diferentes cidades fessores e alunos da Escola Municipal Benvinda Pinto
e colocá-los em diálogo em uma “residência artística”. Rocha para ocupar uma área pública que deveria ser uma
Ou seja, ao invés de fazer uma residência de artistas, foi praça – segundo o planejamento urbano do bairro – mas
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DIVULGAÇÃO/JA.CA
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