Page 61 - ARTE!Brasileiros #50
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Performance realizada durante a exposição Abraço Coletivo, em 2019.
Bogossian. Assim, o espaço tem debatido novas estra- ensinar do que ouvir o outro”, diz ela. “Então temos que
tégias de sobrevivência e tentado colocar em prática levar propostas, saber se colocar, e ao mesmo também
projetos que possam manter sua sustentabilidade. ouvir, conseguindo se aproximar do dia a dia do bairro.”
Um crowdfunding (financiamento coletivo) realizado Para as gestoras do Ateliê, uma maior ocupação
em 2017 arrecadou R$ 65 mil e possibilitou a manutenção do espaço público se insere também como prática
das atividades do 397 no primeiro semestre de 2018. A política em tempos de ataque às artes e à educação.
venda dos múltiplos, obras de diversos artistas liga- “Nesse momento difícil, que temos um governo inimigo
dos à casa, é outro caminho que tem ajudado. Cursos, da cultura, estamos pensando que tipo de questões
residências e os aluguéis pagos pelos artistas que ali queremos trabalhar, que discussões queremos fazer,
trabalham representam outra parte da arrecadação, mas com ousadia e sem ter amarras. Discussões sobre
não o suficiente para fechar as contas. Neste sentido, a cidade, questões de gênero e raciais, feminismo e
o 397 pensa em possibilidades como a retomada do meio ambiente, sempre olhando com atenção para as
Surpraise, a realização de um crowdfunding perma- pessoas que estão na mira de um modo geral”, diz Rivitti.
nente e a criação de parcerias com outros coletivos Nestes 16 anos de estrada, tentar fazer uma lista
e instituições da cidade – sejam museus, galerias ou dos artistas que passaram pelo Ateliê397 seria tarefa
universidades –, sem que isso signifique uma diminuição quase impossível. Entre nomes menos conhecidos e
na autonomia do Ateliê. consagrados, centenas de pessoas tiveram parte de
Outro objetivo neste ano de 2020 é estabelecer um suas formações ou trajetórias marcadas por alguma
diálogo mais forte e horizontal com o bairro da Pompeia e prática ou experiência vivida neste espaço indepen-
seus moradores. Para isso, segundo Rivitti, é preciso tanto dente paulistano. “A arte demanda formação e bons
ir às ruas e praças quanto atrair as pessoas para dentro profissionais”, conclui Rivitti. “E precisa de tempo, não
do galpão. “E um dos desafios é achar uma linguagem é imediata. Então esse processo que o ateliê sempre
em que a gente se reconheça e que esses moradores propiciou, com os alunos, artistas, professores e fre-
AMALIA COCCIA também se reconheçam. Não adianta achar que vamos quentadores, resultou no amadurecimento de muita
iluminar as pessoas com a ideia de arte contemporânea, gente boa que está por aí. É um trabalho longo e que
deve continuar.”
com uma mentalidade de especialista que quer muito mais
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