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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO
CARLOS MOTTA APONTA RAÍZES DO
PRECONCEITO E RACISMO NO SÉCULO 21
ARTISTA COLOMBIANO RADICADO EM NOVA YORK APRESENTA NA VERMELHO TRAÇOS DA
INQUISIÇÃO E DA ESCRAVIDÃO COMO CHAVES NA COMPREENSÃO DO ATUAL MOMENTO
POR FABIO CYPRIANO
“NEGRO, ESCRAVO, AFRICANO, SODOMITA,
FEITICEIRO, EXILADO”, afirma Paulo Pascoal, o
ator que interpreta José Francisco Pereira, seques-
trado da República do Benim para Pernambuco,
no século 18, e vendido como escravo. Lá, usava o
sincretismo como meio de sobrevivência. Em 1731,
Pereira foi julgado pela Inquisição de Lisboa por
feitiçaria e sodomia.
A fala na cena de Corpo Fechado: a obra do diabo,
de Carlos Motta, na galeria Vermelho, sintetiza
as questões que envolvem o Brasil hoje, raízes
do racismo fascista que polarizam o país. Motta,
contudo, vai mais fundo no filme, associando à
escravidão com a inquisição de forma clara através
da Carta 31 - O Livro de Gomorra, escrito em 1049
por São Pedro Damião, considerado o primeiro
texto da Igreja Católica que condena as práticas
homoeróticas.
Corpo Fechado: a obra do diabo foi realizado e
exibido me Portugal, no ano passado, em uma
encenação sofisticada que mescla além da his-
tória de Pereira e da Carta 31, trechos das Teses
sobre o conceito de história, de Walter Benjamin
(1892 – 1940), texto canônico da crítica sobre as
convenções do historicismo. Próximo do filme, está
a projeção do vídeo “Eu marco minha presença
com minhas próprias crenças”, onde Paulo Pascoal
é entrevistado por Motta e conta as dificuldades
que passou quando assumiu sua homossexuali-
dade em Angola, seu país natal. ACIMA, CARLOS MOTTA, MIDWAY UPON THE JOURNEY. AO LADO, CORPO FECHADO:
Essa espécie de espelho multiplicado, onde a RETRATO DE JOSÉ FRANCISCO PEDROSO COM SUA “BOLSA DE MANDINGA”.
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