Page 56 - ARTE!Brasileiros #50
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NAS BORDAS ALI
Muitos projetos chegam
nas periferias ditando
regras, com uma suposta
’’
superioridade de quem
tem informação e dinheiro.
Nossa ideia sempre foi outra
ANDRÉ KOMATSU
Atelier de poesia
visual (atividade
cólera e alegria)
– nove múltiplos em cada, um produzido por cada artista iniciará também um programa de concessão de bolsas
–, através de uma parceria feita com a galeria Carbono, a ser financiado por apoiadores e futuros associados.
que segue comercializando os trabalhos. Os R$ 180 mil Se os resultados deste mais de um ano de existência
reais arrecadados até agora possibilitaram a contratação da ali ainda podem soar tímidos numericamente, no que
de alguns serviços de apoio, o pagamento de ajudas de se refere à quantidade de frequentadores dos cursos e
custo para artistas e parceiros, a oferta de lanches aos encontros (segundo os próprios artistas), eles têm se
alunos dos cursos e a realização de um “encontrinho” e mostrado notáveis nas redes criadas para a consolidação
um “encontrão”, como ficaram intituladas as atividades e continuidade do projeto. Isso ficou claro, por exemplo,
semestrais que reúnem coletivos e moradores para quando o grupo passou a ser chamado para as reuniões
debates, conversas, shows e outras apresentações. de coletivos da região: “Sentimos que eles estão confiando,
Para 2020, além de novos cursos e dos encontros, vendo que o trabalho é consistente e que estamos lá de
o projeto “sábado ali” vai levar à CT, semanalmente, verdade. Foi uma vitória do projeto”, diz Dunley.
convidados para ministrarem aulas e participarem de A trajetória já deixou claro, também, que o plano
conversas com formatos e temas variados – os parti- inicial de permanecer dois anos na CT e depois seguir
cipantes foram pensados pela ali a partir de demandas para outra região deve ser repensado. “Serão pelo
da própria comunidade. Nomes como Lenora de Barros, menos quatro anos, até para criar bases para que o
Noemi Jaffe, João Bandeira e Tiago Mesquita partici- projeto siga funcionando depois”. Outra constatação,
parão destes eventos que serão realizados aos sábados reforçada pelos recentes acontecimentos no país, é
no Centro de Formação. de que um projeto como a ali vai seguir existindo como
Entres os cursos, estão programados um de poesia resistência, fora de qualquer “zona de conforto”, como
visual, um ateliê aberto, um sobre história e produção conclui Komatsu: “A gente está em um cenário em
de videoclipes de Rap, um de história da arte e desenho, que o governo vê todo movimento social e cultural
um na intersecção entre fotografia e arquitetura e um como inimigo e tenta impedir qualquer manifestação
sobre formatos da arte contemporânea. Alguns deles de reflexão. A ideia é criar soldados, criar uma unidade
serão ministrados não só pelos membros da ali, mas básica, estabelecer a ordem, e não criar diversidade,
em parceria com professores convidados, de fora ou reflexões, divergências, problemáticas. E a gente, na
locais – como Evandro César, Lucas Lins e o grafitei- direção contrária, acredita que a arte é um caminho de
ro Link (aka muSeu), do Luau dos Loucos. A ali : leste refletir e de estar crítico ao entorno”.
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