Page 16 - ARTE!Brasileiros #48
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BIENAIS BIENALSUR ENTREVISTA











             centenas de projetos de artistas consagrados ou
             não e, a partir daí, selecionamos e construímos
             núcleos convergentes. Este ano surgiram, a partir
             de inúmeras dessas propostas, temas que apre-
             sentavam sinergia.
             Conseguimos que algumas cidades se alinhassem
             conceitualmente através, por exemplo, do eixo
             “Modos de Ver” ou “Memórias e Esquecimento”,
             outras no tema “Trânsitos, Migrações e Exílios”.
             O trabalho da artista brasileira Rosângela Rennó
             —  a instalação Good Apples, Bad Apples, montada
             no MUNTREF — assim como o de Betsabé Romero,
             formam parte do eixo “Memórias e Esquecimento”,
             mas também estão em intersecção com a pro-
             blemática do “Monumento / Anti-monumento”.
             Um artista propõe seu projeto e é selecionado,
             a partir daí pensamos sua obra e vemos em que
             instituição ou cidade ela pode funcionar melhor.   local, mas sim, na maioria das vezes, pelo seu
             Por exemplo, o artista colombiano Iván Argote   valor simbólico ou sua significação histórica. Por
             tinha proposto seu “Ateliê de Ativismo para Crian-  exemplo, a mostra que se montou em Potosí, na
             ças”, uma experiência que tinha levado adiante   Bolívia, que não é uma cidade que está dentro
             na França. Como BIENALSUR, consultamos se   do circuito tradicional da arte contemporânea,
             ele estaria interessado em montar o projeto em   somou-se, nesta edição, à mostra do Centro Paco
             Benim, na África, para ser realizado com um dos   Urondo de Buenos Aires, ambas trabalhando o
             nossos parceiros, a Fundação Zinsou, que se   conceito de “fricções”, sejam políticas, estéticas
             interessou porque trabalha com projetos muito   ou identitárias.
             voltados para a comunidade. Foi um êxito e deu   Assim, colocando uma exibição no MAXXII de
             resultados potentes e comoventes.           Roma, claramente identificado como centro de
             Outro caso similar foi o da artista Paola Monzillo,   arte contemporânea, no MUNTREF em Buenos
             do Uruguai, que se inseriu em Marrakesh através   Aires ou na fronteira entre Colômbia e Venezuela,
             de uma residência e uma mostra depois, no Pro-  como já fizemos, acreditamos estar construindo
             grama Anual do MACCAL, que acabou, além disso,   novas lógicas de produção e consumo de bens
             incorporando seu trabalho na coleção.       simbólicos e culturais.


             É uma forma, na prática, de contribuir com a   AB - Você entende que estão alcançando os objetivos,
             integração cultural dos países que participam   em relação ao aporte que querem trazer para o sistema
             da plataforma, da rede que vai se construindo.   contemporâneo da arte?
             Vai além do fazer artístico, já que como projeto   DW – Sim, BIENALSUR trabalha em diálogo, em
             cultural que nasceu no Sul se transforma num   rede e associativamente. Estabelece sistemas
             “operador” (a partir do espaço singular da cultura),   de colaboração entre artistas, curadores e ins-
             da realidade internacional. As escolhas e as trocas   tituições e essas relações de fato têm crescido,   FOTOS PATRICIA ROUSSEAUX
             não estão regidas pela quantidade de público ou   apesar das dificuldades orçamentárias enormes
             a quantidade de exibições que aconteceram no   da primeira edição para esta.


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