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MANAF HALBOUNI, UPROOTED, 2014. CARROCERIA DE AUTOMÓVEL, LIVROS E OUTROS OBJETOS


             Documenta de Kassel. Em Havana, a curadoria é assi-  sonho de morar em uma casa nunca se concretizou, ele
             nada por sete curadores cubanos capitaneados pelo   transforma o carro em residência-ateliê, “onde resolvo
             crítico e intelectual Nelson Herrera Ysla, além dos 21   tudo”, exposto na Bienal de Havana como arte.
             estrangeiros convidados.                          O país também está na pauta de Lais Myrrha com Cro-
             O momento é de reflexão, transição, desconforto e   nografia dos Desmanches, obra in progress que  desen-
             mudanças, com alguns curadores assumindo cargos em   volve desde 2012. “O trabalho surge quando percebo o
             outras instituições culturais ou simplesmente partindo   boom da especulação imobiliária ao andar pelas ruas e
             para uma carreira solo. As bienais fazem história des-  me deparar com cinco casas destruídas de uma única
             fazendo as realizações e significações anteriores. Mas,   vez ”. São imagens de demolições, locais abandonados,
             que singularidades ainda podem provocar surpresas em   bustos, portos, algumas não identificadas”.
             meio ao acúmulo excessivo de bienais, feiras, festivais,   A Bienal de Havana aposta nos jovens artistas. Nesse
             residências? As obras distribuídas por toda Havana, além   contexto se encontra Ruy Cézar Campos, cearense que
             de Matanzas, Sancti Spiritus, Cienfuegos e Camagüey   trabalha diferentes temporalidades em três vídeos:
             estão aplainadas pelo momento internacional.      Circunvizinhas, A Chegada de Monet e Pontos Termi-
             Na sede da Bienal, a performance Tejido Colectivo de   nais Emaranhados. Todos integrantes da série A Rede
             Alexia Miranda polariza as atenções e ocupa o átrio   Vem do Mar, pesquisa de um ano entre Brasil, Angola e
             do Centro Wifredo Lam. Com a ideia de responder ao   Colômbia.  “Tento estabelecer vínculo fenomenológico
             presente, com possíveis noções de futuro, alerta para   entre a infraestrutura dos cabos submarinos e as pla-
             a urgência de transformações sociais. Os círculos tran-  taformas de desembarque dos mesmos. Fortaleza é a
             çados coletivamente, em vários padrões e ritmos, são   cidade mais importante na rede do Atlântico Sul com as
             ferramentas na tentativa de restaurar momentos de   quais está conectada, Sangano, em Angola e Barranquila,
             paz no violento El Salvador. A gentrificação das grandes   na Colômbia”. Operando entre tecnologia e estética, o
             metrópoles chegou a Dresden, cidade alemã onde mora   artista se expressa entre performance, documentário
             Manaf Halbouni, artista sírio, de 34 anos. Como seu   e ficção, com viés político social.


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