Page 75 - ARTE!Brasileiros #49
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Prazeres de Caucaia, e que deu origem ao município   entrevistando as mulheres, percebeu que para elas
                     do mesmo nome, na cidade de Fortaleza. Ele está intei-  esta não era uma questão. Encontrou, em contrapar-
                     ramente envolvido nessa cultura, realmente dedicado.   tida, uma outra história muito mais rica, a potência
                     Mora com a comunidade, e de uma forma autêntica, não   nessas mulheres, que tinham deixado isso para trás e
                     de escolha marqueteira como alguns artistas acabam   encarado a vida com enorme força própria. Tem fotos
                     adotando. Ele usa a linguagem do trabalho corporal dos   e depoimentos maravilhosos.
                     índios na interseção com a fotografia, traz o índio para   Gostei de muita gente. A Virginia Pinho que fez o tra-
                     o presente, no seu próprio espaço, porém atento às   balho sobre Maracanaú, onde tinha aquele necrosario
                     questões contemporâneas.                          que depois foi extinto, mas que quem morava continua
                     Aí você tem um artista como Rian Fontenele, mais con-  lá. As pessoas criaram um vínculo com aquela região e
                     solidado, com uma obra maior, e que, no entanto, não   não saem daquele lugar, que foi uma prisão para eles.
                     tem a visibilidade que, na minha opinião, deveria ter.   Todas as obras já eram existentes, não houve trabalho
                     Por isso, também procurei mostrar trabalhos de várias   comissionado. Apenas Nivardo Victoriano, que tinha
                     vertentes. Haroldo Saboia, por exemplo, fez um vídeo   uma produção de fotos menores, e aí fizemos uma
                     onde mostra cidades no interior do Ceará cujos nomes   sugestão de ampliar as fotos. Ele trabalha com a dor.
                     são Deserto, Prazeres, Miragens e Passagens.      O que me chama a atenção é que a produção do cea-
                     Diego de Santos apresenta conchas queimadas, peque-  rense é muito poética. Todas as obras tem uma preo-
                     nas esculturas, trazendo a ideia da especulação imobi-  cupação de questionar os problemas, o ambiente, o
                     liária, onde o avanço queima as casas e os moradores   status quo, mas com uma pegada poética inesperada
                     saem da suas “casas-conchas” deixando tudo para trás.  para mim. Eles têm histórias, cordéis, bordados.
                     A Bia de Paula também, com Todo filho é filho da mãe.   Quando mostrei os trabalhos, me comentaram: “Nossa,
                     Quando, começou seu trabalho, queria fazer algo sobre   como parece com Leonilson”. E eu falei: “Não. É que o
                     a ausência dos pais nos lares, porém, à medida que foi   Leonilson pertence a este lugar”.


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