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HAVER, SEM HORIZONTE, 2019. CHAPAS DE ALUMÍNIO
Em Matanzas, novo território da Bienal, Marilá Dardot cubanos, aparece em desenhos gestuais, esculturas ou
faz valer a utopia de diluição da arte na vida cotidiana. instalações com objetos que se nutrem de várias poéticas.
“Meu trabalho é um segmento da residência que fiz no Como afirmou o geógrafo Milton Santos, a arte de rua,
México, em 2015, no momento do episódio dos estu- naturalmente urbana e pública, traz forte carga política
dantes desaparecidos. Escolhia manchetes de jornais por ocupar espaços fora dos campos institucionaliza-
e diariamente intervinha com escritos executados com dos da arte e por tocar as realidades sociais de perto.
água sobre um muro de concreto. À medida em que os Partitura, instalação de Carlos Garaicoa, desenvolvida
escrevia iam se apagando”. Em Matanzas, optou pela por dez anos, sintetiza esse pensamento. A obra tem a
performance Volver, em que escreve repetidamente participação de 70 músicos de rua, de Madri e Bilbao.
com água a frase A la esperanza vuelvo em uma parede Trata-se de uma orquestra com 35 vídeos de músicos
na rua. O trabalho de Marilá mudou nos últimos anos, de rua executando peças diferentes. A partitura final,
“passando de uma visão otimista ligada à literatura, do músico cubano Esteban Puela, enfeixa as variadas
poesia, ficção e natureza, para uma visão mais pessimista sonoridades e é transmitida para a grande tela digital
diante de fatos políticos do Brasil. “Houve um despertar que assume a direção da orquestra. Los Carpinteros,
político em minha geração, assim como em mim mesma”. em uma de suas últimas atuações como dupla, coloca
Por último, três artistas cubanos com carreiras esta- em Alacenas, de 2016, crítica sobre a devastação das
belecidas e poéticas identificáveis, reunidos na mostra tormentas que invadem o Caribe. Os sons emitidos
Museus Interiores, no Museu Nacional de Bellas Artes. pelos furacões são gravados, reproduzidos e colocados
Kcho (Alexys Leyva Machado), Carlos Garaicoa e Los em velhos armários de cozinha que emitem o barulho
Carpinteros. O vôo internacional de Kcho começa com aterrador do fenômeno.
Regata, instalação de 1993, feita aos 23 anos, um ano Esses artistas formam um núcleo lógico e de consenso,
antes de entrar para o acervo do Museu Reina Sofia, em mas vale lembrar que há pelo menos duas dezenas de
Madri, do MoMa e do elenco da galeria Barbara Gladstone, outros, igualmente respeitados profissionalmente, que
de Nova York. Barco, símbolo do imaginário coletivo dos gravitam em mostras internacionais.
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