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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO






             SEMPRE GAY, A VOZ


             TRANSGRESSORA DE



             JOVENS ARTISTAS




             LIVRES DAS AMARRAS TÉCNICAS, ELES ESTÃO COMPROMETIDOS
             COM A EXPERIMENTAÇÃO LIBERTÁRIA DE UM UNIVERSO PROIBIDO



             POR LEONOR AMARANTE


             SEMPRE GAY: MENINAS DE AZUL E MENINOS DE ROSA aborda con-
             ceitual e artisticamente a resistência de jovens artistas
             diante de situações de ódio, discriminação e apagamentos.
             Organizada pela Transarte, galeria voltada a projetos com
             temática LGBTQ e à arte transgressora, a exposição reúne
             Liz Under, Bia Leite, Eduardo Mafea e Pedro Stephan, com
             trabalhos de pura militância.
             A arte contemporânea desenvolveu uma estratégia de
             aproximação com o cotidiano. A narrativa de todos eles não
             separa a arte da vida, e a contrassenha para a sobrevivência
             é manter-se em estado de alerta permanente diante de uma
             sociedade violenta para gays, mulheres, negros, indígenas
             e pobres. Os trabalhos nascem espontaneamente, sem se
             preocupar com a fatura, e a maioria deles espelha situações
             vivenciadas. Liz Under, 24 anos, abre a exposição com fotos
             de uma performance com lençóis vermelhos com fendas
             vaginais, realizada em seu estúdio em Salvador, onde morava
             e trabalhava. O ensaio protagonizado por ela coloca o
             espectador como voyeur de uma imersão sensual. Liz vive
             em Araraquara e nos três anos que passou em Salvador
             estudou e começou na arte fazendo grafites pelas ruas e
             cartazes lambe-lambe. Foi lá que experimentou na pele o
             desafio de fazer uma arte transgressora. “Mesmo dentro
             do Museu de Arte Moderna, onde fiz curso de litografia, não
             escapei de uma sociedade opressora”. Sua aversão pelo
             mundo machista inspirou um desenho com a imagem de um
             gato com um pênis atravessado na boca, que irritou seus
             colegas de curso. “Começaram a me tratar mal, a chamar
             o gato de Miserável. A pressão era tal que eu chegava a me
             vestir de homem para conseguir me impor naquele ambiente
             machista e discriminatório”. Liz também sofreu com as
                                                    LIZ UNDER, MUDO, 2016
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