Page 25 - ARTE!Brasileiros #50
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O que teria ocorrido com a produção de
Tarsila do Amaral a partir dos anos 1930 que fez
com que perdesse o vigor tão característico
que demonstrava em seus trabalhos iniciais?
Na página anterior,
Autoretrato de cabelo
curto, 1923. À esquerda,
Saci e três estudos de
bichos, 1925
à ordem internacional, que angariou vários adeptos no e do surrealismo. Ora, entre a pintura pau-brasil e a
Brasil. O “pecado” de Anita foi não ter alinhado sua pro- pintura antropofágica existe um abismo considerável.
dução realista e sintética do retorno à ordem, à temática Enquanto a primeira enfatiza a necessidade da lógica e
nacionalista, tão cara ao meio intelectual brasileiro da da razão para encetar a obra de arte, o segundo aposta
época. Independente daqueles que a marginalizaram no irracional, no subterrâneo da memória pessoal e
a partir de 1917, é forçoso afirmar que Malfatti seguiu coletiva para se articular. Felizmente Tarsila conseguiu
fiel aos novos encaminhamentos pensados para sua pular entre uma margem e outra da arte moderna sem
produção, constituindo uma obra que – independente alterar a qualidade de sua produção. Porém, mesmo que
de gostarmos ou não – tem lá sua coerência. suas obras da fase antropofágica se mostrem ainda tão
Com Tarsila isso não ocorreu. É interessante aten- significativas quanto aquela do período “pau-brasil”, a
tarmos para a sucessão de fases que ela atravessou, de recepção que obteve da intelectualidade modernista
1923 ao início da década seguinte, filiando-se a vertentes parece não ter sido a mesma.
opostas entre si, dentro do quadro da vanguarda inter- Porém, o pulo do racionalismo de Léger e cia. para
nacional dos anos 1920. Vejamos: da fase “pau-brasil”, a metafísica de De Chirico, não foi o único naqueles
encantadora – e que soube responder às demandas gloriosos anos de Tarsila. Na visita à União Soviética, de
por uma arte brasileira moderna, recebendo acolhida repente ela dá outro salto (estético/ideológico), jogan-
FOTOS: HUGO CURTI pofágica, em que supostamente se esqueceu da rigorosa se opunha, tanto à racionalidade das vertentes cons-
positiva junto à crítica –, Tarsila lançou-se à fase antro- do-se nos braços do realismo socialista, vertente que
dimensão analítica da sua primeira fase para mergulhar trutivas, quanto aos mistérios do surrealismo, ambas
nos ensinamentos da pintura metafísica de De Chirico
emanações da arte “burguesa” para os parâmetros
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