Page 68 - ARTE!Brasileiros #50
P. 68
NAS BORDAS VERAS
TRANSVERSALIDADE
DE RAIZ
Centro Cultural Veras, em Florianópolis, começa
a ser construído a partir de experiência que
mistura arte e outros campos do conhecimento
por Fabio Cypriano
um Centro Cultural está senDo CriaDo “Voltei para o Brasil, em 2006, para um
de forma bastante distinta das instituições de intercâmbio com a uSp e foi quando a Liset-
arte brasileiras privadas, em geral financiadas te Lagnado estava fazendo a Bienal. Foi um
por mecenas milionários e mesmo assim com momento de grandiosa iniciação na curadoria.
histórias recorrentes de fracasso, algumas E, paralelamente, havia uma grande mostra
delas colocando em risco museus, como ocor- da coleção do mam na Oca e fui convidado
reu com o fechamento do mam-Sp em 1967. pelo Tadeu Chiarelli, meu professor na uSp,
O novo local é o Centro Cultural Veras, para ser um dos educadores da exposição”,
concebido a partir de uma gestação de vinte recorda Mattos.
anos pelo monge e curador Josué Mattos, A experiência foi essencial em seu percur-
que teve a ideia quando vivia em um monas- so: “Visitar a Bienal todo dia e conviver com
tério nas montanhas de Paraty e acabou se o acervo do mam me levaram a decidir que,
especializando em arte na França. Mais fora quando voltasse ao Brasil, o que ocorreu em
da curva, impossível. 2010, eu tentaria atuar como curador para
Nascido em Criciúma (Santa Catarina), facilitar a construção do centro cultural.”
Mattos mudou para Florianópolis nos anos Nesses últimos dez anos, todos os trabalhos
90. “Foi quando começou o desejo de fazer assumidos pelo curador-monge ajudaram
esse projeto. A concepção é de 1999. Naquela na viabilização do novo espaço, entre eles a
época eu estava envolvido em movimentos concepção e curadoria da primeira edição do
alternativos, espirituais e ligados ao Yoga e projeto Frestas - Trienal de Artes, no Sesc Soro-
frequentava um centro cultural, que não era caba, uma mostra periódica de arte contempo-
bem a melhor denominação para ele, mas rânea, que teve início em 2014. “Convidado para
era assim que era chamado”, inicia a contar conceber um projeto de uma bienal no interior,
a história atípica, por telefone, logo após ter sugeri que fosse uma trienal, em virtudes de
resolvido como retirar uma imensa rocha que debates da 28ª Bienal de SP, e mesmo antes,
ameaçava o subsolo do novo espaço. nos anos 1980, quando Aracy Amaral apontava
Em 1999, o monge foi morar em Paraty, o curto tempo para se organizar uma mostra
onde passou três anos, e de lá partiu para desse porte em dois anos”, explica.
Paris, estudar arte, “porque achava que seria Além de mobilizar seus cachês para a
importante para esse centro cultural”. Passou construção do centro cultural, realizou duas CREDITO IMAGENS XXXXXXXXXXXX
quase dez anos na capital francesa, estudan- permutas que permitiram o financiamento
do filosofia e literatura do Yoga e História da da mão-de-obra e do elevador do edifício.
Arte e Arqueologia. No primeiro caso, no Instituto Adelina, em
68
08/04/2020 23:04
BOOK_ARTE_50.indb 68
BOOK_ARTE_50.indb 68 08/04/2020 23:04