Page 80 - ARTE!Brasileiros #49
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PRÊMIOS MARCANTONIO VILAÇA






             ALINE MOTTA E O MERGULHO


             PESSOAL NA MEMÓRIA COLETIVA





             UMA DAS VENCEDORAS DO 7º PRÊMIO MARCANTONIO VILAÇA, ARTISTA MULTIMÍDIA PARTE DE UMA
             PROFUNDA PESQUISA SOBRE SUA HISTÓRIA FAMILIAR PARA TRATAR DE GRANDES TEMAS COMO
             ESCRAVIDÃO, HERANÇA AFRICANA E UMA ESTRUTURA PATRIARCAL QUE PERMANECE NO BRASIL ATUAL


             POR MARCOS GRINSPUM FERRAZ




             A JORNADA DA ARTISTA Aline Motta à procura   travessias além-mar para Portugal, Serra Leoa e
             de suas raízes e dos vestígios de seus antepas-  Nigéria. E aprofundaram, de diferentes modos,
             sados é, sem dúvida, uma empreitada pessoal.   uma pesquisa sobre a história familiar de Motta
             O resultado, no entanto, diz respeito à memória   e, ao mesmo tempo, sobre a herança africana na
             coletiva de milhares de famílias brasileiras cons-  formação do Brasil.
             truídas (ou destruídas) no violento processo de   No último mês de setembro a artista foi agraciada,
             formação do país, baseado na escravidão e na   ao lado de Dalton Paula, Dora Longo Bahia, Ismael
             estrutura patriarcal.                       Monticelli e Rodrigo Bueno, com o Prêmio Marcan-
             “Levou um tempo até que eu adquirisse alguma   tonio Vilaça, em sua 7  edição. Neste contexto, a
                                                                            a
             maturidade e centramento psíquico para lidar   ARTE!Brasileiros conversou com Motta sobre sua
             com questões tão profundas e difíceis que dizem   trajetória e produção. Leia abaixo.
             respeito a minha própria história e família”, conta a
             artista em entrevista à ARTE!Brasileiros. Esse tempo   ARTE!Brasileiros — Seu trabalho parece ter caminhado,
             de maturação incluiu não só alguns primeiros tra-  ao longo dos anos, de modo mais contundente para dis-
             balhos artísticos que tratavam de outros temas,   cussões sociais e políticas. Elas não estavam ausentes
             realizados especialmente a partir do início desta   anteriormente, mas pareciam menos explícitas do que
             década, mas também uma vasta trajetória como   as preocupações formais e de linguagem. Faz sentido
             continuísta de cinema, iniciada em 2001.    pensar assim? Como você enxerga essa sua trajetória?
             Foi a partir de 2016, quando teve o projeto Pon-  ALINE MOTTA — Certamente discussões em torno de
             tes sobre Abismos selecionado pelo programa   questões raciais foram ganhando corpo no meu
             Rumos, do Itaú Cultural, que Motta, hoje aos 45   trabalho paulatinamente, à medida que eu me sen-
             anos, passou a se dedicar em tempo integral aos   tia mais confiante e preparada para abordar esse
             trabalhos autorais, com uma produção multimídia   assunto com o rigor e pesquisa que eu julgava
             que não deixou de lado o cinema, mas se desdo-  necessários. Isso levou um tempo até que eu adqui-
             brou também em instalações, fotografias, textos,   risse alguma maturidade e centramento psíquico
             publicações e performances.                 para lidar com questões tão profundas e difíceis que
             Além do projeto para o Rumos, obras como    dizem respeito a minha própria história e família.
             (Outros) Fundamentos, Se o Mar Tivesse Varan-
             das, Filha Natural e Jogo da Memória – este último,   Através de uma pesquisa pessoal, sobre memória familiar,
             vencedor da Bolsa ZUM do IMS e ainda em desen-  você trata também de um vasto universo da memória
             volvimento – levaram a artista a diversas cida-  coletiva, que tem a ver com as violências históricas na
             des do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia e a   formação do Brasil, com a escravidão, com o patriarcado.


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